Maria José Rocha Lima*
Hoje, fiquei muito emocionada ao receber do jovem Mateus Ribeiro, do estado do Pará, solicitação de um artigo que escrevi, há alguns anos, falando da importância da escola pública ser bonita, limpa e organizada e do professor se vestir, adequadamente, para ir dar aulas. Esses alunos das classes populares, quase sempre, precisam de modelos positivos de identificação. Mateus, que foi vencedor do Concurso de Curtas sobre a Lei Maria da Penha, me pediu o artigo porque, atualmente, tem um programa radiofônico e deseja discutir estas questões.
Na época em que escrevi, o artigo mereceu um belo comentário da baiana Adele Bei Carmo. Ela nos conta que a sua irmã ia dar aulas sempre muito arrumada, considerando dar aula, da mesma forma, que ir a um rito solene, religioso, importante. Para ela, dar aula era como ir a um encontro com pessoas merecedoras de respeito e dignidade, e sofreu muitas críticas dos seus colegas professores. Os colegas a acusavam de afrontar os “alunos pobrezinhos”. A professora não cedeu e chegou à aposentadoria vestindo – se à altura da missão de mestra. A professora não confundia miséria material com miséria intelectual, tratava seus alunos com muito respeito, se apresentava para eles como devemos nos apresentar para cumprir missões importantes. A aula é um rito, que deve conter uma ordem e uma determinada cerimônia. Quando em nosso dia a dia temos alguma obrigação a cumprir, seja ela profissional, social ou de lazer, nos preocupamos com nossa higiene pessoal e também com nossa aparência. Quando estamos para participar em corpo e alma de cultos religiosos, para demonstrar a nossa fé, o nosso amor; o nosso respeito, cuidamos de cada gesto, das palavras, da postura do corpo. Tanto o vestir como o gesto solene, ambos dão força ao ato, à palavra. Antigamente quando a professora entrava na sala de aula, todos os alunos ficavam de pé, numa atitude de respeito e na expectativa de ouvir a sua palavra. A palavra e as vestes lembram a dignidade e o respeito que os alunos devem ao professor. E para os nossos alunos convém servirmos de modelos, especialmente os das classes populares que, muitas vezes, não têm na família modelos de identificação. Com o direito e o respeito que merecem os alunos das classes populares, devemos oferecer-lhes oportunidades de acesso ao belo, à arte, às regras de convivência e de etiqueta, aos bens que propiciam conforto e bem estar,.e assim eles apreciarão e, melhor, usufruirão dos bens da sociedade.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutora em educação e psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É diretora administrativa da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP. Filiada à Soroptimist International SI Brasília Sudoeste.