Eduardo Cunha disse “não se lembrar” de ter pedido dinheiro de campanha para Michel Temer. O ex-presidente da Câmara dos Deputados rebateu o depoimento de Lúcio Funaro, na semana passada. Na ocasião, o suposto operador do esquema de desvio de recursos do fundo de investimento FI-FGTS, controlado pela Caixa Econômica Federal, disse que Cunha teria repassado R$ 1,5 milhão ao presidente da República. “Não me lembro”, disse.
Vestindo terno azul marinho, gravata esverdeada e calça e sapatos sociais, o ex-presidente da Câmara iniciou sua defesa desmentindo versões apresentadas por Lúcio Funaro — apontado como operador do esquema — em oitiva realizada em 27 de outubro. “Ele mentiu”.
Cunha e Funaro foram colocados frente a frente diante do juiz Vallisney. Enquanto o primeiro apresentava sua tese de defesa, o segundo apenas observava ao lado do seu advogado. Cunha negou ter recebido um Porche do acionista da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino em troca de apoio na liberação de valores do fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) da Caixa. A acusação está registrada no depoimento de Funaro. “Ele nunca me deu carro de presente. Isso é história da carochinha”.
Na semana passada, Funaro chegou a chamar o ex-presidente da JBS Joesley Batista de “ladrão” por não ter pagado uma suposta propina de cerca de R$ 80 milhões a ele, Cunha e Geddel, devido a operações no âmbito da compra da Alpargatas. Durante seu depoimento, Cunha negou a informação.
Ex-deputado se irrita
O ex-presidente da Câmara subiu o tom ao falar do envolvimento do filho no escândalo. Exaltado, Cunha diz que ficou “muito chateado” com a insinuação de Funaro ao contar ter pagado mesada de R$ 2 mil ao filho do ex-deputado. “Nem eu pago mesada para o meu filho. Isso mostra que não tem limite para as covardias dele, para as mentiras dele”, rebateu Cunha.
Operação Sépsis
A investigação da Sépsis é um desdobramento da Operação Lava Jato. No dia 26/10, no mesmo processo, foi a vez do ex-vice-presidente do banco federal Fábio Cleto prestar depoimento. Cleto disse a Vallisney que teria partido do ex-presidente da Câmara dos Deputados sua indicação à vice-presidência da Caixa e acrescentou que Henrique Eduardo Alves validou a escolha.
A informação foi corroborada por Lúcio Funaro em seu depoimento na semana passada. Cunha ainda disse que Funaro faltou com a verdade ao acusar o presidente Michel Temer do recebimento ilícito de R$ 1,5 milhão do esquema. “Lúcio Funaro nunca teve acesso a Temer”.
Preso há mais de um ano e respondendo pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional, Cunha cumpre pena em Curitiba (PR), mas está em Brasília desde setembro para participar das oitivas na 10ª Vara. Na capital, permanece detido em uma cela da Delegacia de Polícia Especializada (DPE), no Parque da Cidade.