Ontem, a taxa de transmissão da covid-19 voltou ao índice 1 no DF, acima desse número considera-se que a pandemia está fora de controle. Ibaneis Rocha anunciou vacinação para o público infantil até o fim do mês com a chegada de doses
Até o fim deste mês, crianças de 5 a 11 anos poderão começar a ser vacinadas contra a covid-19 no Distrito Federal, segundo anunciado, ontem, pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). A notícia vem num momento em que os números de infectados têm subido noa capital federal. Ontem, a Secretaria de Saúde do DF (SES DF) informou que a taxa de transmissão aumentou para 1, ou seja, um grupo de 100 pacientes transmitem o vírus para outras 100 pessoas. Quando o resultado desse índice está acima de 1 significa que a doença é considerada fora de controle.
A imunização das crianças ocorrerá assim que as doses forem enviadas pelo Ministério da Saúde (MS). O anúncio tem sido aguardado desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação de doses da Pfizer para esse público.
O chefe do Executivo local afirmou que pretende seguir “integralmente” as posições adotadas pelo governo federal para a vacinação das crianças. ” A data quem deu foi o Ministério da Saúde, ou seja, segunda quinzena de janeiro”, destacou o governador ao Correio.
Segundo boletim epidemiológico da SES-DF, desde o começo da pandemia, mais de 13 mil crianças de 2 a 10 anos residentes do DF contraíram o novo coronavírus. O levantamento traz, ainda, os dados completos de infecções e mortes causadas pela covid-19. Ontem, foram notificados 727 novos casos, 462 infectados a mais do que os divulgados pela pasta na sexta-feira, onde 265 pessoas testaram positivo. O total de casos no DF alcançou 520.538 mil pessoas. Em relação às mortes, foram notificados dois óbitos ontem, chegando ao total de 11.110 óbitos.
Ômicron
Enquanto isso, a infecção pela nova variante, a ômicron, foi confirmada em 26 pessoas em Brasília e as autoridades de saúde constataram a transmissão comunitária na capital federal. Na semana passada, a SES-DF afirmou que três pessoas infectadas não viajaram ou tiveram contato com infectados que estiveram em outros países, sendo duas mulheres e um homem, com idades entre 30 e 49 anos.
Na avaliação do pesquisador do Centro Universitário Iesb e doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, Breno Adaid, a perspectiva após as festividades são maiores incidências das infecções respiratórias. “Talvez esse aumento seja parcialmente mascarado pelo fato de que temos também um surto de H3N2 com sintomas parecidos. No entanto, é só observar os exemplos em outros países, com máximas de novos casos chegando a três vezes o topo anterior”, destacou o especialista.
Segundo Breno, estudos científicos sugerem que as duas doses da vacina conferem “um nível relativamente baixo de proteção contra o contágio”, porém garantem um efeito na prevenção de casos graves da covid-19. “Temos ainda uma quantidade enorme de pessoas para receber o reforço. No entanto, como foi o caso das outras variantes, a parcela mais vulnerável já se encontrava vacinada, isso favoreceu fortemente a queda do número de casos graves e óbitos”, pontuou Adaid.
Para o especialista, esse cenário de vacinação e doses de reforço para os mais vulneráveis, juntamente com os dados preliminares que indicam uma letalidade menor da ômicron as perspectivas são animadoras. “De acordo com os dados já disponíveis, devemos ter em torno de 50 a 70% menos internações”, completou o especialista. “Os estudos que verificaram os impactos na África estimaram, preliminarmente, em quatro vezes menor a quantidade de mortes causadas pela delta”, ressaltou Breno.
Entretanto, ele alerta que, apesar da redução na letalidade, a ômicron é mais contagiosa. “Verifica-se, preliminarmente, uma quantidade expressivamente inferior de casos graves e mortes , no entanto, em contrapartida é demonstrado um contágio elevadíssimo, cerca de três vezes mais contagiosa que a delta”, acrescentou Breno.
O especialista explicou que ainda é cedo para cravar uma taxa, com segurança, para a eficácia das vacinas e a taxa de mortalidade. “Os casos subiram muito fortemente em um período muito curto de tempo, e a análise da proporção de infectados frente ao número de mortes requer uma comparação mais longitudinal”, observou Adaid.
Questionada sobre possíveis medidas restritivas e preventivas para evitar o colapso nos hospitais e o aumento descontrolado no número de casos de coronavírus, a Secretaria de Saúde ressaltou que “trabalha ininterruptamente no controle e monitoramento da covid-19 no Distrito Federal desde o início da pandemia”. Além disso, a pasta garante que ampliou a testagem contra a doença, fazendo o teste tanto em pessoas com sintomas como àqueles assintomáticos. “A estratégia visa diminuir a transmissão da variante ômicron e, consequentemente, frear o aumento de casos para evitar uma sobrecarga na rede”, afirmou a secretaria.
