
Miguel Lucena
A defesa do ex-presidente Fernando Collor recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar evitar que ele cumpra a pena a que foi condenado por corrupção. Alegam que o político alagoano sofre de bipolaridade e Mal de Parkinson.
Sobre o Parkinson, não há confirmação pública — mas a alegação de transtorno bipolar acende um alerta, ou pelo menos um flashback. Quem viveu os anos 90 lembra bem dos olhos arregalados, do dedo em riste e da frase que virou meme antes dos memes: “Eu sou normal!”. Gritava aquilo como quem tentava convencer a si mesmo. Oscilava entre surtos de euforia presidencial e momentos de isolamento paranoico — “não me deixem só”, implorava, enquanto a República desmoronava ao seu redor. Agora, décadas depois, volta o roteiro dramático, com pitadas de autopiedade. A Justiça avalia se os sintomas justificam o perdão. Mas o Brasil ainda não esqueceu os danos da sua “normalidade” no poder. E, francamente, traços nunca faltaram.