Incêndios florestais de proporções históricas arrasam Eubeia, a segunda maior ilha do país, e forçam remoção emergencial de moradores. Fogo destrói casas, mata animais e queima oliveiras milenares. Cidadãos reclamam de inação das autoridades e não escondem a revolta
Um desastre absoluto. Dessa forma, o funcionário público Thodoris Baklavas, 45 anos, descreveu a situação no vilarejo de Kirinthos, sua terra natal, em Eubeia — a segunda maior ilha da Grécia, situada 200km ao nordeste da capital, Atenas. “Se você observar o mapa de Eubeia, do povoado de Prokopi, no norte da ilha, até Istiaia, tudo foi arrasado pelo fogo”, disse ao Correio. Exausto após um dia intenso de trabalho voluntário em Kirinthos, onde passa as férias, ele relatou que muitas casas estão destruídas.
“O tamanho das labaredas é imenso. As autoridades deveriam ter enviado à região pelo menos quatro aviões carregados com água para ajudarem a conter as chamas, diariamente. Em vez disso, mobilizaram um ou dois helicópteros. Nosso vilarejo não foi atingido porque houve muito apoio entre os moradores, mas o governo não esteve presente”, desabafou Baklavas. Para tentar mitigar a tragédia humanitária, ele organizou a distribuição de bens de consumo e de água com a ajuda de uma empresa de material de construção.
Quase metade da Ilha de Eubeia acabou consumida pelos incêndios. Pelo menos 210 mil pessoas vivem ali, a maioria nas cidades. Entre 2 mil e 3 mil moradores de vilarejos e turistas tiveram de ser removidos às pressas. Um vídeo do resgate de um grupo de cidadãos viralizou na internet: ao fazer um “passeio” pela embarcação, sem vidros, a câmera do celular mostra a floresta sobre as colinas ao redor engolida pelo fogo. “Estamos em segurança dentro do ferry. Dor grande para nosso país. Para onde quer que você olhe para o fogo, há mais a ser queimado”, escreveu, no Facebook, Stravros Dem, autor da filmagem, feita na última sexta-feira.
Uma região equivalente a 56 mil campos de futebol foi arrasada pelas chamas. Ontem, um avião hidrante caiu; o piloto escapou com segurança. Um bombeiro ficou ferido ao tentar debelar um foco reavivado.
No vilarejo de Pefki, moradores se refugiaram na praia e dormiram em espreguiçadeiras ou dentro dos carros. Enquanto isso, bombeiros e os próprios cidadãos travam uma luta muitas vezes inglória para apagar as chamas, que carbonizaram oliveiras de mais de 2 mil anos. “A batalha continua”, disse o vice-ministro grego da Proteção Civil, Nikos Hardalias, ao anunciando “mais uma noite difícil”.
Em entrevista à agência France-Presse (AFP), Yannis Selimis, morador de Gouves, cidade no norte de Eubeia, mostrava desespero. “Nas próximas quatro décadas não teremos trabalho e, no inverno, nos afogaremos nas águas, sem florestas para nos proteger. Estamos nas mãos de Deus. O Estado está ausente. Se as pessoas forem embora, as cidades, com certeza, vão queimar”, advertiu. “A situação é dramática. Vamos todos acabar no mar”, disse outro morador, Nikos Papaioannou. (CB)