A pasta destacou que possui cerca de 700 mil testes rápidos que estão disponíveis em todas as unidades básicas de saúde, além de pontos estratégicos, como na 612 sul, 114 norte, Rodoviária e Aeroporto. A SES também ressaltou que criou o gabinete de crise e monitora a situação geral com relação ao abastecimento de insumos, força de trabalho e processos em andamento. “Agora, no fim do ano, foram iniciados vários processos de compras de medicamentos, EPIs e insumos gerais a fim de evitar o desabastecimento da rede”, esclareceu em nota.
Gripe lota hospitais
Em plena época de verão, os brasilienses têm enfrentado um surto de gripe na capital. Pacientes com sintomas de febre, coriza e dor no corpo tem procurado as emergências de hospitais públicos e particulares. Com base no Informativo Epidemiológico de Monitoramento da Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave da Secretaria de Saúde, em 2021, foram realizadas 1.461 coletas nas unidades de saúde da Síndrome Gripal (SG). Dessas, 660 foram positivas para vírus respiratórios, sendo que três apresentaram coinfecção (vírus sincicial respiratório – VSR com covid-19 e duas rinovírus com SARS-CoV-2).
Entre as amostras positivas para vírus respiratórios, 42 pessoas contraíram o Rinovírus; 26, o Vírus Sincicial Respiratório; cinco o Adenovírus; um, o Parainfluenza 1; dois, o Parainfluenza 2; dois, o Parainfluenza 3; e um, o Metapneumovírus. O DF também registrou oito casos de infecção pelo vírus influenza em 2021, sendo três de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) confirmados como Influenza A H3N2 e cinco não subtipados. Desse total, cinco pessoas necessitaram de internação hospitalar e outras três foram diagnosticadas com síndrome gripal e que não precisaram de internação. Isso indica que o número de casos da doença tem se mantido dentro do esperado até o momento.
Em nota, a Secretaria de Saúde esclareceu que, em função dos aumentos de casos de Influenza registrados em todo Brasil, inclusive no Distrito Federal, tem registrado um aumento na demanda de todos os hospitais da rede. “A direção do Hospital da Região Leste (HRL) informa que, apesar deste aumento, o atendimento não chegou a ser interrompido na unidade. O Pronto Socorro segue funcionando sem restrições ou superlotação”, frisou a pasta. De acordo com o órgão, todos os pacientes serão atendidos dentro das capacidades de operação do HRL e, no momento, o tempo de espera de atendimento para pacientes sintomáticos respiratórios é de aproximadamente duas horas.
Ainda em nota, a secretaria afirmou que, em 2021,recebeu 1,1 milhão de doses da vacina Influenza, e já aplicou 91% deste total na população. Quem desejar se vacinar, pode pesquisar os pontos disponíveis no site: https://www.saude.df.gov.br/locaisdevacinacao/
Marcos Pontes, clínico geral, afirma que o DF está em uma situação atípica, uma vez que quadros como esse são comuns acontecerem no inverno ou outono. “Os vírus da Influenza não trazem aquela reação inflamatória que a covid-19 ocasiona. A H3N2 tem mostrado acometimento mais agravante do que os vírus anteriores, mas não tem causado aumento no número de mortes”, destacou.
Segundo o médico, os sintomas de gripe, geralmente, são coriza, tosse seca, irritação nasal, conjuntivite, olho vermelho e, para evitar o vírus, os mecanismos são os mesmos que o da covid-19, como a higienização das mãos, uso de álcool em gel e máscara.
O chefe da Comissão de Controle de Infecção (CCIH) do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior, afirma que o surto de gripe no DF começou há cerca de três semanas e citou como exemplo o aumento no número de atendimentos na unidade onde trabalha. “Triplicou. Só ontem, foram 150 atendimentos pela manhã”, disse. Segundo o infectologista, em 80% dos casos, os pacientes apresentam quadros leves de resfriados. “Os hospitais acabam ficando lotados sem muita necessidade. É importante o paciente procurar a emergência aqueles que apresentam sintomas persistentes ou com comorbidades”, alertou.
O médico atenta, ainda, para a baixa adesão à vacinação da gripe na época em que houve a campanha, o que pode ter ocasionado o aumento acelerado dos casos. “Entre novembro e dezembro, aquelas atividades proibidas ou restritas ao público voltaram a ser liberadas e houve maior aglomeração. Então, se há mais pessoas perto uma da outra, mais o vírus se alastra”, destacou.
O Correio também procurou a assessoria da Rede D’Or Brasília, que atende os hospitais Santa Luzia, Santa Helena, do Coração e DF Star. Em nota, a empresa respondeu que os respectivos estão, em média, com um volume de atendimento em seus prontos-socorros 70% maior do que o habitual. Explicou, ainda, que o aumento deve-se principalmente ao surto de síndrome gripal e ressaltou que a maioria dos casos, provocados pelo vírus Influenza, são de pouca gravidade.