Miguel Lucena*
Se o governador não ficar de olhos bem abertos, corre o mesmo risco de Agnelo Queiroz, que governava com um chupa-cabra grudado no telefone do gabinete.
O governador Ibaneis, se não se prevenir, pode enfrentar algumas surpresas em suas caminhadas pelas cidades, como a que ocorreu em Samambaia. Alguns dirão que são manifestações espontâneas, mas eu não acredito nesses acasos. Indignação com a rede pública de saúde é algo permanente, que perpassa todos os governos, porquanto o sistema só presta para quem não o utiliza. O coro dos descontentes, no entanto, é organizado.
Roriz, que sempre molhava a goela antes de ir para as inaugurações, acabava caindo nas provocações, como a feita por uma manifestante solitária, de camiseta vermelha, a quem ele chamou de “crioula petista”. Fosse hoje, a frase teria viralizado e virado meme na internet, mas na época rendeu manchetes, charges e marchinha do bloco carnavalesco O Pacotão.
Na campanha passada, mesmo em reuniões menores, sempre aparecia alguém para dizer que, apesar de tudo, o governo Rollemberg tinha feito muito nisso e naquilo, e, mesmo não tendo construído estradas novas, havia “tapado os buracos da velhas”. Eu só ria. Eram as missas encomendadas, que aparecerão em todos os lugares daqui para frente.
É importante que a equipe próxima ao governador seja capaz de detectar sinais de que cairá mosca na sopa. Há insatisfações naturais com muitas coisas, mas já é possível afirmar que muitos cabos eleitorais e líderes comunitários, além de influenciadores políticos, se sentiram escanteados na ocupação de cargos no governo. Esses darão trabalho. Se a equipe organizadora dos eventos não conhecer quem é quem em cada área, até para uma conversa de pé de ouvido com os insatisfeitos, as broncas permanecerão, com as mesmas chateações de sempre.
Nenhum político gosta de tomar vaia, e só toma quando quem está perto deixa correr frouxo, porque, mesmo ocupando o espaço de alguém que seria eternamente grato, no fundo torce contra por motivos diversos, entre os quais ideológicos ou corporativos.
Se o governador não ficar de olhos bem abertos, corre o mesmo risco de Agnelo Queiroz, que governava com um chupa-cabra grudado no telefone do gabinete