Foto do recibo estava no celular do ex-secretário executivo Alexandre Braga Cerqueira. Aparelho foi apreendido pelos investigadores

Em meio ao escândalo da Operação Drácon, que pode afastar cinco deputados distritais dos respectivos mandatos, está Alexandre Braga Cerqueira, ex-secretário executivo da Terceira Secretaria da Câmara Legislativa. Suspeito de ser o operador que cobrava propina desviada de emendas parlamentares, Cerqueira movimentou quantias vultosas em sua conta bancária semanas antes de a ação ser desencadeada. Um desses negócios chama a atenção: o ex-servidor comissionado pagou, à vista, R$ 215 mil por um carro de luxo.
As informações sobre a transação estavam armazenadas no aparelho celular de Cerqueira e fazem parte de todo material analisado por promotores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Entre as imagens gravadas no smartphone do ex-servidor, constava o comprovante de uma transferência bancária no valor de R$ 215 mil, feita em 29 de junho deste ano para uma concessionária. O montante foi usado para comprar uma Toyota Hilux topo de linha.

No celular do investigado na Drácon, ainda havia uma fotografia do carro comprado por ele (foto abaixo). O modelo estava exposto na concessionária onde o ex-servidor fechou o negócio.

Pagamento à vista
O ex-secretário executivo afirmou que fez o pagamento à vista após uma série de transações envolvendo parte de seu patrimônio. “Eu já era dono de um modelo 2013 da Hilux, avaliado em R$ 120 mil, e a concessionária me ofereceu pegar o carro como parte do pagamento pelo novo modelo”, explicou.
Cerqueira informou que o restante do dinheiro foi conseguido em razão do destrato comercial com uma construtora. Segundo o ex-servidor, ele comprou uma loja em um empreendimento em Águas Claras que não chegou a ser finalizado. “A construtora avisou que não iria mais concluir a obra e devolveu o dinheiro, corrigido e com a multa estipulada em contrato. Ao todo, recebi R$ 222 mil e resolvi quitar o carro”, explicou.
Marcelo Moura, advogado do ex-comissionado, assegurou que a compra é compatível com o padrão e o estilo de vida do cliente. “Ele foi funcionário da Câmara por 20 anos e tinha total condições de comprar o carro. Todas as movimentações financeiras dele feitas neste ano estarão na declaração de Imposto de Renda do próximo ano. Tudo está devidamente justificado e não há o que esconder”, disse o defensor.
Lotérica, Oscip e igreja
Cerqueira, que era responsável por contratos e pagamentos da Câmara, recebia R$ 17 mil mensais na CLDF. