Maria José Rocha Lima
Getting your Baby foi a palavra de ordem, quase um mantra, do pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896-1971). Como eu sou baiana, eu o interpreto como alguém que diz pegue o seu bebê, com aquela pegada! Para ele o ser humano é sempre relação e a realidade é sempre relacional. “O bebê humano só se torna pessoa, se de fato tiver uma experiência de uma relação verdadeira, uma relação viva. A verdade que acontece no registro da experiência do bebê com a sua mãe”. Nessa fase, das mais cruciais para o bebê, as “mães suficientemente boas” precisam mantê-lo na ilusão de que eles são um só corpo, para que ele se integre, uma vez que o bebê humano nasce incompleto. A mãe suficientemente boa protege da agressão fisiológica, leva em conta a sensibilidade cutânea do lactente – tacto, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade à queda (ação da gravidade) e a falta de conhecimento do lactente da existência de qualquer coisa que não seja ele mesmo. (Winnicott, 1979/1983). Os cuidados; a provisão do ambiente; o holding , conceituado por Winnicott, me foram lembrados ao ouvir uma canção de George Strait, grande compositor e ator texano, na qual ele fala como tratar um bebê. “Não deixe que o bebê se sinta sozinho/ Não o deixe chorando/ Não o leve para o desconhecido/ Não fale mentiras para ele/ Dê a ele o melhor que você tem para dar/ Você tem que mostrar a ele que você o ama/ Dia e noite/ Esteja lá para ele, apenas para fazer as coisas darem certo/ Faça-o acreditar no seu amor/ Até que não haja nenhuma dúvida em sua mente”. Uma mãe suficientemente boa deveria proporcionar todos esses cuidados e mais alimentar a ilusão do seu bebê na fase de dependência absoluta, que vai de zero a seis meses, para que ele se integre, porque, embora o ser humano tenha um potencial inato para a integração, nem sempre isso acontece. Por que manter o bebê nessa relação, nessa ilusão de que ele e a sua mãe estão amalgamados? O ser humano é sempre relação, mesmo de maneira paradoxal é a relação intercorpórea que permite a integração; o bebê humano é (existe) na relação intercorpórea; ele existe (inter) relacionalmente. O psicanalista e professor da USP Gilberto Safra (2014) numa das suas conferências comentou: “que uma das características das situações no mundo contemporâneo é o afluxo de pessoas que não têm nem mesmo experiência de uma verdade de si de se sentirem realmente existentes”. Este fenômeno nós observamos a olho nu. Esta experiência de não se sentir realmente existente é um fenômeno contemporâneo. “São pessoas que nasceram em meio às abstrações, sem ter tido a possibilidade de escutar as batidas do coração da sua mãe. Que lhes pudesse dar a experiência de ser vivo e existente por contato com uma realidade viva e presente.”(SAFRA, 2014) Portanto, um dos aspectos fundamentais do pensamento de Winnicott era compreender o ser humano na sua grandeza, o ser humano acontecendo em uma experiência fundamentalmente relacional. A relação, em Winnicott, não é derivada do Psiquismo, mas a relação é “Fundante do Psiquismo Humano”. Winnicott demanda que se compreenda o ser humano no seu todo, em todo o seu contexto existencial, aspecto relacional; contexto sociocultural; dimensão transgeracional. A concepção de Winnicott, a sua clínica não se reduzem à compreensão do psíquico. Em Winnicott, o fenômeno humano, a problemática humana demanda um olhar nas suas múltiplas dimensões para que se possa
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em Educação. Deputada Estadual de 1991 a 1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.