*Nelson Valente
A Semiótica: A Base para a Linguagem Visual
1 INTRODUÇÃO
“além de a vida do homem moderno ser totalmente regida por signos, os meios de comunicação empenham-se numa luta contra a estereotipação da linguagem, quanto mais previsível for uma mensagem, tanto menor será a informação dessa mensagem”
(Brosso e Valente, 1999. p.22)
2 SEMIÓTICA E SEMIOLOGIA: SEUS CRIADORES
Semiótica ou Semiologia nasceu do grego (semeiotiké (téchne) = a arte dos sinais e signos). É a Teoria Geral dos Signos, entendendo-se por signo, toda e qualquer coisa que substitua ou represente outra, em certas medidas, para certos efeitos. Alguma coisa que se organize ou tenda a organizar sob a forma de linguagem (verbal ou não) é considerado estudo da semiótica.
No campo da semiótica, precisamente no início do século XX, duas figuras importantíssimas marcaram história no mundo dessa ciência, o filosofo americano Charles Sanders Peirce e o linguista suíço Ferdinand Saussure.
2.1 FERDINAND SAUSSURE E CHARLES SANDRES PEIRCE, FUNDADORES DA SEMIÓTICA E/OU SEMIOLOGIA
Os dois “fundadores” da semiótica e/ou semiologia foram: Ferdinand de Saussure, linguista suíço (1857-1913) e Charles Sanders Peirce, filósofo norte-americano (1839-1914).
2.1.1 FERDINAND SAUSSURE
Saussure é considerado o pai da linguística moderna. Após sua morte, nasceu à ideia de editar, através das anotações de seus alunos, O Cours de linguistique générale, conhecida como a obra póstuma que lhe deu notoriedade, fruto dos três cursos ministrados durante os últimos anos de vida do autor na Universidade de Genebra. A obra é organizada por seus discípulos Charles Bally, Albert Séchehaye com a colaboração de A. Riedlinger, concluindo assim a 1ª edição em 1916. Revolução nas ideias, e estudos sobre as estruturas na Linguagem passadas pelo Saussure, foram decisivas para o estabelecimento da lingu& iacute;s tica moderna (estruturalista). Porém o curso de linguística geral aponta para a necessidade de uma ciência dos signos, que abraça a própria linguística, isto porque, o signo linguístico, pede inevitavelmente signos de outra natureza (os signos peirceanos não verbais.) num processo denominada significação. Saussure alertava para a criação de uma ciência dos signos, mas, somente em 1950, alguns contemporâneos de Saussure, esquecendo-se de que havia um criador da Semiótica, passaram a empreender a tarefa da construção da Semiologia, outro nome da Semiótica. Entre eles citam-se Roland Barthes, Umberto Eco, Todorov.
Porém estes cientistas ignoravam a teoria de Peirce, tentando transpor esquemas e conceitos da Linguística para os demais sistemas de signos, confinando num megaverbalismo. Saussure baseava-se ainda pela lógica tradicional (conceitos dicotomizados ou dualísticos – significante/significado, língua/palavra, denotação/conotação, paradigma/sintagma) e estes foram aplicados à análise de obras visuais, musicais, cinematográficas, arquitetônicas. Isto ocorreu após de exaustivamente aplicados à narrativa literária e à linguagem poética, comumente, chamada de estruturalismo.
Estes – os chamados estruturalistas – levaram uns vinte anos para começar a perceber que existe um pensamento e uma linguagem não verbal. Acabaram por reconhecer Peirce como imprescindível para a lógica da linguagem em geral. Como afirma Brosso e Valente (1999), a partir deste momento, criou-se uma “semiologia de Linguistas”, tomando às vezes por Semiótica, porém de raiz saussuriana, preocupada em escrever os sistemas de comunicação e com base no signo dupla-face (significante/significado).
Um exemplo para tal afirmação segue abaixo:
A palavra que é o signo linguístico por excelência, possui dois códigos diferentes, um falado e outro escrito. A linguística estuda a palavra falada e não a escrita, mas não pode deixar de sofrer influência desta. Enquanto que Saussure formulava suas teorias na França, que denominou de semiologia, o filosofo Charles Sanders Peirce, na mesma época, formulava princípios de uma ciência a que veio ser denominada semiótica.
