Desde a fundação, em 2011, o Hospital da Criança realizou 5 milhões de atendimentos e tem um nível de satisfação dos pacientes acima de 90%. Nesta nova década, a unidade de saúde referência no Brasil busca reconhecimento internacional
Prestes a completar 10 anos desde a sua construção, em 23 de novembro de 2011, o Hospital da Criança de BrasíliaJosé de Alencar (HCB) promete continuar se destacando no tratamento de alta complexidade prestado às crianças e aos adolescentes. Com mais de 5 milhões de atendimentos, a unidade de saúde tem um índice 98% de ótimo e bom entre a avaliação dos pacientes e de 96,4%, na perceptiva de familiares. Quando idealizado pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), o foco dos gestores era criar um local onde meninos e meninas pudessem viver a infância, apesar dos procedimentos médicos.
Superintendente Executiva do HCB, Valdenize Tiziani destaca que o hospital é uma unidade um exemplo de sucesso no Brasil, mas que a meta é conquistar espaço entre as melhores do mundo. “Queremos ser reconhecidos, até 2030, internacionalmente, como um centro de excelência em atenção pediátrica especializada e referência em ensino e pesquisa”, adianta Valdenize. Ela assumiu a gestão do local em 26 de outubro, após ser diretora de Ensino e Pesquisa, desde março de 2014. “Nesses anos, venho trabalhando na implementação de todas as atividades de ensino e pesquisa do hospital”, lembra.
Enquanto anda pelos corredores, Valdenize cumprimenta os funcionários e conversa com alguns. Vencedora do Prêmio Mérito em Biologia 2021, do Conselho Regional de Biologia da 4ª Região, ela confessa: “ganhei, mas não contei para ninguém. Foi um reconhecimento dos pares, e me senti muito honrada por recebê-lo”. Além da vasta experiência em gestão, Valdenize é pós-doutora em biologia molecular pelo Departamento de Biologia Celular de Harvard Medical School e foi diretora regional para o Brasil da Harvard Medical International. Atualmente, com a responsabilidade de gerir uma equipe de quase 2 mil profissionais entre médicos, enfermeiros e funcionários, ele avalia que esta nova etapa do HCB é desafiadora.
“Exige uma mudança do nosso olhar, mas me sinto mais tranquila por já estar inserida nesse ambiente desde 2014. A gente conhece as necessidades do hospital”, afirma. “O mais difícil nessa última década foi, sem dúvida, a implantação do hospital, que é acreditado inclusive em nível ONA (Organização Nacional de Acreditação) 3, um nível de excelência conferido aos hospitais brasileiros e que tem um enfoque muito grande na qualidade dos serviços e na segurança dos pacientes”, detalha. O ONA 3 é a melhor classificação, dentro do Brasil, conferida a um hospital.
Conquistas
Valdenize pretende olhar para frente, mas sem perder o cuidado diferenciado que faz com que o HCB seja requisitado em nível nacional. “Para o próximo ano, estamos organizando o Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde, em parceria com o Hospital Sant Joan de Déu, da Espanha, o segundo maior hospital pediátrico da Europa. Esse deve ser um evento que vai colocar o Hospital da Criança em um patamar de reconhecimento internacional, além de, claro, pretendemos buscar novas parcerias. Mas o enfoque é sempre técnico-científico: a pesquisa, a formação de profissionais e o aprimoramento da qualidade técnica do hospital”, enumera a superintendente.
Valdenize se alegra com um reconhecimento que a unidade tem e que vai além do mundo científico. “Sempre temos um índice de satisfação dos pacientes acima de 90%, assim como o de satisfação dos profissionais que trabalham aqui. As pessoas são felizes aqui, e isso melhora a qualidade do desempenho. Tanto que os novos projetos são agarrados com empenho”, celebra.
