Estudantes participam de palestra com Nobel da Paz na UnB
Kailash Satyarthi, ativista indiano pelos direitos das crianças e ganhador do Nobel da Paz, que libertou mais de 80 mil crianças do trabalho escravo, esteve na universidade nesta quinta
“Esta sala é cheia de luz, mas não é a que vem de fora e, sim, de cada um que aqui está. A sala está cheia de energia que não vai mudar só Brasília, mas o mundo”. Estas foram as palavras ditas pelo Nobel da Paz Kailash Satyarthi aos mais de 200 adolescentes que assistiram a sua palestra na Universidade de Brasília (UnB) na manhã desta quinta-feira (17/10).
Estudantes e professores do ensino médio de escolas públicas brasilienses prestigiaram o ativista dos direitos das crianças e ganhador do Nobel da Paz em 2014. Ao longo de mais de 25 anos de ativismo, Satyarthi tirou da escravidão mais de 80 mil crianças na Índia, além de muitos outros adultos que viviam da mesma forma. Outra iniciativa criada por ele foi o selo “Rugmark” ou “GoodWave”, que certifica tapetes e carpetes fabricados sem mão de obra infantil.
Satyarthi apontou que o mundo pertence a todos os seres e todos são responsáveis por ele e por toda a vida. Para ele, as separações feitas no mundo são fruto de criações de pessoas poderosas. “Adultos e ‘sábios’ criaram essas separações. Vocês acham que essas pessoas que estão em posição de poder estão fazendo algo para mudar [essas desigualdades]? Acham que vão acabar com a pobreza, trabalho infantil, assegurar a segurança para cada jovem e adolescente no mundo? A educação pública tem que ser de qualidade. Eu não sou o único Kailash, há muitos outros”, afirmou.
O Nobel apontou que não é preciso ser um grande líder de uma nação ou um dos 20 laureados para fazer a diferença. Basta apenas mudar a atitude e agir. “Talvez [a mudança do mundo] não comece este ano, ou no próximo, mas não é preciso ser um presidente para acontecer”, reforçou.
O ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Lélio Bentes Correa também prestigiou o indiano e reforçou: “A luta pela afirmação incessante de uma sociedade comprometida com os direitos globais é diária. Ninguém solta a mão de ninguém”.
Catarina de Almeida Santos, professora da Universidade de Brasília e coordenadora do Comitê Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, pediu que os adolescentes lutem não só pela manutenção da UnB, mas também da escola pública para que nenhuma criança deixe de estudar. “Estamos lutando para que as escolas não sejam militarizadas, para que possam manifestar as suas particularidades, para que possa ser uma escola das crianças adolescentes e adultos que não puderam estudar”, disse.
Participante da coordenação dos jovens da 100 milhões no Brasil, Alana Mangueira, 21 anos, contou que iniciou sua trajetória no movimento aos 12 anos. Ela contou que o que a faz continuar nesse ativismo é saber que é possível mudar não só o nosso país, mas o mundo. “Acreditar que é possível mudar as realidades, são as pequenas ações que têm esse efeito. A gente começa na nossa casa, escola e, em breve, é a comunidade, a cidade o país e muitos outros países”, apontou.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelou que, ao menos 1,8 milhão crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, trabalham no Brasil, e 190 mil têm de 5 a 13 anos.