Maria José Rocha Lima
Para a “teoria das janelas quebradas”, desordem e sujeira nas ruas são tidas como ausência dos poderes públicos, aumentam a insegurança coletiva e convidam à prática de crimes.
O Administrador Regional do Paranoá, Wellington Cardoso de Santana, vem se dedicando ao reforço da força-tarefa dos serviços de limpeza e conservação no Paranoá, priorizando a operação do programa Cidades Limpas do GDF. Ele, que é bacharel em Direito e atuou na Polícia Militar e atua Polícia Civil há mais de 20 anos, conhece como ninguém a “teoria das janelas quebradas”, atualmente um modelo de política de segurança pública e combate à criminalidade, em vários países.
Esta teoria começou a ser desenvolvida em 1982, quando o cientista político James Wilson e o psicólogo criminologista George Kelling, norteamericanos, defenderam uma tese e publicaram um estudo, estabelecendo, pela primeira vez, uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade.
Os pesquisadores utilizaram imagens das janelas quebradas para explicar como a desordem e a criminalidade poderiam, aos poucos, infiltrar-se na comunidade, causando a sua decadência e a consequente queda da qualidade de vida. Sua conclusão é que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se por alguma razão racha o vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração, e esse fato parece não importar a ninguém, isso fatalmente será fator de geração de delitos.
Os pesquisadores deixaram dois carros idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados na rua. Um no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York, e o outro em Palo Alto, zona rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local. Resultado: o carro abandonado no Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. As rodas foram roubadas, depois o motor, os espelhos, o rádio etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e destruíram aquilo que não puderam levar. Já o carro abandonado em Palo Alto manteve-se intacto. Quando o carro abandonado no Bronx já estava desfeito e o de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores quebraram um vidro do automóvel de Palo Alto. Resultado: logo a seguir foi desencadeado o mesmo processo ocorrido no Bronx. Roubo, violência e vandalismo reduziram o veículo à mesma situação daquele deixado no bairro pobre.
Por que o vidro quebrado na viatura abandonada num bairro supostamente seguro foi capaz de desencadear todo um processo delituoso? Trata-se de algo que tem a ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Segundo a pesquisa , a presença de lixo nas ruas e de grafite sujo nas paredes provoca mais desordem, induz ao vandalismo e aos pequenos crimes. Tudo isto transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de desprestígio por parte das autoridades. Promove a quebra dos códigos de convivência, faz supor que é um lugar sem lei, que naquele lugar não existem normas ou regras, o que induz ao “vale-tudo”. Cada novo ataque depredador reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores tornam-se incontrolávéis, culminando numa violência irracional.
Em suas conclusões, esses especialistas acreditam que, ampliando a análise situacional, se por exemplo uma janela de uma fábrica ou escritório fosse quebrada e não fosse, incontinenti, consertada, quem por ali passasse e se deparasse com a cena logo iria concluir que ninguém se importava com a situação e que naquela localidade não havia autoridade responsável pela manutenção da ordem.
Em consequência , as pessoas de bem deixariam aquela comunidade, relegando o bairro à mercê de delinquentes e desordeiros, pois apenas pessoas desocupadas ou imprudentes se sentiriam à vontade para residir em uma rua cuja decadência se torna evidente. Pequenas desordens, portanto, levariam a grandes desordens e, posteriormente, ao crime.
Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
Excelente artigo amiga Zezé Rocha!!
Vacina Bivalente? O cabra tem que ser valente pra tomar. Tô fora!!!