segunda-feira, 09/06/25
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Guerra na Ucrânia: as 6 exigências de Putin para acabar com o conflito 

A principal demanda é que a Ucrânia aceite ser neutra e não aderir à Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos). Mas disputas territoriais ligadas a um acordo de paz devem ser resolvidas pessoalmente em encontro entre Putin e Zelensky.

Disputas territoriais entre Rússia e Ucrânia devem ser discutidas pessoalmente entre Zelensky e Putin — Foto: Getty Images/Via BBC
Disputas territoriais entre Rússia e Ucrânia devem ser discutidas pessoalmente entre Zelensky e Putin — Foto: Getty Images/Via BBC

A Turquia se posicionou com bastante cuidado no conflito entre Rússia e Ucrânia, e isso parece ter rendido frutos. Em 17 de março, três semanas depois do início da invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, ligou para o colega turco, Recep Tayyip Erdogan, e listou quais são precisamente as demandas da Rússia para assinar um acordo de paz com a Ucrânia. 

Pouco mais de meia hora depois do telefonema, a BBC entrevistou Ibrahim Kalin, porta-voz e principal conselheiro de Erdogan. Ele faz parte do seleto grupo que acompanhou a conversa entre Putin e o presidente turco. 

As demandas da Rússia podem ser divididas em duas categorias. 

A primeira, com quatro exigências, não parece tão difícil para a Ucrânia, segundo Kalin. 

A principal demanda dessa categoria é que a Ucrânia aceite que deve ser geopoliticamente neutra e não deve aderir à Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos). O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já sinalizou durante o conflito que adotaria tal posição. 

Há outras demandas nessa primeira categoria que parecem ser elementos que principalmente livram a cara do lado russo. São elas: 

Esse último ponto, da “desnazificação”, é considerado profundamente ofensivo para Zelensky, que é judeu e tem parentes que morreram no Holocausto, mas a Turquia acredita que essa exigência seria fácil de ser aceita pelo presidente ucraniano. Talvez porque baste a Ucrânia condenar todas as formas de neonazismo e se comprometer a combatê-las.

Mapa mostra a expansão da Otan desde 1991 — Foto: BBC
Mapa mostra a expansão da Otan desde 1991 — Foto: BBC

Disputas territoriais

A segunda categoria de exigências russas, no entanto, é onde parece haver as principais dificuldades. Na ligação com o presidente russo, Putin afirmou que elas demandariam uma negociação cara a cara entre ele e Zelensky antes de chegarem a um acordo nesses pontos. O presidente ucraniano já disse estar preparado para encontrar o colega russo a fim de negociar pessoalmente um acordo de paz. 

Kalin, conselheiro do presidente turco, deu à BBC muito menos detalhes sobre a segunda categoria de exigências da Rússia. Ele disse apenas que elas envolvem o status da região da Crimeia (anexada ilegalmente pela Rússia em 2014) e da região de Donbas, no leste ucraniano, onde grupos separatistas ligados à Rússia criaram repúblicas independentes em Donetsk e Luhansk.

Regiões separatistas da Ucrânia — Foto: BBC
Regiões separatistas da Ucrânia — Foto: BBC 

Ainda que Kalin não tenha entrado em detalhes, é claro que a Rússia vai demandar que o governo ucraniano abra mão desses territórios separatistas no Leste. E isso seria bastante problemático. 

É possível assumir também que a Rússia demandará que a Ucrânia aceite formalmente que a Crimeia, que pertencia à Ucrânia até a anexação ilegal russa em 2014, passe de fato a pertencer ao território russo. Se essa for a demanda de Putin, seria um remédio bastante amargo a ser engolido pela Ucrânia. 

De toda forma, a anexação russa da Crimeia é um fato consumado, mesmo que a Rússia não tenha o direito legal de possuir a região e também tenha assinado um tratado internacional, antes de Vladimir Putin chegar ao poder, aceitando que a Crimeia fazia parte da Ucrânia.

Ao fim, as exigências de Putin parecem não são tão duras quanto alguns especialistas e algumas autoridades temiam, e dificilmente devem ser obstáculos ante toda a violência, o derramamento de sangue e a destruição que a Rússia infligiu à Ucrânia. 

Dado o controle pesado do governo russo sobre a mídia, não deve ser muito difícil para Putin e seus subordinados apresentarem tudo isso como uma grande vitória. 

Alto número de mortes de militares russos na Ucrânia deve minar poder político de Putin na Rússia — Foto: BBC
Alto número de mortes de militares russos na Ucrânia deve minar poder político de Putin na Rússia — Foto: BBC 

Para a Ucrânia, porém, haverá sérias tensões. Se os detalhes de um eventual acordo não forem analisados com imenso cuidado, Putin e seus sucessores sempre poderão usar esses termos como desculpa para invadir a Ucrânia novamente.

Um acordo de paz pode levar muito tempo para ser resolvido, mesmo que um cessar-fogo pare o derramamento de sangue durante as negociações. 

A Ucrânia sofreu terrivelmente nas últimas semanas, com milhões de refugiados, milhares de mortos e dezenas de cidades e vilas destruídas — a reconstrução do que foi destruído pela Rússia danificou demandará muito tempo e dinheiro. O mesmo acontecerá com o realojamento dos milhões de refugiados que fugiram de suas casas durante o conflito. 

E em relação ao futuro do próprio Vladimir Putin? Há informações não oficiais circulando de que ele estaria doente, incluindo problemas de saúde mental. Questionado se percebeu algo estranho no telefonema, o porta-voz do presidente turco respondeu: de forma alguma, Putin aparentemente foi claro e conciso em tudo o que disse. 

Mas do ponto de vista político,mesmo que Putin consiga apresentar um acordo com a Ucrânia como uma vitória gloriosa sobre o neonazismo, sua posição em casa deve ser enfraquecida. 

Mais e mais pessoas vão perceber que ele se excedeu muito em sua ofensiva contra a Ucrânia, e relatos de soldados que foram mortos ou capturados já estão se espalhando rapidamente pelo país. 

Além disso, o impacto das duras sanções econômicas impostas por potências globais (em razão da guerra) tem atingido duramente a vida dos russos, e não se sabe se um eventual acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia representará também o fim dessas medidas que têm devastado a economia do país.

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