O debate político brasileiro gira em torno do próprio eixo. Aqui, tudo é política, exceto a realidade.
Não há, na elite, um debate sobre as necessidades populares. Políticos, juízes, governos, burocracia, artistas, imprensa e academias só debatem suas próprias e distantes divergências.
O debate político brasileiro gira em torno do próprio eixo. Aqui, tudo é política, exceto a realidade.
Ninguém quis saber as causas da eleição de Bolsonaro – ou de Lula, que chegaram ao governo como mitômanos; interessa mais defenestrá-los.
As eleições brasileiras são golpes de estado ou popular, mas sempre um golpe.
As eleições de Fernando Henrique e Dilma são os golpes de estado mais recentes. Como as eleições de Lula e Bolsonaro são os golpes populares.
Golpe, como significado de manobra covarde e ilusória: algo como um vírus do tipo Cavalo de Tróia, que se instala no seio social apenas para quebrar-lhe as resistência à invasão.
Fernando Henrique foi um suplente que se elegeu Senador empurrado pelo Plano Cruzado e Presidente nas costas do Plano Real, ao qual se deu de padrasto. A rigor, mesmo que seja previsão ao passado, ele não se elegeria para nenhum mandato.
Dilma foi provada na disputa pelo Senado, em Minas, sendo rejeitada. A eleição e a reeleição dela à presidência foram parte do maior golpe da história política nacional.
Bolsonaro é a escolha popular que aceitou manter os compromissos de campanha – e até a reação do povo contra tudo; mais do que Lula, Collor e Jânio. Porque os três últimos foram, respectivamente, construções partidárias/corporativas, da tradição de quebra da elite e do apoio oblíquo e sub-reptício dos partidos.
Essas elites, os que vivem de falar sobre política, para dela se aproveitarem pela tecnologia do patrimonialismo, nunca largaram as instituições, e sempre divergem nas palavras de ordem de comícios permanentes: “Fora! Fora! Abaixo! Abaixo!”.
Ninguém quer saber das filas.
Há filas em paradas de ônibus, nas delegacias, nos hospitais, nas feiras, nas escolas, nos parques de diversão e nas ofertas de empregos.
Essas filas são opostas às reuniões fechadas, que debatem ordens que só se cumprem quando os reunidos querem.
Como nas festas populares, geralmente financiadas com recursos do povo, separam-se camarotes e passarela, a nossa dialética está posta na antinomia: FILAS e REUNIÕES.
Há uma epidemia, causada por um “vírus invasor”, que separa o país útil à nação do país político ou oficial, esse o que mais se conflita do que resolve. Para esse país oficial, a solução é sempre um novo problema.
Na última noite de panelaço, houve três sessões: uma enorme contra tudo (inclusive contra uma reunião de ‘bacanas’ e contra a mídia), uma outra contra o governo, e a ultima a favor do governo. Apenas as duas ultimas foram notícia.
Outro dia, Lula propôs ao seu partido aliciar votos de evangélicos e jovens, mas não tratou de falar das ‘reivindicações’ dos evangélicos e dos jovens.
Virá o dia em que as filas vão fazer as reuniões – e serão notícia.
Irapuan Sobral
Advogado