Neste cenário, a superintendente ressalta a importância da humanização do tratamento. “A gente sabe que, quando as pessoas estão em um processo de maior satisfação, elas respondem melhor aos tratamentos médicos. No caso do HCB, esse é o DNA que levou à criação do hospital. O objetivo é que as crianças sejam tratadas como pessoas, pois muitas delas possuem condições crônicas e permanecem por anos conosco. Ela (a criança) precisa ter esse conforto de vim em um lugar e se sentir bem. Não é incomum ouvirmos relatos de pacientes que choram quando vão embora, porque eles gostam da brinquedoteca, por exemplo, e, principalmente, da maneira como são tratados”, analisa Valdenize.
Desafios
Devido aos tratamentos de alta complexidade, o HCB enfrenta o mesmo desafio de outras unidades de saúde pública pelo país, conseguir investimento. “Lidamos com doenças raras, e o hospital, por si só, é um ambiente que demanda sempre novas tecnologias. Esse é um desafio de todo o Sistema Único de Saúde (SUS). Todos os equipamentos que usamos no hospital precisam ser renovados constantemente, para não ficarem obsoletos e prejudicarem o atendimento”, ressalta.
Na avaliação de Valdenize, a população tem papel fundamental para que o centro melhpre cada vez mais. “A participação da sociedade é algo muito importante para o HCB. O Bloco 1, por exemplo, foi construído com doações de pessoas físicas e jurídicas que a Abrace arrecadou. E a Abrace continua sendo uma grande patrocinadora de projetos que complementam a atividade do hospital”, conta.
Pesquisa
O Hospital da Criança de Brasília atua no desenvolvimento profissional por meio de estágio, residência e pesquisa. “Como hospital público, temos a função formar novos profissionais. Hoje, temos 12 programas de residência médica e, por ano, fornecemos entre 25 a 30 vagas de residência para médicos na especialidade pediátrica. Esse processo é extremamente importante para renovar os profissionais do campo e dar continuidade ao serviço realizado. Também recebemos cerca de 200 alunos e residentes, todos os meses, que são de programas de outros hospitais da rede, inclusive de vários locais do Brasil”, salienta.
Valdenize destaca que a produção de conhecimento é um dos fatores primordiais para melhora a qualidade dos serviços prestados na unidade de saúde. “Com a pesquisa, aumentamos a análise crítica das gestões e incorporamos tecnologias. A medicina avança muito rapidamente e, por isso, precisamos ser dinâmicos. Quem faz esse papel é a pesquisa, que incorpora novas tecnologias e produz novos conhecimentos. Por exemplo, atendemos públicos de doenças raras, em que uma a cada 60 mil ou 200 mil pessoas são afetadas. Como somos um hospital de referência, acabamos tendo muitos casos dessas doenças, o que faz com que seja até uma obrigação estudá-las”, esclarece.
Um dos destaques é o Laboratório de Pesquisa Translacional. “Ele foi praticamente todo equipado por projetos da Abrace e faz uma diferença muito grande no nosso atendimento. Conseguimos dar respostas clínicas imediatas. Ao mesmo tempo que estamos estudando as doenças, fazemos um diagnóstico individualizado de cada criança. Por exemplo, no caso da leucemia, em que cada paciente tem um conjunto de mutações genéticas diferentes o que muda, também, o tratamento oferecido. Com o diagnóstico individualizado, conseguimos tomar decisões terapêuticas de qual quimioterápico usar e por quanto tempo”, enfatiza.
O HCB pretende implantar o sequenciamento de nova geração para aprimorar os diagnósticos. “Estamos buscando recursos para isso. Durante a pandemia, a simulação realística foi importante aliada, também, para que pudéssemos treinar as equipes na questão de contaminação pelo vírus. De forma geral, por ano, temos de 40 a 50 novos projetos de pesquisa desenvolvidos pela nossa equipe”, finaliza.
Uma década em números
Uma década em números
5,06 milhões
Atendimentos
3,1 milhões
Exames laboratoriais
707 mil
Consultas
61 mil
Sessões de quimioterapia
36 mil
Transfusões de sangue
10 mil
Cirurgias ambulatoriais
26 mil
Ecocardiogramas
74 mil
Raios-X
37 mil
Tomografias
51 mil
Ultrassons
98%
Índice de satisfação de ótimo e bom na avaliação dos pacientes
96,4%
Índice de satisfação de ótimo e bom na visão dos familiares
fonte: HCB/CB*