Disputa por controle da Eldorado Celulose envolve hackers e vazamento de dados feito contra executivos
O executivo baiano Claudio Cotrim assumiu a liderança da multinacional chinesa Paper Excellence – Foto: Divulgação
A disputa que opõe a gigante brasileira J&F e a multinacional chinesa Paper Excellence, na busca pelo controle da Eldorado Celulose, continua a despertar a atenção e curiosidade de cada vez mais pessoas nas cenas empresarial e jurídica do país. São bilhões de reais em jogo, vários deles já depositados na Justiça até que se decida quem tem razão.
Após um desentendimento na conclusão da compra da participação da brasileira J&F na Eldorado Celulose S.A., foi realizada uma arbitragem para decidir quem tinha razão:
Se a multinacional chinesa, na sua alegação de que a empresa brasileira foi propositalmente desinteressada na reta final da conclusão do negócio.
Ou se tinham razão os empresários brasileiros, ao afirmarem que os chineses, com baixa liquidez financeira, levaram meses juntando trocados até conseguirem o valor total da operação.
A J&F explica que a Paper Excellence só conseguiu o dinheiro para a operação já na reta final do prazo do contrato, tornando virtualmente impossível realizar todos os procedimentos para concluir o negócio.
A arbitragem deu ganho de causa para os chineses. Entretanto, a Justiça brasileira reconheceu a existência de vícios graves na arbitragem. Dessa forma, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a decisão arbitral e garantiu a manutenção do controle da Eldorado Celulose para a brasileira J&F.
Esquema de espionagem
Os principais motivos para ainterferência do Judiciário brasileiro foi a relação, não revelada, de estreita proximidade entre um dos árbitros e um dos advogados da Paper Excellence (dividiam o mesmo escritório) e a descoberta de um esquema gigantesco de espionagem, hackeamento e vazamento de dados feito contra dezenas de executivos e advogados da empresa brasileira que participavam da disputa.
Com enredo Hollywoodiano, envolvendo a morte de hackers e a batalha de dezenas de advogados de lado a lado, inclusive o ex-presidente Michel Temer trabalhando para a empresa chinesa, o conflito parece ter alcançado seu ponto de inflexão com a descoberta da relação de proximidade do árbitro com o advogado dos chineses, bem como do gigantesco esquema de espionagem cibernética.
Baiano na trama
O executivo baiano Claudio Cotrim ,tradicional do setor de celulose, conforme apurou o grupo A Tarde, revelou a pessoas próximas sua preocupação com os rumos da investigação. Cotrim assumiu a liderança da empresa chinesa no Brasil e, desde então, tem conduzido direta e pessoalmente todos os aspectos da disputa jurídico-societária.
À medida em que as investigações do esquema vão se afunilando em torno de uma consultora especializada em espionagem e hackeamento, a paulista Moema Ferrari, que foi contratada justamente por Cláudio Cotrim, e das relações de proximidade entre o árbitro Anderson Schreiber e o advogado Guilherme Forbes, este também contratado por Cotrim, o Judiciário se agita diante da possibilidade de se revelar o mentor intelectual desses crimes.
A consultora já foi inclusive indiciada pela Polícia Civil de São Paulo por conta da sua atuação no esquema de espionagem cibernética que atingiu a J&F e duas dezenas de executivos e advogados.
Já o executivo baiano assume papel central na trama, na condição de único responsável pela contratação das pessoas que agora respondem pelos crimes sobre os quais se aprofunda a investigação da Polícia de São Paulo.
O caso agora inicia a fase de oitiva de testemunhas. As versões desencontradas agora serão submetidas ao crivo da Juíza Renata Maciel, da 2a Vara de recuperações e arbitragens de São Paulo, e a verdade dos fatos pode enfim aparecer.
Diferentes crimes
A pedido de A Tarde o respeitado e experiente criminalista, advogado Eduardode Vilhena Toledo, analisou o material da apuração do jornal e destacou: “Sem dúvida os fatos apurados até o momento flertam com a possibilidade de serem enquadrados nos crimes de invasão de dispositivos de informática, associação criminosa e lavagem de capitais dentre outros tipos penais”.
Procurada pela reportagem de A Tarde, a Paper Excellence afirmou, por meio de nota, que não faz comentários sobre processos judiciais “que correm em segredo de justiça e tampouco se manifesta sobre denúncias já investigadas e arquivadas por falta de provas pelas autoridades policiais e judiciais”.
Fonte: Portal A Tarde*