Maria José Rocha Lima[1]
Nunca esquecerei a chegada de Rui Aragão com a sua filha Luiza Aragão, de 4 anos, em Brasília, vindos da Bahia. Os dois estavam tranquilos, integrados. Perguntei pela mãe, e Luiza foi me explicando que ela sofrera um acidente e quebrou o cócix, por isso não veio, ficou de repouso.
O pai, durante os dias em que ficou hospedado na nossa casa, cuidou da criança, sem nenhum sobressalto. Arrumava-a para dormir, umedecendo o ar que estava seco, para que a sua filha dormisse melhor; arrumava-a para ir a um laboratório médico, para fazer visitas; preparava-lhe o lanche; arrumava-a para ir ao mercado, sempre com muito desvelo.
O meu contato com Luiza, durante os três dias em que passaram conosco, foi, apenas, para a curtição: escutar o som do mar nos búzios que tenho na mesa de centro; procurar o livro do Gatinho Perdido; ler a história do Peixinho que não sabia nadar. Aliás, sobre essa história, a menina deu panos para as mangas, exigindo uma explicação plausível para o fenômeno: – Vovó, como pode um peixe não saber nadar?
E antes que eu tentasse responder, ela concluiu:
-Vovó, esse peixe só pode estar maluco.
Feliz e saudável é a criança que chega aos quatro ou cinco anos, nesse ponto do desenvolvimento físico e emocional, com a sua família intacta. E pode ser acompanhada pelos próprios pais, que ela conhece muito bem, pais que toleram ideias, que lhe dão conselhos, broncas, impõem limites e desse modo estabelecem um relacionamento real, firme o suficiente para não temer as tensões naturais às relações. Uma boa medida da boa relação Rui Aragão e sua filha foi que nós dois estávamos discutindo a publicação de uma coletânea, a partir de um arquivo pessoal, com um rico acervo de documentos, e passamos a discutir data para um novo encontro, e Luiza, educadamente, levantou a mão para nos apartear e só depois que o pai a autorizou a falar ela nos lembrou:
-Gente, hoje é dia 22 de julho de 2022.
Para o pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott, “o pai não é somente um símbolo da lei, aquele que deve ser temido e respeitado, como se esses atributos fossem dados de antemão, pelo fato de ele ocupar esse lugar. A pessoa do pai precisa, antes, e como condição para que isso se dê e se estabeleça, ser o homem real que exerce ações concretas de proteção, intervenção e sustentação das relações familiares, e também ter, efetivamente, presença nas brincadeiras e jogos das crianças, conhecendo suas coisas, a preferência de um, o jeitinho do outro”.
Ser pai é uma experiência poderosa, transformadora na vida de quem assume verdadeiramente a paternidade. Obriga os pais a reverem as suas prioridades, reverem os seus projetos de vida e gastarem dinheiro e tempo com coisas que nos parecem banais, como ir ao parque de diversão, limpar crianças em lugares improváveis. E só depois desses muitos exercícios, ficar feliz a cada declaração: “Papai, eu te amo”.
[1] MARIA JOSÉ ROCHA LIMA é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991-1999. É Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Diretora administrativa da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise. Coordenadora do Programa Sonhe Realize da Soroptimist International SI Brasilia Sudoeste.
Rui é um grande pai. Realizado na função. Orgulho para o amigo aqui e exemplo também. Lululalá tem uma sorte enorme do berço de amor que nasceu.
Top demais!!!