Maria José Rocha Lima[1]
O nome Glória Maria intuía a vida gloriosa de uma Maria: pioneira no jornalismo feminino; no desbravamento do mundo; na superação do padrão racista das mídias. Ela dizia: “Eu nunca fujo dos problemas da vida, sempre enfrento os desafios…” É um poderoso recado e exemplo para todos, principalmente os jovens, que vivem um tremendo vazio existencial. Infelizmente, os nossos jovens vivem em busca da fama, do sucesso, da riqueza, da felicidade a todo o custo. É bom lembrar de Glória Maria, que começou no jornalismo aos 17 ou 18 anos. E não fugia dos problemas, das dificuldades, encarando – os, sempre, porque viver fugindo não é viver”.
O sentido da vida é seguir o seu fluxo natural, prestando atenção nas coisas que você consegue fazer melhor. Quem você que ser, como vai chegar lá, vivendo o dia a dia, com responsabilidade e coragem. Assim, cada pessoa entenderá o sentido que cabe a ela e viverá de acordo com as suas características, talentos e possibilidades, como fez a fantástica jornalista!
O problema da insatisfação contemporânea tem levado muitos jovens ao vazio existencial. Os jovens são levados a uma perseguição enlouquecida por fama, por uma tal de felicidade e como felicidade não é algo que se encontre ali, na esquina, eles terminam sendo levados “às máscaras existenciais”, como denominava Viktor Frankl: abuso de drogas, álcool, ao sexo desregrado, ao consumismo e à corrida inócua por Dona Felicidade.
As pessoas devem construir o sentido das próprias vidas e vivê-la de modo próprio, autêntico. Segundo o filósofo grego Sócrates, a virtude é fazer aquilo que a cada um se destina. Glória Maria descobriu a que se destinava, vivendo as suas melhores virtudes e se valendo das suas maiores forças de caráter como curiosidade, criatividade, bravura, apreciação da beleza, espiritualidade, amor. Descobriu os seus talentos, “talentando”; descobriu as suas características de pessoa, “pessoando”; descobriu a sua coragem, desafiando os medos, isto é, “medando”.
Na Grécia Antiga, aretê significava também a coragem e a força de enfrentar todas as adversidades, e era uma virtude a que todos os gregos aspiravam. E Glória soube realizar ao que a ela se destinava vivendo, enfrentando as adversidades do caminho. Era filha de alfaiate, negra, pobre e alcançou a Glória, que a habitava, vivendo sem “coitadismos ou vitimismos”, tão em voga. Ela adotou Maria e Laura, as duas filhas, em orfanato na Bahia e, outra vez, sem “a (des) caridade”, porque muitas vezes, em vez de ser ato de bondade, caridade é exibição. Foi mãe, não por acidente biológico, mas por escolha e por isso uma mãe devotada.
Para mim, Glória Maria alcançou a felicidade, não a felicidade em si mesma, mas, antes, um motivo, “uma vontade de sentido para a sua vida”, uma vontade de sentido com um efeito colateral para ser feliz e nos despertar, também, uma vontade de sentido em nós, para, quem sabe, muitos se fazerem felizes. Sem falar que nós brasileiros experimentávamos momentos felizes, acompanhando as suas viagens mundo afora.
Como Glória Maria, busquemos uma “vontade de sentido”, vivendo, enfrentando as infelicidades do caminho. E, segundo ela, a vida vale a pena e a importância do sentido da vida é, de fato, vivê-la. E ela viveu uma vida exemplar, heroica e gloriosa.
[1] Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
Um bem descrita a pessoa de Glória Maria..
obrigada Maria José.
Um bem descrita a pessoa de Glória Maria..
obrigada Maria José.