Cientistas encontraram besouros bem preservados em fezes de dinossauro e reconstruíram a espécie de 230 milhões de anos, denominada “Triamyxa coprolithica”
Há aproximadamente 230 milhões de anos, um dinossauro Silesaurus opolensis engoliu vários besouros. O que era somente parte de uma refeição comum para o réptil é visto atualmente como uma descoberta importante: graças a ela, cientistas conseguiram, pela primeira vez, descrever um inseto a partir de fezes fossilizadas.
Publicada no periódico Current Biology nesta quarta-feira (30), a pesquisa traz detalhes sobre o Triamyxa coprolithica, que representa os besouros Myxophaga — uma família de insetos até então desconhecida. A espécie tinha um corpo que media de 1,4 a 1,7 milímetros, asas com 0,5 milímetros de largura e vivia em ambientes semiaquáticos ou úmidos.
Foi por meio de uma amostra de cocô fossilizado (tecnicamente chamada de coprólito) e do método de microtomografia síncrotron que os pesquisadores conseguiram reconstruir o besouro pré-histórico. A tecnologia funciona como uma tomografia com fortes feixes de raios X e possibilita a visualização de estruturas internas em fósseisem três dimensões, com bom contraste e boa resolução.
“Eu fiquei impressionado ao ver quão preservados os besouros estavam”, afirma, em nota, o paleontólogo e pesquisador Martin Qvarnström, da Universidade de Uppsala, na Suécia. “Quando os modelamos na tela, parecia que eles estavam olhando diretamente para nós”, complementa.
Os autores do artigo se depararam com muitas partes de besouros no fóssil. Alguns insetos estavam quase completos, com pernas e antenas ainda intactas. Segundo Qvarnström, a conservação possivelmente foi favorecida pelos elementos fósforo e cálcio presentes no coprólito. “Junto com a mineralização precoce por bactérias, isso deve ter ajudado a preservar esses fósseis delicados”, explica.
Além de descrever a espécie Triamyxa coprolithica, os pesquisadores conseguiram descobrir que o dinossauro Silesaurus opolensis, que habitava a região onde hoje fica a Polônia, provavelmente era onívoro.
“Apesar de ele ter ingerido muitos indivíduos Triamyxa coprolithica, o besouro era muito pequeno para ser a única presa”, avalia Qvarnström. “Acreditamos que o Triamyxa dividia seu habitat com besouros maiores, representados por restos desarticulados no coprólito, e outras presas não identificadas no fóssil.”
Os especialistas defendem também que os resultados servem como um alerta para que mais pesquisadores estudem coprólitos. Não apenas o material pode ser útil para entendermos a dieta de animais vertebrados extintos, como também uma fonte de conhecimento sobre a evolução dos insetos.
“Não sabíamos como os insetos eram no período Triássico, mas agora temos essa oportunidade”, comenta o pesquisador e entomologista Martin Fikáček, da Universidade Nacional Sun Yat-sen, em Taiwan.
Fonte: Revista Galileu