*Frutuoso Chaves
Não perco muito do meu latim com o futebol, há longo tempo. A bem da verdade, nunca fui um desses torcedores apaixonados a ponto da arenga em ambiente doméstico, ou público. Torço, moderadamente, por três times: o Santa Cruz do Recife, o Fluminense do Rio e o Modena de Pilar.
Datam de 1980 meus últimos ingressos em estádios e, mesmo assim, por dever do ofício. Foi uma época na qual eu era solicitado a cobrir para “O Globo” as participações do Botafogo de João Pessoa, do Campinense e do Treze de Campina Grande no Campeonato Brasileiro. Fazia-o com certa satisfação: aquela decorrente do pagamento de horas extras pelo trabalho à noite, nas quartas-feiras, e aos domingos.
Devo ao Botafogo de João Pessoa, por exemplo, o mais gordo dos holerites que me dispensava o jornal carioca a quem servi por dez anos. Isso, por conta de sucessivas pautas para o Caderno de Esportes após a derrota por 2 a 1 imposta, em 6 de março de 1980, ao Flamengo de Zico, Júnior, Carpegiani, Andrade e Adílio, em pleno Maracanã. Este mesmo Flamengo, um ano depois, se sagraria Campeão Mundial de Futebol.
Tinha de dez para onze anos de idade quando soube da existência da Copa do Mundo e guardo até hoje a escalação do time que, em 1958, foi a campo contra a Suécia com Gilmar, Djalma, Bellini, Nilton Santos, Orlando, Zito, Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo.
Comecei a perder a capacidade de escalar, de cor, a Seleção Brasileira depois de 1970, ano em que a equipe que encantou o mundo serviu (involuntariamente) para eclipsar o cotidiano nacional feito de prisões, porões e torturas. A ditadura já havia criado o slogan “Brasil, Ame-o ou Deixe-o” repetido a três por quatro por uma classe média imbecilizada. Sempre ela…
A mercantilização criminosa do futebol, o horário dos jogos feito pela Globo e o culto infame ao individualismo (com gritos do tipo “Pedala, Robinho”) afugentaram-me, pouco a pouco, do campo e da tevê. Ambos já não me fazem falta.
Sete a um contra a Alemanha? Brasil eliminado da Copa América? Troca de técnicos? Não estou nem aí. (Na foto, o time que ganhou a Copa de 1958).