Profissionais de saúde da linha de frente do combate à Covid-19 querem disputar vagas em assembleias estaduais e no Congresso Nacional
A coordenação do combate à Covid-19, em diversas esferas do poder público, proporcionou uma visibilidade que, em alguns casos, poderá ser contabilizada em votos. Entre os candidatos da eleição de 2022, estarão ex-secretários de Saúde, médicos e enfermeiras que, por razões diversas, ganharam notoriedade no decorrer da pandemia.
De Norte a Sul do país, surgem pré-candidatos – como o médico Daniel Soranz, ex-secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, e a enfermeira Márcia Huçulak, ex-secretária municipal de Saúde de Curitiba.
A lista inclui ainda nomes como o da enfermeira Mônica Calazans, que não exerceu cargo de liderança, mas ficou conhecida como a primeira pessoa a receber uma dose de vacina contra a Covid-19 no Brasil.
Apoio de Eduardo Paes
Na cidade do Rio, Daniel Soranz (PSD) recebeu o incentivo do prefeito Eduardo Paes para concorrer pela primeira vez em uma eleição, como candidato a deputado federal.
Soranz emergiu em pesquisas internas da sigla como um nome forte, graças ao reconhecimento por seu trabalho como secretário de Saúde do município. Internamente, ele é considerado um potencial puxador de votos.
“Tenho mais resultados a apresentar do que muitos outros veteranos da política”, diz Soranz, já em tom de campanha.
De acordo com o ex-secretário, a decisão de sair como candidato foi tomada há apenas um mês e meio, a partir de um pedido de Paes.
Vacinada com aval de Doria
Já em São Paulo, a enfermeira Mônica Calazans (PSDB) entra na corrida eleitoral com o aval do pré-candidato à Presidência João Doria (PSDB).
Pré-candidata a deputada federal, a enfermeira do Instituto de Infectologia Emílio Ribas menciona a visibilidade que alcançou após ser a primeira pessoa a receber uma dose de Coronavac no país.
“Na semana passada, uma moça no metrô me reconheceu. Ela disse que, no momento em que fui vacinada, ela chorou de emoção”, diz Mônica, que revela um receio nesse ingresso na política. “Mesmo sendo conhecida, não sei quanto isso pode significar em votos. Será que vão lembrar de mim na frente da urna, no momento do voto?”, pondera.
Veterano da política
Na Região Sul do Brasil, pelo menos três secretários de saúde abriram mão de seus cargos para entrar na corrida eleitoral. Um deles é Beto Preto (PSD), no Paraná, veterano na política e ex-prefeito de Apucarana.
O médico e ex-secretário de saúde do governo do Paraná iniciou sua candidatura em 2002, ao lado do governador Ratinho Júnior (PSD).
Com a queda nos números da pandemia e motivado pelo padrinho político, em 2022, Beto Preto novamente sairá como candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados: “Sou médico, mas sempre disputei eleições. Só deixei a secretaria porque houve uma melhora no cenário da Covid. Caso contrário, eu jamais sairia para concorrer”, disse ao Metrópoles.
Com experiência em outras votações, ele ressalta que a visibilidade alcançada na pandemia não garante resultado.
“Não é porque eu estive à frente da pasta da saúde que as eleições vão estar garantidas”, pontua Beto. “Nós temos problemas na saúde todos os dias para resolver. A pandemia não pode ser encarada como um divisor de águas.”
Em Santa Catarina, o médico André Motta Ribeiro saiu da secretaria estadual de Saúde e pode se candidatar a deputado estadual. Mas, até o momento, ele ainda avalia se entrará, ou não, na corrida eleitoral.
“Dama de Ferro” de Curitiba
Já em Curitiba, a secretária municipal de Saúde também decidiu trocar a pasta para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa.
A enfermeira Márcia Huçulak (PSD), conhecida como “Dama de Ferro” pela postura firme nos momentos mais graves da pandemia, tomou a decisão no fim de março, apoiada pelas lideranças políticas do Paraná.
“Praticamente decidiram por mim. Fui muito procurada por todos os partidos: de direita, esquerda e centro. Recebi muitos convites”, conta Márcia ao Metrópoles. “Estou com 60 anos, tinha a chance de me aposentar e fazer outra coisa da minha vida. Mas decidi me lançar candidata para compartilhar minha experiência.”
Ele acredita em seu potencial para alcançar uma boa votação: “Eu não sei se eu sou a mais bem cotada, mas eu sou bem cotada. Não sei ainda sobre pesquisas, mas tudo indica que eu estou bem avaliada, sim. A pandemia foi um período triste, mas de muito aprendizado. Ela expôs lideranças que não eram tão conhecidas. Então deu pra ver quem é quem, e acredito, sim, que eu tenha chance”.
Recorde de candidatos
Nenhuma região terá tantos candidatos credenciados pela pandemia quanto o Nordeste. Dos nove estados, ao menos seis apostam em nomes que tiveram destaque na crise sanitária como puxadores de voto para o Congresso Nacional e as câmaras locais.
Na Paraíba, por exemplo, a aposta é Antônio Cristóvão Queiroga Neto, filho mais novo do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e que deve concorrer à Câmara dos Deputados pelo PL de Bolsonaro. Outro cotado é o ex-secretário de saúde do estado Geraldo Antônio Medeiros, que pleiteia uma vaga na Assembleia Legislativa do estado pelo Cidadania.
“Capitã Cloroquina”
No Ceará, o posto de puxador de voto deverá ficar com a ex-secretária Mayra Pinheiro, que ocupou o comando da pasta de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde. Conhecida como “Capitã Cloroquina”, pela defesa de medicamentos ineficazes contra Covid-19, a médica é o nome do PL para uma cadeira na Câmara federal.
O Piauí também terá um ex-secretário de saúde concorrendo ao Congresso: Florentino Alves Veras Neto busca se eleger deputado federal pelo PT. Wellington Dias é outro nome forte do partido para o Senado Federal.
Filho de Renan Calheiros
Cenário semelhante se desenha no Maranhão, com o ex-secretário Carlos Eduardo de Oliveira Lula como candidato a deputado estadual pelo PSB. O ex-governador Flávio Dino, também filiado ao partido, tentará se eleger senador.
No Alagoas, as apostas ficam por conta da candidatura do ex-secretário de saúde do estado Cláudio Alexandre Ayres da Costa. O emedebista disputará uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado. O ex-governador e filho do senador Renan Calheiros, Renan Filho, é favorito do MDB local para o Senado
Médica bolsonarista
A Bahia também não ficou de fora e terá médicos na disputa por cargos eletivos. O PDT lançou o ex-secretário Leonardo Silva Prates para a Câmara Federal. Outra candidatura vista com destaque no estado é a da médica bolsonarista Raíssa Soares, que concorre ao Senado pelo partido do presidente, o PL.
Popularmente apelidada de “Doutora Cloroquina”, a profissional de saúde chega alinhada com a base de apoio do governo, em razão da defesa do medicamento ineficaz no combate da doença.
Omar Aziz busca reeleição
Já na Região Norte, o destaque fica para o Amazonas, que terá um nome conhecido conhecido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 como puxador de votos para o Senado. Trata-se do já senador Omar Aziz (PSD), que presidiu o colegiado e busca reeleger-se pelo estado.
Outro nome bem avaliado no estado, desta vez para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, é de Fausto Júnior (União Brasil). Ele se credenciou à vaga como deputado estadual relator em 2020 da CPI da Saúde, instaurada no âmbito da Assembleia Legislativa do Amazonas. (Metrópoles)