George Santos é candidato pelo Partido Republicano e quer proporcionar o “sonho americano” para outros filhos de imigrantes que vivem nos Estados Unidos.
Por Giuliana Viggiano, Pedro Souza e Felipe Santana, g1
Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, dois candidatos abertamente gays disputam uma vaga na Câmara dos Representantes, que, com o Senado, forma o Congresso do país. O democrata Robert Zimmerman concorre contra o republicano George Santos, que é filho de brasileiros, pela vaga deixada pelo democrata Tom Suozzi no 3º Distrito do Congresso de Nova York.
Embora o presidente Joe Biden, do Partido Democrata, tenha conquistado o distrito por 10 pontos nas eleições de 2020, a situação ainda não está definida nesta votação. De acordo com o boletim informativo “Cook Political Report”, que analisa as corridas eleitorais dos EUA, a disputa é considerada acirrada.
Filho de brasileiros
Fluminense nascida em Niterói, a mãe de George Santos imigrou para os EUA na década de 1980, onde começou a trabalhar como faxineira. Ela e o pai do candidato do Partido Republicano, um mineiro de Belo Horizonte que trabalhava como pintor e chegara no país estrangeiro na mesma época, se conheceram já em solo norte-americano.
Em 1988, Santos nasceu no Queens, na cidade de Nova York, onde cresceu e foi criado majoritariamente pela mãe, após os pais se separarem. O filho de brasileiros construiu uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro, mas decidiu migrar para a carreira política cerca de três anos e meio atrás — segundo ele, justamente por ser fruto do chamado “sonho americano”.
“[Optei pela política] para defender o sonho americano para todos os filhos de imigrantes e imigrantes que vêm para cá, e para todas as crianças do nosso país. A gente tem um uma obrigação moral: deixar uma sociedade melhor, um país melhor, para a geração do futuro. E a gente não está fazendo isso na liderança da presidência atual”, afirma Santos, em entrevista ao G1.
Para ele, o sonho americano é dar oportunidades, garantindo educação de qualidade e abertura para que cada um possa seguir a carreira que deseja. E é justamente isso que Santos não vê acontecendo na administração de Biden.
Disputa histórica
As eleições norte-americanas de 2022 já são consideradas históricas para a comunidade LGBTQ+ dos EUA por pelo menos dois motivos: o número recorde de candidatos queer (segundo a ONG LGBTQ Victory Fund, são no mínimo 1.065); e a disputa, pela primeira vez, de dois candidatos abertamente gays pela mesma vaga no Congresso.
Este, entretanto, não é o foco da campanha de George Santos – tanto que ele só descobriu que faria parte da disputa histórica após ser contatado pela mídia. “A última coisa que você vai me ouvir dizendo na minha campanha é que eu [sou parte de uma] minoria, que eu sou gay. Nada disso importa, porque isso não muda a vida e o dia a dia de ninguém”, diz o candidato.
É por isso, por exemplo, que Santos se posiciona contra medidas afirmativas. Para ele, tais ações causam mais divisões e, portanto, as pessoas devem ser reconhecidas por mérito próprio. “Eu quero ganhar essa disputa porque eu sou o mais qualificado”, explica.
O republicano também afirma que se sentirá honrado caso sua carreira sirva de inspiração para outras gerações de crianças LGBTQ+. Ainda assim, ele diz que ser parte de uma minoria não é o suficiente para concorrer a um cargo no governo.
“Você tem [a oportunidade de integrar o governo] por seu mérito. Eu lutei, eu trabalhei, eu estudei para isso. Então, eu quero me certificar de que isso não seja distorcido e [leve as pessoas a] pensarem: ‘Ah, eu sou gay, então tudo que eu quiser vai vir aos meus pés’. Não, tem que correr atrás”, afirma Santos.
Filiação ao Partido Republicano
O filho de imigrantes brasileiros sempre se identificou com o Partido Republicano. Não à toa, já aos 18 anos se filiou ao grupo, que é tradicionalmente conservador. Segundo ele, crescer em Nova York influenciou profundamente sua visão política, tendo em vista o histórico de administração da cidade.
Isso porque, em 1994, o republicano Rudy Giuliani foi eleito prefeito da cidade. Seu sucessor, Michael Bloomberg, assumiu em 2002 e permaneceu no comando de Nova York até 2013, somando três mandatos — nos dois primeiros como integrante do Partido Republicano, e no terceiro como político independente.
“Eu cresci numa cidade maravilhosa”, diz Santos. “No momento em que ela mudou para [o comando] democrata, a gente viu a destruição da cidade ano após ano. Uma destruição visível de qualidade de vida, de segurança, de tudo.”
O candidato acredita que, para quem cresce na pobreza, como aconteceu com ele, a qualidade do governo fica mais evidente. “O básico era bom, diante um mandato republicano. Hoje, o básico, diante um mandato democrata, é ruim”, aponta.
Segundo a “CBS News”, Santos não tem o apoio de Donald Trump, mas apoia e admite que o ex-presidente é parte da razão pela qual ele está concorrendo ao Congresso. O candidato participou do comício “Stop the Steal”, em Washington D.C., em 6 de janeiro 2021.
“Essa foi a multidão mais incrível, e o presidente estava em sua plenitude naquele dia”, disse ele, em entrevista. No entanto, Santos nega qualquer envolvimento com a invasão ao Capitólio que ocorreu no mesmo dia.
Quanto à sua integração no Partido Republicano, o candidato conta que não tem reclamações. Santos relata que nunca sofreu preconceito por sua orientação sexual dentro do partido e destaca o fato de ter sido nomeado para a disputa eleitoral de 2022 de forma unânime pelos colegas.
Contudo, historicamente, poucos candidatos LGBTQ+ concorreram a vagas no Congresso pelo Partido Republicano. Hoje existem 11 congressistas abertamente queer, dois no Senado e nove na Câmara — e todos são do Partido Democrata.
“[Esta] não é uma competição, eu não estou concorrendo com os democratas para ver quem tem mais gays [no partido]. Para mim, é isso. Sou um homem gay, sou republicano e decidi concorrer ao congresso”, pontua Santos.
Política de centro-direita
Embora seja conservador na esfera econômica, quando o assunto é a parte social, Santos tem uma visão mais moderada, e, por isso, se considera de centro-direita.
O candidato, que é casado, defende o casamento entre pessoas da comunidade LGBTQ+. Ele também é contra a revisão da lei que permite a união entre pessoas do mesmo gênero, proposta em junho por um juiz da Suprema Corte dos EUA.
Por outro lado, Santos se posiciona contra o aborto e apoia a “Don’t Say Gay Bill” (“Lei Não Diga Gay”, em inglês), que entrou em vigor em junho, na Flórida. A legislação colocou em prática novos estatutos para o ensino público, proibindo discussões sobre educação sexual em sala de aula.
A principal proposta do republicano, no entanto, diz respeito à participação de parentes de congressistas na bolsa de valores. “Quero impedir que membros imediatos da família de integrantes do Congresso possam investir [na bolsa de valores]”, afirma. “[Os congressistas têm] acesso a muitas informações, o que pode privilegiar e influenciar [os investimentos].”
Outra pauta importante da campanha de Santos é o investimento na infraestrutura da rede elétrica de Nova York. O candidato acredita que o governo deve focar na geração de energia em solo norte-americano, e não em outros países.
“Eu acho que a gente tem que voltar a extrair energia, gás natural e óleo nos Estados Unidos”, diz Santos. (Com g1*)