O prefeito decretou a medida por três meses, na noite desta quarta-feira (5), e anunciou que ela pode ser prorrogada.
Após mais de uma semana de protestos que deixaram ao menos 24 mortos na Colômbia, a cidade de Cali, epicentro das manifestações, está sob estado de emergência – o prefeito decretou a medida por três meses, na noite desta quarta-feira (5), e anunciou que ela pode ser prorrogada.
Desde 28 de abril, as manifestações contra o presidente Iván Duque foram duramente reprimidas, e a cidade, uma das mais afetadas, mergulhou em violência. Em resposta ao fechamento de ruas e aos bloqueios de estradas, que provocaram desabastecimento de combustível e de medicamentos em meio à pandemia de coronavírus, o governo enviou forças do Exército a Cali.
De acordo com a Defensoria Pública, 17 das mortes contabilizadas nos protestos ocorreram no departamento de Valle del Cauca, onde fica Cali. O estado de emergência decretado pelo prefeito Jorge Iván Ospina permite que a administração faça alterações no orçamento e na destinação de recursos públicos e relaxa regras de contratos que normalmente exigem licitação.
A medida está prevista no Estatuto da Contratação da Administração Pública para tratar de situações excepcionais que afetem “o fornecimento de bens ou a prestação de serviços, ou a execução de obras”. Segundo o prefeito, o decreto tem como objetivo “satisfazer as necessidades da população e fortalecer as ações que visam a proteção dos moradores de Cali”.
A nova medida se soma ao toque de recolher –entre às 20h e às 5h– e à lei seca instituídos na cidade, que seguem em vigor até pelo menos 14 de maio. A violência dos protestos contra o governo colombiano estourou na cidade chamada de “capital do pós-conflito”, uma das mais pobres do país, onde o acordo de paz assinado com a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 2016, não trouxe a calma esperada.
A situação foi agravada pela crise econômica desencadeada pela pandemia –que afetou a indústria, o comércio e a agricultura. Em Cali, a pobreza atinge 36,3% da população e a taxa de homicídios é de 43,2 mortes por 100 mil habitantes, contra 23,79 no país.
Kevin Agudelo, 22, participou nesta segunda-feira (3) de uma vigília em Siloé, uma favela de Cali. Sua mãe, Angela Jiménez, lembra que ele prometeu não chegar perto dos “tumultos”, mas foi a última vez que ela viu o filho.
De acordo com depoimentos coletados pela agência de notícias AFP, a tropa de choque e as forças especiais atacaram o protesto pacífico. Agudelo foi morto com outras duas pessoas, todas baleadas, segundo fotos e vídeos.
“Tivemos que nos esconder porque ficamos medo”, conta um dos participantes do evento que pediu para não revelar sua identidade. “O que fiz foi correr para tentar salvar minha vida.” Na mesma noite, Daniela León foi pega no meio de confrontos entre as forças de segurança e manifestantes que tentavam tomar um pedágio em Palmira.
“O confronto aconteceu no momento em que [os manifestantes] estavam a cerca de 500 metros do pedágio e todo o pelotão atacou”, descreveu a ativista. Segundo León, os manifestantes “começaram a entrar no mato para se proteger dos gases”. Dezessete pessoas que fugiram entre os canaviais continuam desaparecidas, segundo números que coincidem com os oficiais.
A tensão na Colômbia gerou manifestações da ONU, da União Europeia, dos EUA e de ONGs de direitos humanos, que denunciaram o uso desproporcional de força pela polícia para controlar os protestos. Nesta quinta-feira (6), grupos menores de manifestantes foram às ruas novamente. Depois de uma noite violenta em Bogotá no início desta semana, as coisas se acalmaram, disse a prefeita Claudia Lopez em um comunicado, acrescentando que mais 23 civis e seis policiais ficaram feridos, mas sem gravidade.
Pequenos grupos também marcharam em Medellín, mas se dissiparam em meio a fortes chuvas, disse um porta-voz do gabinete do prefeito à agência de notícias Reuters. Em meio a pressão das ruas, o governo do presidente Iván Duque prometeu nesta quarta-feira (5) que vai ouvir os manifestantes para buscar um consenso que ponha fim à crise, mas acusou grupos criminosos de estarem por trás da violência nas ruas.
As informações são da FolhaPress