Em um mês, no dia 3 de novembro, os eleitores americanos vão às urnas decidir os rumos da maior economia do mundo nos próximos quatro anos. O Brasil ganhou atenção inédita na corrida eleitoral, ao ser citado por Joe Biden no primeiro debate entre ele e Donald Trump.
O candidato democrata à Presidência dos EUA disse que o país poderá sofrer “consequências econômicas significativas” se não implementar medidas para impedir o desmatamento da Amazônia.
Para economistas e analistas políticos, a agenda ambiental deve ganhar mais relevância globalmente numa eventual vitória de Biden, colocando o Brasil sob risco de retaliações, como sobretaxas ou desincentivo ao investimento de empresas americanas no país.
Um acordo comercial entre os dois países se tornaria algo ainda mais distante e uma eventual distensão na guerra comercial EUA-China poderia prejudicar as exportações agrícolas brasileiras ao país asiático, já que EUA e Brasil competem em diversos produtos, como soja e proteínas.
Uma vitória de Trump seria mais do mesmo, na visão dos analistas, mantendo a toada de poucos avanços para o Brasil, apesar das boas relações entre os dois presidentes.
Já um cenário de caos, caso o republicano conteste o resultado e o destino da maior democracia do mundo fique indefinido por semanas, pode mexer com o preço dos ativos brasileiros e globais no curto prazo e prejudicar a retomada da economia mundial num horizonte mais longo.
Já bastante incerta, a corrida eleitoral americana ganhou um elemento de instabilidade adicional na última semana, com a confirmação de que o presidente americano testou positivo para o coronavírus.
“O cenário mais provável hoje, que é uma vitória de Biden, traz incerteza para a relação bilateral e pode aumentar a percepção por investidores internacionais que o investimento no Brasil representa um risco, em função da volatilidade que a questão ambiental introduz”, diz Oliver Stunkel, professor de relações internacionais da FGV.
“No caso de vitória do Biden, a qualidade da relação entre Brasil e EUA deverá se assemelhar mais à relação que existe hoje entre o país e a União Europeia, marcada por muita desconfiança mútua, o que deve afetar a disposição do governo americano de avançar numa agenda de facilitação da relação comercial.”
Para o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, Biden pode retomar a busca dos Estados Unidos por uma influência mais forte nos organismos multilaterais, na contramão de Trump, que esvaziou a OMC (Organização Mundial do Comércio) e rompeu com a OMS (Organização Mundial da Saúde).
“O Brasil entraria em confronto com uma potência econômica que vai buscar reestabelecer seu soft power. Isso pode resultar em algum tipo de punição, por conta do comportamento brasileiro em temas que são muito caros ao multilateralismo, com destaque naturalmente para a questão ambiental”, diz Cortez.
Em um mês, no dia 3 de novembro, os eleitores americanos vão às urnas decidir os rumos da maior economia do mundo nos próximos quatro anos. O Brasil ganhou atenção inédita na corrida eleitoral, ao ser citado por Joe Biden no primeiro debate entre ele e Donald Trump.
O candidato democrata à Presidência dos EUA disse que o país poderá sofrer “consequências econômicas significativas” se não implementar medidas para impedir o desmatamento da Amazônia.
Para economistas e analistas políticos, a agenda ambiental deve ganhar mais relevância globalmente numa eventual vitória de Biden, colocando o Brasil sob risco de retaliações, como sobretaxas ou desincentivo ao investimento de empresas americanas no país.
Um acordo comercial entre os dois países se tornaria algo ainda mais distante e uma eventual distensão na guerra comercial EUA-China poderia prejudicar as exportações agrícolas brasileiras ao país asiático, já que EUA e Brasil competem em diversos produtos, como soja e proteínas.
Uma vitória de Trump seria mais do mesmo, na visão dos analistas, mantendo a toada de poucos avanços para o Brasil, apesar das boas relações entre os dois presidentes.
Já um cenário de caos, caso o republicano conteste o resultado e o destino da maior democracia do mundo fique indefinido por semanas, pode mexer com o preço dos ativos brasileiros e globais no curto prazo e prejudicar a retomada da economia mundial num horizonte mais longo.
Já bastante incerta, a corrida eleitoral americana ganhou um elemento de instabilidade adicional na última semana, com a confirmação de que o presidente americano testou positivo para o coronavírus.
