A aposta alta da oposição bielorrussa começou a cobrar seu preço já na noite desta segunda (26): cresceu a divulgação, por parte do regime da Belarus, de que a população do país apoia o ditador Aleksandr Lukachenko e é contra os protestos.
“Todas as empresas do setor real da economia estão operando normalmente, e a produção não parou”, afirmou a assessoria de imprensa do regime, decretando o fracasso da ameaça de greve geral feita há 13 dias pela principal rival nas eleições presidenciais de agosto, Svetlana Tikhanovskaia.
A ex-candidata oposicionista havia feito três exigências que deveriam ser cumpridas até a meia-noite de domingo (25): que o ditador renunciasse, soltasse todos os prisioneiros políticos e acabasse com a violência na repressão aos protestos, que hoje completaram 86 dias.
Lukachenko continua no palácio presidencial, mais de cem adversários políticos estão trancados na cadeia e, embora novos protestos tenham lotado avenidas de Minsk nesta segunda, a tropa de choque continuou fazendo perseguições -inclusive contra a idosa símbolo dos protestos, Nina Bahinskaia, 73- e detenções, sem sinais de que vá reduzir a violência.
Em sua campanha para justificar a repressão dizendo que os manifestantes são agressivos, a ditadura afirmou nesta segunda que impediu a entrada de 595 estrangeiros no país, “a grande maioria jovens fortes, de constituição atlética”, segundo o Comitê Estadual de Fronteiras.
e acordo com a agência de notícias do regime, eles tentavam passar pelas fronteiras de países vizinhos -Ucrânia, Polônia e Lituânia- e “não conseguiram explicar ou confirmar o propósito de sua chegada à Belarus”. Lukachenko tem acusado “países ocidentais” de conspirar contra seu regime.
Nessa segunda, foram detidos 155 manifestantes em várias cidades do país, segundo a entidade de direitos humanos Viazna. Números oficiais ainda não haviam sido divulgados, mas eles têm sido sempre maiores que os registrados pelas organizações civis.
Na repressão à marcha de domingo (25), 13 pessoas foram atendidas por lesões, segundo o Ministério da Saúde, e 5 foram hospitalizadas. Há relatos de manifestantes atingidos por fragmentos de granadas de dissuasão, feridos por balas de borracha e detidos que sofreram cortes na cabeça por pancadas dadas por policiais.
Forças de segurança também cercaram grandes empresas estatais na manhã desta segunda e detiveram trabalhadores que se recusavam a entrar nas fábricas, de acordo com a mídia bielorrussa.
Partidários da oposição comemoraram os movimentos de apoio de aposentados e estudantes em Minsk e falaram em dezenas de empresas paradas, mas a greve geral anunciada por Tikhanovskaia não aconteceu.
Houve manifestações, declarações de greve e apresentação de exigências às diretorias de estatais, mas a maior parte dos funcionários recorreu a trocas de turno ou folgas por sua própria conta, como na fábrica de fertilizantes de Grodno. Na indústria de tratores MTZ, em Minsk, houve operação tartaruga.
À noite, funcionários de grandes empresas como a estatal de petróleo Belorusneft relataram ter sido demitidos por protestar contra a violência da repressão. A Anistia Internacional para a Europa Oriental e Ásia Central divulgou um comunicado contra demissões e contra a brutalidade policial.
“Vemos com choque e consternação como este regime, que durante várias semanas desencadeou uma violência indizível contra os manifestantes nas ruas e nos centros de detenção, enviou hoje forças de segurança mascaradas para espancar e prender trabalhadores em greve nos seus locais de trabalho. Há um desrespeito flagrante pelos direitos humanos mais básicos, e agora o direito à greve é outro que está sendo cruelmente suprimido pelas botas das forças de segurança e com cassetetes”, afirmou no texto o diretor interino da entidade, Denis Krivosheev.
À tarde, o regime bielorrusso anunciou uma nova investida contra opositores. O grupo de combate ao crime organizado deteve o suspeito de ter divulgado em mídias sociais e aplicativos de mensagem dados particulares de policiais e membros da corregedoria.
Chamada de “desanonimização”, a ação é uma das estratégias da oposição para tentar convencer agentes de segurança a deixarem a repressão contra os manifestantes.
Grupos de hackers também têm feito ataques a sites do regime. Neste final de semana, o alvo foi a empresa de laticínios Milk World: em seu site apareceu uma pesquisa entre duas garrafas de leite com teores de gordura de 3% e 97%, numa menção à proporção de bielorrussos pró e contra Lukachenko, segundo a oposição.