terça-feira, 11/03/25
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EXEMPLO A SER IMITADO

 

Maria José Rocha Lima

Como se fosse uma premonição sobre a passagem do professor e escritor João Carlos Teixeira, incluí na minha tese de doutorado o seu prefácio no livro Obrigado, Professor; Obrigada, Professora. É bela  e contundente peça literária em defesa dos mestres. Fiz constar na minha Tese de Doutorado, porque guarda todo o significado por ele dado no título e porque sei que seria do seu agrado.   João Carlos Teixeira, diferentemente de alguns intelectuais, que elaboram teses econômicas e políticas incompreensíveis, rocambolescas e até covardes sobre o que denominam “corporativismo do professor”, não economizou nas denúncias sobre o desamparo dos mestres e repercussões negativas  na educação nacional, e celebrou a homenagem da Assembleia aos professores inesquecíveis e importantes nas trajetórias de vida das autoridades baianas. Recomendou que  o exemplo devesse ser sempre renovado”
Eis o pronunciamento do ilustre escritor:

EXEMPLO A SER IMITADO
João Carlos Teixeira Gomes
Este livro registra uma das iniciativas mais louváveis da deputada Maria José Rocha no transcorrer do seu mandato: a homenagem prestada aos professores baianos (e,por extensão, aos professores de todo o Brasil) em sessão especial realizada na Assembleia Legislativa do Estado, sob o título “Obrigado, Professor. Obrigada, Professora.”
Vivemos em um país com precárias tradições de eda nsino, negligenciando, assim, a construção do nosso presente e do nosso futuro. No meio de um contexto de escolas públicas marcadas pelo desaparelhamento de recursos e instalações para o cumprimento de sua finalidades, ao lado de um ensino particular estigmatizado pela ferocidade mercantilista, sobressai, tristemente o desamparo do professor, premido pelas dificuldades materiais e por uma remuneração aviltante, que lhe desestimula não só o desempenho, como também o aperfeiçoamento profissional. É comum que não tenha dinheiro sequer para comprar livros e portanto, atualizar-se. Por lamentável (e iníqua) tradição, no Brasil o professor costuma ser simultaneamente mártir e herói, quando deveria ser apenas(sobretudo) uma pessoa capacitada para o exercício da sua relevante missão social, prestigiada pela sociedade e amparada pelos poderes públicos, com remuneração à altura da importância de que o seu trabalho se reveste para toda a coletividade. O contrário é o que se verifica. Cheios de meras frases de efeito, demagógicas, insinceras, ou discursos oficiais apenas ressaltam no magistério o seu caráter de sacerdócio(que realmente), mas sem a contrapartida de oferecer as condições necessárias a que o professor possa atuar na plenitude dos seus recursos e das suas qualificações.
Ainda agora, nos temerários dias de angústia e de incerteza que o Brasil está vivendo, atrelado                                      a uma desastrosa concepção econômica que torna mais fortes e arrogantes os globalizantes e mais fracos e dependentes os globalizados, testemunhamos estarrecidos, o esfacelamento do sistema de ensino universitário deste país, num procedimento irresponsávele perverso, por mais incrível que pareça chancelado por um político e sociólogo(para que serve a sociologia?) que, no exercício da presid~encia da República, esqueceu e traiu os seus compromissos de antigo professor.
É com alegria, pois, que diante de um quadro de alheamento oficial e de penúria que se acentua com o passar dos anos, podemos aqui  registrara atitude da deputada Maria José Rocha, idealista e de longa data voltada para as causas sociais e mentora de ideia simples e brilhante: convocar a sociedade baiana para que apresentasse, ela própria, um conjunto de mestresque a marcaram em diversos níveis e atividades e profissões, para que recebessem na Assembleia Legislativa, enfim funcionando com a ressonância de uma autêntica Casa do   Povo, a homenagem de que se fizeram credores pela sua competência e pelo seu devotamento à vida magistral.
Embora o Governo Federal, para fugir às suas responsabilidades, esteja hoje tentando estabelecer separações entre os três níveis de ensino, com isso pensando que pode justificar o abandono do sistema universitário do país, o saber é um só e não admite divisões estanques. Assim o compreendiam os antigos gregos, mestres e exemplo para tudo, ao conceberem o aprendizado humano como uma “Paidéia”, para que pudessem fornecer ao homem uma visão integrada do mundo e da vida. O processo cultural – e isto é uma verdade acaciana, mas esquecida pelos homens do poder – vive de integrações e não de exclusões. Significativamente, os vários níveis de ensino se fizeram representar pelos homenageados na sessão da Assembleia.
No vasto espectro das atividades humanas, a de mestre (orientador e difusor do saber acumulado, e também pesquisador do que está por vir) avulta como a mais generosa de todas as qualificações, e foi precisamente para assinalar essa condição de deputada(e também professora) Maria José Rocha concebeu a memorável homenagem na Assembleia, no curso do qual os homenageados se fizeram ouvir pela palavra desse notável mestre- professor, geógrafo e cientista social- que é Milton Santos, um baiano universal, símbolo das melhores virtudes da sua terra.
Que aqui permaneça, pois, como um exemplo a ser sempre renovado, o registro do valor de uma categoria sempre injustiçada (a disídia governamental impõe o uso indispensável desse lugar comum) estimulando – a a levar adiante a sua missão social e pondo em relevo, pelo contraste, a omissão dos governantes – municipais, estaduais e federais- que insensíveis às carências do ensino público, dificultam o presente e inviabilizam o futuro do Brasil. Em geral refratários ás aspirações das gerações mais jovens, desejosas de assumir o lugar que lhes cabe no processo  de integração social a que são castigados pela dramática realidade do desemprego crescente, os governantes omissos em matéria de educação no Brasil estão assumindo- sem meias palavras ou tergiversações –uma conduta, muito mais do que irresponsável, verdadeiramente criminosa.

 

*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada por dois mandatos e é Psicanalista filiada à ABEPP.

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