2.1.2 CHARLES SANDRES PEIRCE
No dia 10 de setembro de 1839, em Cambridge, Massachusetts, nasce o filosofo, (que só foi reconhecido como filosofo depois de morto), Charles Sanders Peirce. Filho de um matemático e professor de astronomia em Harvard, membro de uma família de quatro filhos, sendo um professor de matemática, um engenheiro de minas e outro diplomata. Peirce, aos dezesseis anos começou a estudar Kant. Seu avô paterno foi bibliotecário na Universidade de Harvard e o materno, Elijah H. Mills, advogado, fundou uma escola de Direito, tornando-se senador de Massachusetts. (Brosso e Valente (1999).
Como podemos notar, o filósofo criou-se e viveu num meio cultural extremamente profícuo. Segundo os autores citados anteriormente, Peirce aos onze anos, precocemente escreveu uma História da Química, aos vinte e três anos publica Teoria Química da Interpretação e mais tarde, em 1869, publica uma tabela de elementos químicos, antecipando a de Mendeleev e foi o primeiro aluno da Harvard a receber um grau summa cum laude em química.
Peirce, teve uma passagem pela matemática (publicou: Álgebra Universal da Lógica, Álgebra das Relações Diádicas, Lógica do Número), física (foi considerado um físico importante para área da física da gravidade), psicologia (primeiro psicólogo experimental americano), linguística, filologia (publicou uma pesquisa filológica sobre a pronúncia shakespeariana e conhecia mais de dez línguas, chegando desenvolver uma gramática árabe, um ensaio sobre a pronúncia do grego antigo e estudou sobre a ordem cronológica dos diálogos platônicos). Poeta, especialista em história (especializou-se na l& oacute;g ica de se delinear a história a partir de documentos antigos e de testemunhos), entre outros também escreveu uma novela de ficção e foi nomeado membro da Academia Americana de Ciências e Artes, em 1867, a qual apresentou cinco estudos sobre Lógica (Esta nomeação era uma forma de reconhecimento da Lógica como ciência).
“Para Peirce, a Lógica nasce dentro da Semiótica ou da Filosofia científica da Linguagem”. Na verdade, a Semiótica é a Lógica em sentido lato. (SANTAELLA, 1983). Peirce publicou em vida, cerca de 800 artigos e ensaios em diversas revistas cientificas da época, os quais, reunidos, poderiam formar cerca de 24 grossos volumes, porém, seus manuscritos que deixou de publicar, renderiam 90 mil páginas catalogadas, onde os mesmos foram entregues a biblioteca de Harvard, pela sua segunda esposa. Caso venha ser publicado, somará 104 volumes. Foram nestes manuscritos não publicados que se encontravam os estudos sobre semiótica. Dados estes, encontrados na obra de Brosso e Valente do ano de 1999.
Peirce tinha convicção de que toda a sua produção não publicada seria muito difícil organizá-las, até por ele mesmo, devido à forma assistemática. Mas na década de 20, Hartshorne e Weiss, tornaram-se seus editores sendo que somente entre 1931 e 1935, foram publicados os primeiros seis volumes intitulados Collected Papers, como afirma em apontamentos o Professor Aldo Litaiff, o filosofo Max H. Fisch teve a incumbência, a partir de 1928, de trabalhar intensamente na organização e catalogação do conjunto dessa monumental obra.
Devido sua pluralidade no mundo científico, Peirce morreu na pobreza, porém consciente que não alcançaria grande projeção no campo acadêmico, ao contrário de seu grande amigo e iniciador do “pragmatismo3” e “pragmaticismo” William James (1842-1910). Peirce não concordava com a extensão de significado que James aplicou à palavra “pragmatismo” e “pragmaticismo”. O sistema filosófico de Peirce, que pode ser dividido em três pontos:
I. Fenomenologia (origem da semiótica): observa o fenômeno diretamente de
forma empirista;
II. Ciências Normativas:
– Estética (forma);
– Ética (regra de ação);
– Semiótica (Gramática Pura – Linguística), Lógica Crítica
(Formal – Aristóteles e Frege), Retórica Pura (Parte da
Linguística).
