Eu amo os mortos – minhas homenagens póstumas a José Monir Nasser

0
Reprodução

 

Maria José Rocha Lima*

Hoje pela manhã, Miguel Lucena me lembrou do Dia de Finados, provocando-me:
— Maria, você não vive dizendo que ama os mortos, que suas grandes paixões atuais são os mortos? Por que não escreveu nada sobre o Dia de Finados?

É verdade! Descobri essa paixão pelos mortos — aparentemente mórbida — quando vivi uma fantástica aventura literária conduzida por José Monir Nasser, no programa Expedições pelo Mundo da Cultura. Após aquela jornada, li dezenas de obras clássicas que me fizeram compreender e amar os gênios da literatura, da filosofia, das ciências e das artes liberais que viveram antes de nós.

A morte de José Monir Nasser, em 2013, aos 55 anos, foi um baque na minha vida intelectual. Ele foi um dos mais brilhantes intelectuais liberais da história contemporânea brasileira. Iniciado nas artes liberais ainda aluno do Colégio Marista de Curitiba, já escrevia como crítico de teatro e cinema. Começou filosofia, mas trocou o curso por economia e letras. Formado, trabalhou como economista e consultor, mas sua vocação verdadeira era a cultura e a educação. Tornou-se palestrante, crítico literário, escritor, professor e estudioso das religiões comparadas.

Ganhou reconhecimento nacional com o projeto Expedições pelo Mundo da Cultura, realizado em São Paulo, Curitiba, Londrina e Paranavaí, reunindo milhares de alunos voluntários — empresários, estudantes, professores, economistas, profissionais liberais, presidentes de entidades e jornalistas.

O jornalista e escritor Paulo Briguet, também seu aluno, o definiu assim:

> “José Monir Nasser foi o pai intelectual de muita gente. Todos se tornavam alunos diante dele. Era um educador no sentido verdadeiro da palavra: ex ducare, conduzir para fora. Suas aulas sobre os grandes clássicos literalmente conduziam os ouvintes para fora da caverna da ignorância, mostrando-lhes a luz pura e espiritual do conhecimento.”

 

O projeto, realizado pelo Sesi Paraná, contou com patrocínio das empresas Volvo e Klabin, por meio do Programa Nacional de Incentivo à Cultura. Monir também fundou a consultoria Avia Internacional e a Editora Tríade, além de presidir, entre 2008 e 2011, a Aliança Francesa de Curitiba.

Além de ele próprio ter se tornado uma das minhas mais intensas paixões intelectuais, foi o responsável por despertar em mim novas paixões — por autores e obras adormecidas ou pouco exploradas. Como dizia José Monir Nasser:

> “Não somos nós que explicamos os clássicos; são eles que nos explicam.”

 

Em suas conferências e resenhas, Monir abordou cem obras fundamentais da literatura e da filosofia ocidentais. Após profunda imersão nesses textos, concluiu:

> “Neste mundo não vamos encontrar a tranquilidade. A paz definitiva só existe no Céu.”

 

Entre os autores estudados, estão Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Boécio, Dante Alighieri, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, Chesterton, Camus, Viktor Frankl, Ortega y Gasset, Joseph Conrad, Giovanni Reale, Stendhal, Olavo de Carvalho, Robert Musil, René Guénon, Aldous Huxley, Homero, Sófocles, Thomas Mann, Goethe, Cervantes, Molière, Tolkien, Ionesco, George Orwell, Manzoni, Tolstói, Julien Benda, Hesíodo, Balzac, Beckett, Camões, Gogol, Melville, Flaubert, Joyce, Hesse, Soljenítsin, Fernando Pessoa, Wagner, T. S. Eliot, Bernanos, Pirandello, Virgílio, Marcel Proust, Ibsen, e tantos outros — além de Mortimer J. Adler e Charles Van Doren, autores do clássico Como Ler Livros.

Para Monir Nasser, “não há como uma sociedade ser rica antes de ser inteligente.”

Obrigada, José Monir Nasser, por ter iluminado tantos caminhos — inclusive o meu.

*Maria José Rocha Lima é professora, mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia, doutora em Psicanálise e foi deputada estadual (1991–1999).

spot_img

Comentar

Please enter your comment!
Please enter your name here