A oficialização de obra de Dalcídio Jurandir como patrimônio cultural traz a visibilidade merecida a um dos maiores nomes da literatura brasileira

Dalcídio Jurandir (1909-1979), apesar de ser um nome muitas vezes esquecido, deixou um legado literário de relevância incontestável. Entre 1941 e 1978, o escritor paraense publicou uma série de romances inovadores que, embora cruciais para a literatura brasileira, não receberam o reconhecimento que mereciam. Sua obra vai além do regionalismo, oferecendo uma visão complexa e profunda da Amazônia e das questões sociais e humanas da região.
Em 2025, a obra de Jurandir foi finalmente reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Pará, um marco que destaca sua importância não apenas para o estado, mas também para a literatura brasileira e mundial.
Seu romance mais famoso, “Chove nos Campos de Cachoeira” (1941), exemplifica a profundidade da sua escrita. A história de Eutanázio, protagonista do livro, vai além de um retrato da vida isolada na Amazônia. A angústia do personagem ecoa as questões universais da exclusão e do abandono, capturando a essência humana de um modo que muitos leitores da época não estavam preparados para compreender.
Influenciado pela literatura russa, especialmente por Dostoiévski, Jurandir não se limita a descrever cenários, mas se aprofunda no psicológico de seus personagens. A realidade social da Amazônia é, para ele, um reflexo das questões existenciais que atravessam todas as épocas e culturas. Sua obra conecta questões locais a dilemas universais, desafiando a ideia de que a literatura de um autor deve ser limitada a um espaço geográfico específico.
Em vez de se conformar com os rótulos, Dalcídio Jurandir provou que sua literatura é uma reflexão profunda sobre a condição humana. Sua escrita oferece muito mais do que uma simples crônica de uma região. É um convite a refletir sobre a identidade, a marginalização e a luta por uma história que não é contada. Ao invés de ser um “grande autor regional”, Jurandir é, sem dúvida, um dos maiores nomes da literatura mundial.
Fonte: Revista Forum