III. Metafísica: Ciências das Realidades (sociais – Relacionais).
3 SEMIÓTICA UMA PONDERAÇÃO
“Peirce foi o primeiro e único, até agora, a formalizar uma teoria geral dos signos, toda Semiótica é de natureza peirceana”, e é ela que mantém relações de semelhança no que respeita à abordagem sígnica e sistêmica e diferenças, no que concerne às limitações do âmbito da Semiologia saussuriana em contraponto com a abrangência da Semiótica peirceana”. Décio Pignatari apud Brosso e Valente (1999: p.31)”.
3.1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS – VISUAL
“A Semiótica segundo, Décio Pignatari, é uma ciência que ajuda a ler o mundo – 10/06/1978, O Estado de S. Paulo.
A linguagem visual é espacial e global. O objeto, tal como a imagem fixa que representa objeto, está situado no espaço. Esta linguagem usufrui, pois, essencialmente, das três dimensões espaciais, mesmo na imagem em que a perspectiva cria a ilusão de profundidade. A percepção visual é antes de mais global – milhares de informações simultâneas são transmitidas num “abrir e fechar de olhos” e, se bem que nem todas as mensagens são analisadas e decodificadas, são numerosas as que são registradas.
Esse campo de visão fornece-lhe um ponto de vista preciso, o qual influencia a sua percepção subjetiva do mundo visível. A estruturalidade do olho permite-lhe estabelecer relações significativas entre elementos visuais, realçar este ou aquele ponto, focar a sua atenção sobre um elemento em detrimento dos outros, que, de certo modo, são colocados “fora da ideia e / ou foco”. Devemos que sempre observar na criação de qualquer peça, os seguintes itens:
– Público alvo (o receptor e seu contexto);
– Estudo da preparação;
– A percepção (leis da Gestalt) como elemento fundamental na interpretação das imagens visuais e suas relações psicológicas;
– Estudo das formas- as formas essenciais
– Ponto, linha, plano, volume, espaço
· As formas estruturadas:
– Equilíbrio, ritmo, simetria;
– As formas dinâmicas: tempo x movimento.
– As qualidades da superfície: textura, luz, sombra, cor;
· Estudo da composição:
– a composição como sintaxe das possibilidades expressivas as relações significantes com os significados
· Estudo dos signos:
– a imagem real x imagem representada;
– processos de simbolização gráfica os signos pictórico, gráfico,
linear, esculturas, fotos, cinema, vídeo;
– a linguagem dos materiais:
– nobres, sintéticos, imitação
– estudo das relações sociológicas
– os estilos x panorama sociológico;
– autenticidade;
– inter-relações dos processos de produção com a legitimação;
– relevância social, critica, mercado, ensino, outros.
3.2 SEMIÓTICA E A LINGUAGEM VISUAL
Qualquer peça visual desenvolvida tem que se preocupar com inúmeros fatores para que ela atinja os resultados esperados, ou seja, a interpretação.
Como afirma Belloni (2002), as mídias, tanto as novas como as “velhas”, fazem parte do universo de socialização, participando, de modo ativo e inédito na história da humanidade, da socialização das novas gerações. Novas linguagens surgem na paisagem audiovisual que os jovens contemplam e aprendem, sozinhos ou com outros jovens, a ler e a interpretar. Imagens coloridas fixas e em movimento, sons ambientes, música, linguagem oral e escrita, teatro, todas estas formas de expressão – “linguagens” – estão mixadas numa mesma mensagem, construindo significados, carregando representações, difundindo signos
(BELLONI, 2002).
Num outro contexto, Bakhtin (1997, p.35-36) afirma que: os signos são o alimento da consciência individual, a matéria de seu desenvolvimento, e ela reflete sua lógica e suas leis. A lógica da consciência é a lógica da comunicação ideológica, da interação semiótica de um grupo social.
Portanto, a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais (BAKHTIN, 1997, p.35).
