Miguel Lucena*
As pessoas até riem de quem pede voto com base em propostas e não na troca de favores e vantagens. Na campanha eleitoral, quem não tem dinheiro vai ficando para trás.
Um velho conhecido, garçom aposentado, viu uma propaganda minha em Samambaia, aproximou-se da equipe que panfletava e pediu material para trabalhar. Fiquei emocionado quando soube disso. Imediatamente, telefonei-lhe e me pus à disposição para conversar com os familiares e amigos dele.
No dia seguinte, recebi uma ligação do velho conhecido. Ele dizia que a coisa estava difícil e precisava pagar umas continhas. Na mente dele, a imagem não era mais daquele delegado de quem ele gostava, mas do candidato que devia pagar para se tornar deputado.
O sistema é montado para alimentar interesses. Começa na eleição e continua no exercício do mandato, porque o parlamentar repete o mesmo procedimento do eleitor, cobrando o valor do voto ao chefe do Poder Executivo.
Depois de cobrar para apoiar e votar, o eleitor fica fazendo beicinho, xingando quem ele elegeu por interesse momentâneo. É por isso que os parlamentares continuam comendo chambaril e bacalhau com o dinheiro do povo.
O ser humano é um fingidor. Em sua lógica interesseira, nem Iemanjá – a Rainha das Águas – escapa: “Seja tenente ou filho de pescador/Ou um importante desembargador/Se der presente, é tudo uma coisa só…”, diz o verso da música de Gerônimo. Agraciou, não importante quem seja, estará abençoado.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.