JP RODRIGUES/ESPECIAL PARA O METRÓPOLES/REPRODUÇÃO
No dia em que bares e restaurantes voltaram a funcionar no Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha afirmou que os secretários do GDF que atuam nas áreas de segurança estão orientados a apertar a fiscalização para garantir que as medidas sanitárias estabelecidas em decretos sejam cumpridas com rigor. E que a desobediência terá consequências duras para os responsáveis, como a aplicação de multas e até mesmo a condução dos infratores para registro de termo circunstanciado nas delegacias da Polícia Civil.
Segundo disse Ibaneis em entrevista à coluna Grande Angular, o governo chegou ao limite da estratégia adotada de tentar conter a pandemia por meio da suspensão das atividades econômicas e do confinamento social. De a cordo com o governador, as medidas passaram a não ter o efeito necessário porque a maioria das pessoas já não estava mais cumprindo as determinações.
Ibaneis reafirmou que, nos próximos dias, o GDF terá 800 leitos de UTI à disposição para ajudar no tratamento de enfermos que foram infectados com o novo coronavírus. Mas que, mesmo esse número hoje, com margem de segurança, não será suficiente se as pessoas não se conscientizarem sobre a importância de cumprirem os protocolos de higiene e de prevenção estabelecidos pelas autoridades de saúde. Entre os cuidados, estão o uso de máscara, de álcool em gel e o distanciamento social sempre que possível.
O governador foi duro ao se queixar da promessa não cumprida da Fecomércio de construir um hospital de campanha para atender 400 pacientes de Covid-19. Mas disse que, apesar da frustração, o GDF tem a obrigação e a capacidade de cuidar de seus doentes.
Segundo dados atualizados, até o início da noite desta quarta-feira (15/7), 893 pessoas morreram por complicações em decorrência da Covid-19. Foram registrados 74.223 casos de pessoas infectadas pela doença até agora.
Bares e restaurantes reabriram hoje. Qual é a expectativa do senhor diante do desafio de retomar as atividades não essenciais e enfrentar a pandemia com números crescentes no DF?
Ibaneis: Brasília está fechada desde 10 de março. A gente passa por um processo de quase encarceramento da população. Então chega um limite, os estudos internacionais dizem isso, que você não consegue manter as pessoas confinadas por mais de 65 dias. Chegamos a um ponto em que as nossas medidas restritivas não estavam tendo efeito. As pessoas já estavam na rua e de forma desorganizada. O que a gente tenta fazer agora é uma reabertura organizada, com regras, com fiscalização, com a população nos ajudando a fiscalizar, de modo que a gente possa ter uma determinada tranquilidade.
Essa tranquilidade existe?
Ibaneis: Essa tranquilidade é uma dúvida ainda. Assim como é aqui em Brasília, é no mundo todo. Você precisa ter, realmente, um ambiente de fiscalização, de utilização de máscaras – as máscaras reduzem a proliferação do vírus em 40%, já tem pesquisa nesse sentido. Então, tudo isso é necessário que se faça de forma organizada. Nós temos condições de atender a população? Temos. Hoje, nosso sistema de saúde tem condições de atender a população do Distrito Federal. Até porque o DF já está classificado dentro desse platô, e se aproxima, segundo todos os estudiosos, todos os infectologistas, a situação de baixa [da incidência de casos] nas próximas semanas. Agora, se a população for para as ruas de forma desorganizada, como nós vimos em Ceilândia – onde eu tive que fechar – aí nós não vamos ter condições. Nem Deus na causa vai dar jeito, porque teremos uma situação de colapso total do sistema, de uma crise que vai se instalar independentemente de se ter aberto o comércio hoje ou não. Se for desorganizado, se for com aglomeração, se for sem a utilização de máscaras, aí não não tem sistema de saúde que suporte.
O senhor tem dito que, nos próximos dias, o DF terá 800 leitos de UTI para o enfrentamento da pandemia. Isso é certo?
