Documentário de Lúcia Murat aborda desafios da educação e questões sociais, e debate com a cineasta promove reflexão entre jovens do ensino integral

O Governo do Distrito Federal (GDF) promoveu, nesta segunda-feira (15), a exibição do filme Hora do Recreio, de Lúcia Murat (2025), para cerca de 400 estudantes da educação em tempo integral da rede pública, como parte da programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A iniciativa integra o projeto Territórios Culturais, parceria entre a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF) e a Secretaria de Educação (SEEDF), que disponibiliza professores da rede para atuar em espaços culturais e museus desenvolvendo ações pedagógicas.
O documentário combina linguagem ficcional e documental para refletir sobre os desafios da educação pública no Brasil, narrado sob o ponto de vista de adolescentes de 14 a 19 anos. O filme aborda temas como violência, racismo, feminicídio e evasão escolar, a partir das vivências de jovens de comunidades do Rio de Janeiro. A produção acompanha também a construção e apresentação de uma peça teatral inspirada no romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, promovendo a conexão entre literatura, arte e realidade social.
A sessão reuniu estudantes de seis escolas da rede pública: CEM 01 do Guará, CEM 2 de Ceilândia, CEM 01 do Riacho Fundo, Escola Industrial de Taguatinga, Centro Educacional Irmã Maria Regina Velanes Regis e CED Incra 08. Além da exibição, os alunos participaram de um debate com a diretora Lúcia Murat, ampliando a reflexão sobre os temas tratados pelo documentário.
Homenageada com o Prêmio Leila Diniz no festival — destinado a mulheres que se destacam no cinema nacional —, Murat ressaltou a importância de levar o longa a estudantes da rede pública. “Esse filme foi feito para eles. Precisamos criar políticas públicas que permitam que esses jovens tenham acesso ao cinema em boas condições, numa sala com som e tela de qualidade. É fundamental que eles possam se ver e refletir a partir dessa experiência”, disse. A cineasta acrescentou: “Eu não trabalho com respostas, mas com perguntas. Quero ouvir esses jovens e provocar discussões que eles levem adiante”. O filme já foi exibido no Festival de Berlim, onde recebeu prêmio, e no É Tudo Verdade, mas ainda não estreou comercialmente no Brasil.
Entre os alunos, Ana Clara da Silva Cardoso, do terceiro ano do ensino médio, relatou emoção durante a sessão. “O filme trouxe assuntos pesados de forma leve, que emocionaram todo mundo. Vi muita gente chorando. São questões que vivemos no dia a dia e que nem sempre são discutidas”, disse. Ela percebeu semelhanças com um curta produzido por sua turma para o Dia da Consciência Negra: “Parecia que estávamos conectados com o mesmo propósito. Me animou bastante a pensar no audiovisual, porque vi que podemos produzir conteúdos potentes, capazes de dialogar com a realidade”.
A professora Silvia Eulália de Sousa Leite, que acompanhou os alunos, destacou a relevância da atividade. “O filme cria um espaço de escuta para os jovens, algo que eles pedem sempre e nem sempre encontram. Muitos se sentiram representados e emocionados com as histórias. Essa identificação fortalece a autoestima e encoraja os estudantes a falarem de suas próprias vivências. Eu ainda acredito que são esses jovens que vão mudar o nosso país”, avaliou.
Segundo a educadora, a experiência vai além do campo cultural e dialoga diretamente com a educação. “Ver esses meninos atentos, debatendo e emocionados, é gratificante. São momentos que renovam nossa esperança de que essa geração possa transformar o país”, concluiu.
Com informações da Agência Brasília