Liderados por Mark Czeisler, pesquisador do Departamento de Psiquiatria do Brigham and Women’s Hospital, os cientistas avaliaram dados de cerca de 5 mil pessoas que responderam a questionários relacionados à rotina de sono
Durante a pandemia da covid-19, uma série de restrições sociais impostas para evitar a disseminação do novo coronavírus foi adotada, e essas mudanças acabaram afetando a qualidade do sono de muita gente. De acordo com especialistas dos Estados Unidos, esse cenário contribuiu para taxas mais altas de problemas mentais.
Liderados por Mark Czeisler, pesquisador do Departamento de Psiquiatria do Brigham and Women’s Hospital, os cientistas avaliaram dados de cerca de 5 mil pessoas que responderam a questionários relacionados à rotina de sono. Constataram que, durante a pandemia, a maioria dos avaliados passou a ir mais tarde para a cama, considerando os hábitos anteriores à crise sanitária.
A equipe também descobriu que aqueles participantes que dormiam menos de seis horas por noite antes e/ou no meio da pandemia tinham maiores risco de sofrerem com sintomas de ansiedade, depressão e esgotamento. “Cerca de 20% dos participantes com menos horas dormidas relataram sintomas de ansiedade ou depressão e 30%, de burnout. Além disso, 20% relataram um aumento no uso de substâncias para lidar com o estresse”, detalham os autores do artigo, publicado na revista Sleep Health.
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Os dados obtidos fazem parte dos primeiros passos para compreender melhor a relação entre o sono e problemas comportamentais, avalia Czeisler. “Não entendemos ainda muito bem essa relação — o grau em que a saúde mental influencia o sono e como o sono influencia a saúde mental —, mas já temos evidências do importante papel das horas que dormimos durante a pandemia”, diz. “Fazer um esforço para priorizar o sono e desenvolver um horário regular para ir para cama pode oferecer proteção durante esses períodos de crise. Isso nós podemos dizer com certeza.”
Para Rafael Vinhal, psiquiatra do Instituto Castro e Santos e do Hospital Santa Marta, em Brasília, o estudo americano acende uma luz de alerta principalmente para pessoas com problemas comportamentais. “Esse estudo vai de encontro a diversos outros que correlacionam o bom sono com a estabilidade emocional, bem como a privação de sono, com sintomas ansiosos, depressivos, de irritabilidade e até mesmo ideação suicida”, diz. “Para quem tem disponibilidade em apresentar transtornos mentais ou para quem tem essas enfermidades instaladas, é fundamental que haja uma priorização da qualidade do sono.”