Publicações como o Breitbart, Newmax e dois sites russos estão entre as que lucram no Facebook como negacionistas das mudanças climáticas, de acordo com relatório do Centro de Combate ao Ódio Digital.
Dez publicações online carregam 70% do conteúdo negacionista que circula no Facebook sobre o impacto que as mudanças climáticas têm no planeta, de acordo com o levantamento do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH na sigla inglês). Denominados “Dez Tóxicos”, esses superpoluidores da desinformação receberam 1,1 bilhão de visitas em seis meses e contabilizam 186 milhões de assinantes nas plataformas de mídia social mais populares.
“Eles espalham negações climáticas infundadas e não científicas e criam a sensação de que há um debate mais amplo do que realmente é. O objetivo é aproveitar o poder das plataformas da mídia social para disseminar o ceticismo e evitar o consenso sobre os fatos e soluções”, atesta Imram Ahmed, diretor do CCDH.
A deturpação de dados ajuda a minar a confiança nos especialistas em ciência climática, enquanto 196 países estão reunidos em Glasgow, na Escócia, para elaborar um plano de ação que reduza os gases do efeito estufa. Recentemente, segundo o estudo, essas publicações propagaram conteúdo falso sobre a Covid-19 e sobre fraudes nas eleições americanas.
Dos “Dez Tóxicos” apontados pela entidade que rastreia o ódio digital, o site de notícias de extrema direita Breitbart, alinhado à direita alternativa e que foi dirigido por Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, é o mais influente.
Entre eles, figuram também o canal de notícias Newsmax, que difundiu teorias conspiratórias sobre fraudes durante as eleições americanas, e o Western Journal, um dos promotores da tese infundada de que o ex-presidente Barack Obama é muçulmano. Dois são russos e integram a mídia estatal controlada pelo Estado: o RT.com e o Sputnik News.
O CCDH analisou 6.983 artigos que negam os efeitos das mudanças climáticas apresentados em postagens do Facebook com 709.057 interações. Constatou que em 92% não apareciam os rótulos que a plataforma de mídia se comprometeu a inserir para combater a desinformação sobre a crise climática.
Oito dos dez superpoluidores geraram receita de US $5,3 milhões do Google Ads nos últimos seis meses. Os autores do estudo recomendam às plataformas que parem de receber pagamentos destas publicações.
“Enquanto o Facebook e o Google continuarem fazendo negócios com os negadores do clima, eles não podem alegar que são ‘verdes’. Eles devem isso a nós e ao planeta que todos nós compartilhamos, para cumprir”, resume Ahmed.
Veja o que relata o Centro de Combate ao Ódio Digital sobre os dez superpoluidores apontados em seu estudo:
- Breitbart – Site de notícias de extrema direita que já foi dirigido por Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca.
- Western Journal – Site de notícias conservador que propagou desinformação sobre a origem de Obama
- Newsmax – Processado por promover conspirações de fraude eleitoral
- Townhall Media – Fundado em 1995 pela Fundação Heritage, que recebeu financiamentos da indústria de combustíveis fósseis para fazer lobby contra a política climática.
- Media Research Center – “Think tank” fundado em 1987 pelo ativista político Brent Bozell, que se intitula como “cão de guarda da mídia americana”. O grupo atacou a cobertura da mídia sobre a ciência do clima.
- Washington Times – Fundado pelo autoproclamado “messias” Sun Myung Moon, é um jornal diário que se apresenta como “um contrapeso de confiança para a grande mídia. Seus editoriais incluíam um artigo intitulado “Não há emergência do clima”, escrito pelo diretor da negacionista Coalizão CO2.
- The Federalist Papers – Site que também promoveu a desinformação sobre a Covid.
- Daily Wire – Fundado em 2015 pelo comentarista Ben Shapiro e pelo bilionário Farris Wilkes, o site de notícias conservador arrecadou no ano passado US $65 milhões em receita por meio de anúncios e assinaturas. A plataforma rejeita o consenso científico sobre mudança climática e chegou a tuitar que não é uma ameaça existencial para o ser humano.
- Mídia estatal russa – Divulga desinformação via RT.com e Sputnik News.
- Patriot Post – Site conservador fundado em 1996, cujos escritores usam pseudônimos.