
Zeugma Santos
O que foi, volta a ser. O que já se fez, continua sendo feito.
Nada é realmente novo debaixo do sol.
Há dias em que ler é mais perigoso do que falar.
Foi numa dessas leituras simples, de fim de tarde, que Doutor Jivago me parou.
Não pelo amor, nem pela guerra, nem pelas ideologias atravessadas na narrativa.
Foi por causa de uma ausência.
Ou melhor: por causa de alguém que não estava mais ali quando tudo terminou.
Lara.
Ela atravessou o livro inteiro com os ombros curvados, mas com a alma firme.
Foi amor, foi apoio, foi resistência.
Ficou quando tantos se foram.
E, mesmo assim, desapareceu da história como se nunca tivesse existido.
O nome dela não está na capa.
E quando Yuri partiu, ninguém mais falou de Lara.
A narrativa seguiu, como se ela fosse apenas um detalhe.
Mas foi ela quem sustentou páginas inteiras.
Se isso foi esquecimento ou intenção, não sei.
Mas sei que muitas “Laras” andam por aí.
Gente que segurou o mundo nos braços, que costurou memórias, que atravessou histórias —
e, no fim, sumiu dos registros.
A história tem esse dom estranho de escolher quem chama de herói.
Nem sempre é quem ficou de pé.
Às vezes, é só quem sobreviveu melhor ao enredo.
E ainda assim, Lara permaneceu.
Sentada num banco, com a neve caindo devagar sobre o chapéu.
Ficou na carta que ninguém leu.
Na palavra que não coube no parágrafo.
No silêncio que grita entre uma página e outra.
Quem lê com os olhos mais atentos vai vê-la lá, quieta.
Esperando o tempo em que a história, finalmente, se lembre de quem realmente ficou.



Lara pode ser uma dona de casa,pode ser a mãe que leva o filho pro colégio,depois o filho se torna muito famoso…
Me vejo no meu cantinho hoje me incendiando com a a ausência de Lara.
Obrigada pelo jornal .
Por permitir meu desabou.
PARABÉNS ZEUGMA SANTOS.
por mostrar essa Lara que também não percebi
Um sacode na nossa reflexão! Parabéns minha amiga por essa visão paradoxal do tempo que apaga memórias!
Sim. Há muitas Laras e ainda vão existir muitas mais. Verdadeiros heróis caem no esquecimento do ser humano mas não no esquecimento de Deus. Quando eles se vão, vão para os braços do Pai viver na glória Dele.
Também somos e seremos Laras. Verdade!