O líder da Igreja Católica disse se sentir “muito entristecido” pelo naufrágio de mais um bote com migrantes e refugiados na rota entre o norte da África e o sul da Europa
Em uma crítica velada aos países europeus, o papa Francisco afirmou neste domingo (25) que causa “vergonha” a tragédia que matou mais de 100 pessoas no Mar Mediterrâneo na semana passada.
Durante a celebração dominical “Regina caeli”, o líder da Igreja Católica disse se sentir “muito entristecido” pelo naufrágio de mais um bote com migrantes e refugiados na rota entre o norte da África e o sul da Europa.
“São pessoas, são vidas humanas que, por dois dias inteiros, imploraram em vão por ajuda, uma ajuda que não chegou. É o momento da vergonha! Rezemos por esses irmãos e irmãs e pelos tantos que continuam a morrer nessas viagens dramáticas. Rezemos também por aqueles que podem ajudar, mas preferem olhar para outro lado”, disse o Papa.
Os primeiros alertas a respeito do bote foram lançados na manhã da última quarta-feira (21) pelo Alarm Phone, sistema que oferece uma linha direta para migrantes e refugiados em perigo no Mediterrâneo. O serviço diz que a Frontex, agência da União Europeia para controle de fronteiras, sabia da emergência, mas deixou os migrantes se afogarem.
O navio Ocean Viking, da ONG SOS Méditerranée, só alcançou a embarcação na noite da última quinta-feira (22), mas os socorristas encontraram o bote de cabeça para baixo e rodeado por uma dezena de corpos. Como o mar estava muito agitado, a equipe humanitária não conseguiu se aproximar para remover os cadáveres das vítimas.
“Nós tentamos chegar através de uma tempestade e de uma noite com ondas de até seis metros. Lá fora, em algum lugar nessas mesmas ondas, estava um bote transportando 120 pessoas. Ou 100, ou 130. Nunca vamos saber porque elas estão todas mortas”, diz um voluntário do navio em um relato publicado na última sexta (23) pela SOS Méditerranée.
A porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Safa Msehli, afirmou que “os Estados permaneceram inertes e se recusaram a agir para salvar as vidas de mais de 100 pessoas”. “Esse é o legado da Europa?”, questionou.
Já a Frontex disse estar “profundamente entristecida” com a tragédia e afirmou ter avisado os “centros de socorro nacionais de Itália, Malta e Líbia, como previsto pelo direito internacional”.
Segundo a OIM, pelo menos 8.670 pessoas atravessaram a rota do Mediterrâneo Central em 2021, quase o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado (4.666).
No entanto, 357 migrantes morreram ou desapareceram tentando concluir a travessia, crescimento de 140% em relação a 2020, sendo que o pico das viagens costuma acontecer em julho e agosto, no verão do Hemisfério Norte, quando as condições do mar são melhores.
ANSA/JBr.