A pandemia, ao que tudo indica, está longe de acabar. Há alguns meses com a Covid-19 sob controle, a Europa, que foi um dos epicentros da doença no mundo, enfrenta uma disparada pós-verão nos números de novos casos. Por lá, o que parecia controlado, não está. Nos últimos 7 dias, o velho continente quebrou todos os recordes e revive momentos de tensão.
Na segunda-feira (12/10), por exemplo, foram 117.193 novas infecções, três vezes a mais do que em 4 de abril, quando chegou a 37.794, o maior patamar da “primeira onda”. Se somados os números dos últimos dez dias, o índice é ainda mais assustador: foram 979.585 resultados positivos, 6,5% a mais do que todo o mês de setembro no Brasil.
O levantamento foi feito pelo (M)dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base nos balanços do Ministério da Saúde e do Our World in Data, site que reúne informações da pandemia em todo o mundo.
A preocupação é tão grande que a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre o contágio na região. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral, pediu, em coletiva nessa segunda-feira (12/10), que as nações continuem com as medidas de contenção. “Muitas cidades e países também estão reportando um aumento nas hospitalizações e na ocupação de UTIs. Quase 70% de todos os casos da Covid-19 reportados globalmente na última semana são de dez países e quase a metade dos casos vem de apenas três países”, destacou.
Países em alerta
A alta no número de infectados é impulsionada pelos recordes batidos pela França, Reino Unido, Alemanha, Rússia, República Tcheca e Espanha. Na tentativa de conter uma nova tragédia, alguns desses países e outros vizinhos cederam e voltaram a implementar medidas de isolamento.
A Holanda retomou um lockdown parcial nessa quarta-feira (14/10), fechando bares e restaurantes, mas manteve as escolas abertas. Ao contrário, em Moscou, o ensino virtual voltará a ser realidade para os alunos na próxima semana. Na França, a partir do próximo sábado (17/10), Paris e algumas outras grandes cidades terão toque de recolher.
A Itália, depois de ultrapassar 5 mil infecções diárias pela primeira vez, também prepara medidas restritivas, na tentativa de não passar pela mesma situação que da última vez. Assim como Portugal, que decretou estado de calamidade por conta de novos picos desde a primeira infecção.
E o Brasil?
O Brasil vive situação diferente, mas ao mesmo tempo preocupante. Em relação às novas infecções, o país está há 36 dias abaixo de toda a Europa. As mortes, por outro lado, são superiores desde maio.
Para especialistas, no entanto, é só uma questão de tempo para os casos no país voltarem a crescer. “Com a queda do distanciamento social, faremos com que o vírus volte a ganhar espaço. Vamos ficar nesse período de subidas e descidas por algum tempo. A tendência é que no Brasil, assim como na Europa, entremos nessa dinâmica de ondas”, explicou Jonas Lotufo Brant De Carvalho, infectologista e professor da Universidade de Brasília (UnB).
Wildo Navegantes de Araújo, professor de epidemiologia da UnB, acredita que um fator decisivo pesará contra o Brasil. “Esse paralelo não pode ser feito tão linear porque não vivemos nem a primeira onda completa. Existe um risco de que entremos em uma situação pouco semelhante ao que está acontecendo na Europa, mas com uma ‘segunda onda’ ligada à primeira. Elas vão se unir, virar uma megaonda, e isso, do ponto de vista econômico e de saúde pública, será um colapso”, opinou.
Pelo Twitter, o doutor em virologia Atila Iamarino explicou que a mudança climática também vai influenciar no comportamento do vírus por aqui. “Ele segue sazonalidade. A Europa tinha controlado bem melhor do que o Brasil e está entrando em um inverno pavoroso. Já tem leito faltando de novo. No nosso segundo inverno pandêmico, o cinto já vai estar apertado antes de começar”, disse.