Gustavo Ferreira, de 20 anos, passou pouco mais de 24 horas na prisão. Segundo Defensoria Pública, processo começou em 2017, quando ele tinha apenas 12 anos.
Por Ana Vinhote, Rita Yoshimine, TV Globo
Gustavo Ferreira, de 20 anos, foi preso por engano por atraso no pagamento de pensão alimentícia mesmo não tendo filhos. O jovem passou pouco mais de 24 horas na prisão antes do erro ser corrigido em audiência de custódia, na quarta-feira (29), com auxílio da Defensoria Pública do Distrito Federal.
“É bem chato não ter culpa de nada e ser levado. A pior parte foi o tempo que eu fiquei lá dentro [da prisão] sem ter culpa. Não desejo pra ninguém”, afirma o jovem.
Segundo os defensores, o processo começou em 2017, quando o jovem tinha apenas 12 anos, no estado de São Paulo, onde ele não morava. Além disso, o nome de Gustavo sequer era mencionado no processo.
Neste ano, o mandado de prisão civil foi expedido por uma Vara de Execução Penal de Minas Gerais. Ao ser questionado pela defesa do preso e pela Defensoria Pública, o juiz confirmou que o mandado foi emitido de maneira equivocada.
“Na hora que eles falaram que eu estava sendo preso por pensão alimentícia, eu até questionei [os policiais] pelo espanto. Falei que não tenho filho. Eles falaram que não tinha o que fazer”, conta Gustavo.
Morador de Taguatinga, ele diz que nunca esteve em São Paulo nem em Minas Gerais. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi acionado para apurar possível fraude no caso. Além disso, a família de Gustavo vai entrar na Justiça contra o Estado.
Gustavo passou pouco mais de 24 horas na prisão antes do erro ser corrigido pela Defensoria Pública do DF, durante a audiência de custódia, na quarta-feira (29). De acordo com o defensor público Alexandre Fernandes Silva, “o erro pode ter ocorrido tanto em Minas ou São Paulo, ou de algum agente externo que tenha incluído os dados desse rapaz no banco nacional de mandados de prisão“.
“O que se sabe é que o processo de São Paulo não envolvia prisão civil, o rapaz não era mencionado, e em Minas não havia nenhum processo dele. Então, foi determinado por Minas Gerais cópias à Corregedoria para investigar o caso. Aqui, no Distrito Federal, o juiz acionou também o Conselho Nacional de Justiça para averiguar se foi o caso de um erro ou de alguma fraude no sistema”, diz o defensor.
O g1 entrou em contato com a Corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O advogado Marco da Silva Barbosa, que assumiu o caso, diz que vai entrar na Justiça com pedido de indenização.
O mandado de prisão era de 2017, quando Gustavo tinha 12 anos. O defensor Alexandre Fernandes Silva, que é coordenador do Núcleo de Audiências de Custódia e Tutela Coletiva dos Presos Provisórios da Defensoria Pública do DF, diz que o pedido de indenização é justo.
“O rapaz, ou quem é preso indevidamente, seja por um prazo maior, seja por uma hipótese que não deveria, pode buscar, sim, uma reparação cível ou alguma indenização” diz Alexandre Fernandes Silva.
Preso por atraso de pensão alimentícia sem ter filhos
Após ser preso, Gustavo ficou em uma cela de pais que não pagam pensão alimentícia no Complexo da Polícia Civil, na região do Sudoeste, em Brasília. Ele só pode se manifestar durante a audiência de custódia, um dia depois.
“Expliquei para o juiz. O advogado [defensor público] também estava presente e explicou que eu não tenho filhos. Mesmo assim, continuei preso até o final da noite de quarta-feira, que foi quando o advogado conseguiu resolver algumas coisas e conseguiu o alvará de soltura”, conta Gustavo.
O advogado Marco da Silva Barbosa, que assumiu o caso de Gustavo, explica que há mais perguntas sobre a prisão que precisam ser respondidas.
“Fomos atrás e foi constatado que nem existe o número desse processo em Minas Gerais. Posteriormente, descobrimos que era de São Paulo e ainda está sob investigação. O mais estranho é que saiu o processo criminal de São Paulo, foi para uma Vara de Execução Penal em Minas e veio mandado de prisão para Brasília constando pensão alimentícia de um processo de vara de execução criminal”, diz o advogado.
De acordo com a Defensoria Pública do Distrito Federal, a equipe do juiz de Brasília entrou em contato com o juiz de Minas Gerais que confirmou que houve um erro na cidade mineira, e que a prisão “foi um equívoco que ainda não se sabe os motivos”.
“Se a gente considerar que trata-se de um processo de execução e, originalmente, um processo de alimentos deve ter sido [iniciado] um ano antes, então o Gustavo teria menos idade, teria 11 anos. Seria praticamente impossível dele ter filho à época”, diz Barbosa.
Gustavo afirma que nunca foi a São Paulo nem a Minas Gerais. O jovem também não tem antecedentes criminais.
“É bem chato não ter culpa de nada e ser levado. A pior parte foi o tempo que eu fiquei lá dentro [da prisão] sem ter culpa. Não desejo pra ninguém”, afirma o jovem.
O que é audiência de custódia?
As audiências de custódia são obrigatórias desde 2015. Dessa forma, um juiz deve analisar, em até 24 horas, as seguintes questões:
- Se a prisão ocorreu dentro da legalidade
- Se o preso vai receber alguma medida cautelar
- Se a pessoa pode ser solta mediante pagamento de fiança