Concordando em outro contexto com Bakhtin, Eco (1976), afirma que todo signo só vai ter significação se socializado, ou seja, se não for social não tem sentido.
Para Levy (1996), os signos evocam cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados. Maior a quantidade e enriquecimento de linguagens, mais aumentam as possibilidades de simular e imaginar.
As formas de uso das mídias em devem ser adaptadas, para que, esses materiais possam vir a ser interpretados tanto pelos grupos que quer se atingir. Devemos considerar, como fundamento dessa mediatização, o social, os contextos, o conhecimento, as características e demandas diferenciadas dos grupos e/ou públicos que vão gerar leituras e aproveitamentos fortemente diversificados (BELLONI,2002). Um coletivo pensante homens coisas, coletivo dinâmico povoado por singularidades atuantes e subjetividades mutantes (LEVY, 1993, p.11).
A quantidade de linguagens novas e velhas, veiculadas em novos meios de comunicação, é muito grande, como afirma Carmo (1998): a compreensão, a fabricação e o uso em materiais multimídia, gera novos desafios para os atores envolvidos nestes processos de criação (professores, realizadores, informatas etc.) criando a mediatização.
4 CONCLUSÃO
Podemos notar que a comunicação só é possível graças a signos que representam algo e/ou coisas.
Como afirmava Peirce, o universo é semiótico, e o homem interage com os sinais, lendo os que o antecedem e formulando novos sinais em suprimento das necessidades emergentes, ou seja, unifica todas as ciências com a semiótica, tudo pode ser convertido a signo, ou seja, todo elemento é passível de significações.
Define-se a Semiótica como a ciência que estuda os signos e as leis que regem sua geração, transmissão e interpretação. Seu objeto compreende, assim, todos os sistemas de comunicação humanos ou animais e, dentro desses últimos, tanto a linguagem verbal como as dicções emotivas, os gestos e qualquer atividade comunicativa ou significativa (publicidade, sinalização de trânsito, artes, moda, rituais, etc.)
“Signo é sempre um signo social – A Invasão dos signos não é apenas típica de uma civilização industrial citadina onde impera todo um sistema complexo de sons e sinais. Pelo contrário, Homo Sapiens teria vivido também num universo de signos indiciais: nuvens (tempo), folhas (estações), sulcos na terra (cultivo), musgo (norte), movimento do sol (horário), perfume, flores (direção do vento), pelos (caça). Umberto Eco, apud Brosso e Valente (1999: p.19).
Eco adverte que os fenômenos naturais em si não dizem nada, ou seja, “os fenômenos naturais dizem algo ao homem à medida que este aprende a lê-los. O homem vive num mundo de signos não porque vive na natureza, mas porque, mesmo quando está sozinho, vive na sociedade: aquela sociedade camponesa que não se teria constituído e não teria podido sobreviver se não tivesse elaborado os próprios códigos, os próprios sistemas de interpretação dos dados materiais (que por isso mesmo se tornam dados culturais)”. Eco, apud Brosso e Valente (1999).
Primeiro veio à imagem, e após a escrita, constando-se que o Homo Sapiens utilizou inicialmente do objeto-símbolo e a memória para guardar informações: o túmulo de um companheiro, uma pedra (objeto-símbolo) colocado sobre o túmulo, aproveitamento de vários neurônios e manutenção de apenas alguns com a informação necessária. Esta, em parte passa a ser extrassomática. Conforme Mascarenhas apud Brosso e Valente (1999).
Contudo certos autores, como Lévi-Strauss, consideram que a Semiótica está mais voltada para os signos da natureza, enquanto a Semiologia se ocupa dos signos da cultura.
Portanto qualquer criação tem que se preocupar principalmente com os signos que representam o público a ser atingido.
Se pudéssemos perguntar a Peirce sobre os fatos da História que ninguém conhece, por estarem perdidos na noite dos tempos, ele nos responderia com inúmeras indagações:
Deixarão essas coisas de realmente existir por inexiste qualquer esperança de o nosso conhecimento alcança-las?
