*Maria José Rocha Lima
Nos idos de 1976, ingressei no Grupo de Teatro Amador Amadeu, que reunia estudantes universitários e jovens intelectuais que participavam do movimento cultural baiano. O grupo atuou na Bahia, entre 1975 e 1978.
Foram fundadores do grupo o jornalista e escritor Rogério Menezes, anos depois colunista do Correio Brasiliense, e Lúcia Bastos, enfermeira e professora da Universidade do Estado da Bahia. Fomos membros do Amador Amadeu eu,que recebi de Rogério o nome artístico Zezé Rocha; LuisEduardo Portela Monteiro de Souza, meu companheiro(nós dois éramos estudantes de Biologia na UFBa); Rosa Bastos, jornalista, do Jornal da Bahia, se não me engano, e da Revista Veja, era irmã de Lúcia Bastos; Aidil Gorete,enfermeira; Vera Carvalho, auxiliar de enfermagem, e sua irmã, a jovenzinha Nélia Carvalho, atualmente atriz de sucesso no teatro baiano; Cobrinha, Hilton Cobra, que virou ator do Programa Zorra Total, da TV Globo; Paulinho, que o apelidaram Paulinho Satanás e tinha muito orgulho de se dizer operário; Paulo César, que era estudante de Administração da UFBa e virou empresário, dono da empresa Cobra, de cobranças; Getúlio, que virou empresário e dono da Livraria Literarte e do badalado Bar Ex-Tudo, no Rio Vermelho, em Salvador; Jota, estudante de Administração; Tatu, muito engraçado, um jequieense, do qual não tenho notícias, havia uma enfermeira, Cristina Melo, que lia de clássicos às colunas sociais e até lista telefônica, atualmente enfermeira e professora universitária. E tinha as personalidades que orbitavam em torno do grupo, como o fotógrafo Manu; Luiz Marfuz, que foi fundador do grupo de teatro universitário Cartão de Ponto e atualmente é professor universitário, diretor teatral e membro da Academia de Ciências da Bahia –ACB–; a cantora Diana Pequeno; o Jornalista Marcos Luedi; as engenheiras Fabíola e Dione Moura.
No Grupo de Teatro Amador Amadeu montamos as Peças de Teatro Pau e Osso S/A, que falava da carestia; GranCirco Raito de Sol ou Gran Circo Latino Americano, peça na qual tratávamos das filas do INSS, da falta de transporte coletivo, da precariedade da saúde E das péssimas condições de moradia, e os malabaristas eram trabalhadores que viviam com o salário mínimo (A GranCirco foi censurada pela Polícia Federal); O Cabaret Segredo de Laura apresenta: Xô, galinha show.
No grupo líamos em voz alta textos teatrais, como a Mãe; O Homem é um Homem; Aquele que diz Sim, Aquele que diz Não; Galileo Galilei; Mãe Coragem, do teatrólogo alemão Bertold Brecht. Do mesmo autor montamos a peça Senhor Puntila e Seu Criado Matti, que conta a história de um cambista de álcool e trata das suas relações com os empregados. Senhor Puntila quando estava bêbado parecia são e quando estava são parecia bêbado, tratando de forma indigna os seus empregados. O Senhor Puntila e Seu Criado Matti fez muito sucesso, tendo ficado por seis meses em cartaz, no Instituto Goethe de Salvador, diziam ser um fenômeno inédito na cena teatral baiana. Fernando Fulco, que fez o papel do Senhor Puntila e arrasava, virou ator de grande sucesso, bastante premiado. Fulcotrabalhou em diversos espetáculos, como “Alice” (1979), “O Pai” (1981), “Rapunzel” (1981), Macbeth (1982) e “Lulu” (1989), dirigidos por Marcio Meirelles, e ganhou diversos prêmios. No teatro, Fulco trabalhou ainda com diretores como Fernando Guerreiro, Luiz Marfuz, Chica Carelli, Sergio Almeida, Fernando Moura Novas e Vinício Oliveira. O artista teve atuação marcante no cinema, em filmes como o curta-metragem “Elia e Katazan” e os longas “Superoutro” (1989), “Eu me lembro” (2003) e “O Homem que não Dormia” (2011), todos dirigidos por Edgard Navarro. Em 1997, participou do filme “Central do Brasil”, de Walter Salles, e “Cidade Baixa”, de Sergio Machado, lançado em 2005; “O filme de Carlinhos”, em 2015, de Henrique Filho. Reconhecido como um dos mais talentosos intérpretes de sua geração. Fernando Fulcofaleceu, em 2016, logo depois que escrevi este texto sobre memórias, que o refiz para homenageá-lo em memória.