“O cenário mais provável hoje, que é uma vitória de Biden, traz incerteza para a relação bilateral e pode aumentar a percepção por investidores internacionais que o investimento no Brasil representa um risco, em função da volatilidade que a questão ambiental introduz”, diz Oliver Stunkel, professor de relações internacionais da FGV.
“No caso de vitória do Biden, a qualidade da relação entre Brasil e EUA deverá se assemelhar mais à relação que existe hoje entre o país e a União Europeia, marcada por muita desconfiança mútua, o que deve afetar a disposição do governo americano de avançar numa agenda de facilitação da relação comercial.”
Para o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, Biden pode retomar a busca dos Estados Unidos por uma influência mais forte nos organismos multilaterais, na contramão de Trump, que esvaziou a OMC (Organização Mundial do Comércio) e rompeu com a OMS (Organização Mundial da Saúde).
“O Brasil entraria em confronto com uma potência econômica que vai buscar reestabelecer seu soft power. Isso pode resultar em algum tipo de punição, por conta do comportamento brasileiro em temas que são muito caros ao multilateralismo, com destaque naturalmente para a questão ambiental”, diz Cortez.
“É bem possível que o Brasil receba algum tipo de sobretaxação ou mecanismo punitivo para sinalizar ao eleitorado associado à esquerda do partido democrata, que tem a agenda ambiental como muito cara.”
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, um acordo comercial Brasil-Estados Unidos seria descartado nesse novo cenário.
“Acho difícil Bolsonaro e Biden sentarem numa mesma mesa, com tantas divergências em tantos campos, para negociar um acordo. Com Trump já é difícil isso acelerar pelas próprias dificuldades do processo, com Biden, essa discussão fica interrompida.”
Vale afirma que a disputa de poder entre EUA e China deve se manter, mesmo sob um governo democrata, mas que Biden pode adotar uma estratégia mais inteligente do que a guerra comercial, que prejudica o consumidor americano, ao encarecer os produtos.
Com isso, o Brasil pode perder a vantagem que obteve com a disputa, que ampliou as exportações de commodities brasileiras à China.
“A Ásia hoje é praticamente 50% das exportações brasileiras e a China está chegando a 30%. Temos um aumento da dependência em relação ao mercado chinês, principalmente em commoodities”, destaca Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento e atualmente estrategista de comercio exterior do banco Ourinvest.
“Se China e Estados Unidos chegarem a um acordo para diminuir tarifas impostas pelos americanos, com a China se comprometendo a comprar mais dos EUA, isso diminui compras do Brasil. Não que o Brasil vai deixar de vender, vai vender a outros mercados, mas pode não ser pelo mesmo preço, com a mesma regularidade e nas mesmas quantidades.”
Por outro lado, Barral avalia que uma distensão entre EUA e China pode ser favorável ao Brasil na questão do 5G, ao reduzir a tensão entre os dois países na disputa tecnológica e a pressão americana para que a Huawei seja descartada como fornecedora da tecnologia.
Caso Trump se reeleja, o cenário para o Brasil deve ser de continuidade, dizem analistas, sem avanços significativos na relação entre os países.
“É mais do mesmo. O Brasil se mantém como um país não importante para os Estados Unidos. Não é por um acaso que todo o esforço de política externa do Brasil não gerou nenhum efeito mais significativo, acumulando até mesmo derrotas”, diz Cortez, da Tendências.
Entre essas derrotas, os analistas citam a indicação de uma candidatura americana à presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), frustrando candidatura brasileira; a liberação para importação de etanol americano com tarifas zeradas; restrições às importações pelos EUA de aço brasileiro; e as críticas de Trump à resposta de Bolsonaro à pandemia.
Para os especialistas, porém, o pior cenário é o de caos após as eleições, com disputa jurídica e semanas de indefinição, criando muita incerteza e depreciação dos ativos dos países emergentes. O pior desse quadro é que ele deixa sequelas, avalia Stunkel, da FGV.
“Independentemente de quem se impor, enfrentará uma parte da população que questiona a sua legitimidade. Processos eleitorais muito controversos afetam profundamente a capacidade do governo depois confirmado no poder de aprovar projetos e articular um projeto econômico coerente. Isso é uma péssima notícia para a economia global.”
As informações são do JBr./Folhapress