Ibaneis: Temos o Hospital da PM, que vai abrir 100 leitos. Já está contratado e já estão começando a montagem da unidade nesta semana. Nós temos ainda 40 leitos da rede privada. E temos os respiradores que recebemos do Ministério da Saúde e que estão sendo instalados. Então, vamos fechar os 800 leitos até o final de julho, conforme estava programado. Agora, nem esses 800 leitos vão dar conta se a população não estiver organizada e não sair às ruas com os cuidados que se deve ter. O que a gente coloca é o seguinte: ‘eu dou conta de dar para vocês organização e saúde. Mas vocês têm que entender esse limite, porque, se não, nem todos os leitos transformados em UTI vão dar conta’. Nós temos que prestar atenção que leito de UTI não é uma cama com aparelho. Leito de UTI requer a medicação para intubação, que já está sumindo no mercado. Nós já sabemos que esse mercado é difícil e corrupto. Os empresários, a grande maioria, tentam nesse momento de pandemia cobrar aquilo que não deveriam cobrar. Aconteceu com os testes no início e está acontecendo agora com as medicações. E nós precisamos de pessoal treinado também para atender nesses leitos. E não se fabrica pessoal treinado. Então, é bom que a população se atente para isso. Nós temos um limite de colocação de leitos de UTI à disposição da população do Distrito Federal.
O governo vai apertar a fiscalização em relação ao uso de máscaras e de aglomerações?
Ibaneis: Essa foi a determinação. O secretário de Segurança, Anderson Torres, juntamente com o secretário do DF Legal estão autorizados a montar equipe, com policiamento, inclusive, multando as pessoas, retirando as pessoas e as levando a delegacia para fazer o termo circunstanciado. Nós vamos apertar, realmente, porque precisamos agora que a população entenda, seja por bem, seja por mal, que ela tem que colaborar com a saída do Distrito Federal dessa pandemia.
O Sesc se comprometeu a fazer uma doação de um hospital de campanha, mas a doação acabou não ocorrendo. O GDF contava com a medida?
Ibaneis: Uma vergonha que nós temos no Distrito Federal foi a atuação do Sesc neste episódio. Em especial da Fecomércio, através de um dirigente que não cumpriu a palavra. Eu não pedi nada, mas ele se comprometeu e não cumpriu. Então, fica aí uma palavra de muita dureza em relação à Fecomércio e ao seu representante, o Chico Maia, de que ele é um homem sem palavra. A instituição ficou sem palavra no Distrito Federal. Eu estou equalizando a situação. Mas houve uma quebra de confiança, uma quebra no atendimento. Estamos falando de 400 leitos que foram prometidos, sendo grande parte deles, 80, de suporte respiratório, e isso faz falta. Parece que eles fizeram isso para antecipar a nossa reabertura e nos enganaram ao final. Mas, com Deus e com paz, a obrigação é nossa, é do governo e nós vamos atender a população.
O senhor vai reabrir o comércio em Ceilândia a partir da semana que vem?
Ibaneis: A ideia é exatamente essa: abrir a partir de segunda-feira. Mas, antes disso, determinei ao secretário José Humberto [Governo], juntamente com mais alguns secretários, que tenha uma conversa com a associação comercial e os empresários da região, pois não podemos ficar abrindo e fechando todos os dias, porque isso gera, também, instabilidade.
Haverá um esquema misto na volta às aulas: uma parte dos alunos na escola e outra porção acompanhando remotamente. Será possível vencer o ano letivo?
Ibaneis: Olha, a ideia deles, dos que sentaram lá, tanto da área pública quanto da área privada, é que se feche o ano letivo com qualidade para os alunos, pelo menos o que é possível se dar em um momento como este, atentando principalmente para aqueles que precisam participar do Enem e que não podem ficar nas últimas séries. Os outros, nós vamos trabalhar, podendo ser ainda que haja a necessidade de entrarmos em 2021 para que a gente feche o ano letivo.
*Entrevista à coluna Grande Angular – Metrópoles / Colaboraram Isadora Teixeira e Gabriella Furquim