Segundo Lídia Dantas, a nova onda de internações no hospital é muito pior do que a registrada no ano passado
A rotina dentro do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) não tem sido fácil para a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas, 31 anos, primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Distrito Federal. Segundo a profissional, a situação nas últimas semanas faz parecer que o começo da pandemia, nos meses de abril e maio de 2020, “foi tranquilo”.
Lídia trabalha no box de emergência. Ela afirma que o local virou praticamente mais uma unidade de terapia intensiva (UTI), tamanha a demanda. “Estamos recebendo pacientes em estado grave que aguardam um leito. A diferença é que essas pessoas já chegam muito graves. Ano passado, a gente ainda conseguia estabilizar o paciente, transferir. Agora, nem isso”, comenta.
A enfermeira do Hran conta que, até pouco tempo atrás, o espaço em que ela atua acomodava seis pessoas. Foi criada a possibilidade de comportar mais três pacientes, o que impossibilita rotatividade de atendimento. “Todos demandam um esforço muito grande. É gente que está com saturação de oxigênio em 70%, 80%, e precisa ser logo intubado”, relata.
Um fato que chama a atenção da enfermeira é a mudança do perfil de pessoas que chegam ao Hran. “Temos gestantes, puérperas e muito jovens. Dos nove que estavam internados esta semana conosco, seis tinham menos de 40 anos”, destaca. Lídia pontua que, mesmo sem comorbidades, os pacientes têm apresentado pouca resistência à doença. “O pulmão fica muito comprometido.”
Sobrecarga de trabalho
Lídia conta que já está no limite de hora extra que pode fazer, tendo um dia de folga por semana, apenas. A situação ocorre com os colegas também, que já apresentam cansaço extremo. “Tem gente com sintomas de depressão, síndrome de Burnout. A gente faz o máximo, mas, às vezes fica, um enfermeiro para atender 80 pessoas”, comenta.
A notícia boa é que a imunização reduziu o número de afastamentos no Hran, o que evita problema ainda maior no atendimento. “Acho que foram apenas dois até agora. Mesmo vacinados, nós todos continuamos tendo todos os cuidados. A vacina não evita que sejamos contaminados, apenas que tenhamos a forma mais grave da doença”, lembra.
Lídia, que lida diariamente com situações complexas, lamenta que ainda existam cidadãos e cidadãs que deixam de levar a doença a sério. “O problema é que as pessoas não têm a vivência que temos. Enquanto não acontece com alguém da família ou com ela própria, não muda a cabeça”, pontua.
Pior ainda, na concepção da enfermeira, são aqueles que tiveram a doença, não desenvolveram sintomas e falam como se isso fosse a regra. “É muita gente espalhando que é só uma gripe, e isso atrapalha demais”.
*Com informações do Metrópoles