Depois da morte do universo e depois de a vida ter cessado para sempre, não continuará a colisão de átomos, conquanto já não exista espírito que possa notar isso? E responderia: – “Há uns poucos anos, não sabíamos de que substâncias são constituídas as estrelas, cuja luz para atingir-nos pode ter exigido tempo superior ao da existência da raça humana. Não se pode dizer, enfim, que haja uma questão que não possa vir a ser resolvida. Seja o que for que pensemos, temos presente à consciência ou sensação, imagem, concepção ou outra representação, servindo de signo. Mas segue- se da no ssa própria existência que tudo aquilo que nos é presente constitui manifestação fenomenal de nossa pessoa”.
Outra pergunta a Peirce: – Que tipo de criaturas seremos dentro de 100 anos? Como hoje, ou profundamente diferentes?
Será que com isso estaremos mais perto de construir um cérebro artificial, uma máquina capaz de não só obedecer a comandos, mas também de mostrar que tem consciência de si mesma, “personalidade”? Ou de seu desejo de nos destruir. Potencialmente, seria um retorno ao mito de Frankenstein, mas, nesse caso, ganharia a criatura. Algo a se pensar, não?
Peirce responderia:
– “A ideia é que máquinas inteligentes — a inteligência artificial (IA) — não só serão uma realidade como nos sobrepujarão. De certa forma, segue a ideia, nos tornaríamos obsoletos. A visão de um cérebro sem um corpo é muito simplista; se criarmos uma máquina inteligente, não será uma inteligência humana. Será outra coisa. E não temos a menor ideia da moral desse tipo de inteligência.”
Vale a pena abrir um parêntese e destacar a abdução como tipo de raciocínio ou argumento, e como base da indução e dedução, mais conhecidas do pensamento moderno. A abdução está em posição de primeira (a indução na posição de segunda e a dedução na posição de terceira). Como paralela a primeiridade, a abdução é o momento do insight, é uma quase adivinhação da resposta a um problema, trata-se da elaboração de uma hipótese, que será observada e demonstrada por indução e dedução. Outra palavra corrente que corresponde a o racioc ínio abdutivo é o feeling, presente no pesquisador ou no professor atento aos processos dos quais faz parte. O reconhecimento deste momento “divinatório” é notório no pensamento de Peirce, é o princípio da investigação, dando lugar ao que poderia parecer estrangeiro ao fazer ciência.
O próprio Peirce pode ser lembrado como exemplo de abdução. Quando jovem, abduziu que havia algo em comum nos fenômenos todos que estudava nas mais diferentes áreas. A hipótese que levantou foi comprovada após décadas de estudos.
Perceba que a semiótica oferece um caminho lógico de compreensão de como ocorre o aprendizado, da perspectiva do receptor, da perspectiva do enunciador, indagando o potencial do objeto, porém sempre levando em conta que tais posições são móveis, ora sou professor enunciador, na sequência o aluno enuncia e eu passo a ser receptor, minha conduta e gestualidade são objetos significantes para meus leitores-alunos, cada relação é fundamentada em sentimentos e encontros, para gerar significações. Em outras palavras, a compreensão é baseada em ética e estética.
Entendo que a semiótica traz fundamentos altamente inspiradores para pensarmos a dinâmica dos processos educacionais, estamos conectados, em rede, significando e sendo significados, somos signos, criamos signos, geramos signos, nossas leituras são fundadas em nosso capital de conhecimentos e experiências em diálogo com o mundo, pessoas, coisas ou ideias.
A partir da semiótica, não há como pensar a educação sem pensar como ocorre o pensamento, como cada mente pode ler e ser lida, pois estamos em processo de aprendizado na mesma proporção em que estamos vivos, já que a vida depende de conexão, relação, interdependência.
O pensamento semiótico não propõe um futuro previamente definido, pois entende que o futuro será o que estamos agora a constituir, na leitura de signos e constituindo outros signos. Assim como não conseguimos extirpar o passado, somos históricos e recebemos heranças culturais, familiares, sociais, políticas, também estamos a gerar o futuro. Não temos como saber como nossos signos serão aproveitados, mas podemos postular que as leituras feitas dependerão dos potenciais que estiverem à disposição.
*Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor