*Frutuoso Chaves
Um colega dos tempos do Científico para Engenharia do Liceu Paraibano (pois é, já pensei em ser engenheiro) surpreendeu-se com a informação de que eu, 42 anos depois, continuo casado com a mesma mulher.
“Isso é que é gostar de casamento”, comentou, 10 ou 15 minutos depois do nosso encontro casual, no centro da cidade. Respondi, no mesmo tom de gracejo: “Quem gosta é você, que já casou três vezes”.
“Casamento é como enterro. Se for o seu, você só tem um”, ouvi isso, ainda menino, ao derredor de uma conversa entre amigos do meu pai. Comentavam, na ocasião, espantados, o desquite de um casal que todos ali conheciam.
Evidentemente, não é o adeus à vida, seus encantos e suas tentações o que me mantém no cabresto curto da dona Miriam, no dizer do meu velho companheiro de Liceu. É, isto sim, o sentimento de que acertei na escolha.
Acredito que ela pense a mesma coisa, porquanto luta para preservar o compromisso selado diante de testemunhas. Nestes últimos 42 anos, tem ganho de mim em tolerância, embora eu também tenha aprendido a evitar maiores encrencas. Sei que uma discussão termina quando o outro se cala.
E as discussões acontecem, camaradas. A não ser nos romances popularizados por Hollywood, em cujos roteiros não entram a doença dos meninos, a conta do médico e da farmácia, a do supermercado, enfim, a grana curta para as despesas do dia a dia.
Em outras ocasiões, são os deslizes e manias de cada um que animam os desentendimentos. Sapatos num recanto qualquer, a toalha molhada em lugar indevido, a conversa interminável ao telefone, a novela xaroposa, a demora mal explicada, tudo isso pode render sermões e exigir, de lado a lado, ouvidos pacientes.
No frigir dos ovos (e como fregem), aquele primeiro encontro supera mil desencontros, porque um não mais se imagina sem o outro. Porque o tempo de união é maior, muito maior, do que o transcurso desde a data de cada nascimento até o pé do altar. Porque pusemos filhos no mundo, mas, sobretudo, porque nos pretendemos indivisíveis.
Rezo, todas as noites, a fim de que eu me vá antes da minha mulher, por estar certo de que ela é mais útil ao nosso mundo. Mas, talvez, quem sabe, eu assim pense em benefício próprio, ao sentir que a perda da cara-metade me seria muito mais dolorosa. Êpa… Isso pode dar briga.
Acordei mais cedo e procurei velhos álbuns, neste domingo, 20 de setembro, data em que ela veio ao mundo para, egressa do Rio Grande do Norte, no esplendor da juventude, pousar na minha rua. O televisor quebrado é o que a fez sentar com minha mãe, três casas depois, para a novela das oito.
Foi assim que eu, encantado, a conheci. Não é todo dia que você encontra uma bela menina no sofá da sua casa, meu amigo. Que felicidade a da dona Vininha quando soube que a teria por nora.
Grato por tudo, querida. Por haver dito “sim”, pela dedicação quase sem limites e pelos três filhos que parimos. Feliz aniversário.
* Jornalista profissional com passagens pelos jornais paraibanos A União (Redator e Chefe de Reportagem), Correio (Redator e Editor de Economia), Jornal da Paraíba (Editorialista), O Norte (Editor Geral), O Globo do Rio de Janeiro e Jornal do Comercio do Recife (correspondente na Paraíba, em ambos os casos). Também pelas Revistas A Carta (editada em João Pessoa) e Algomais (no Recife).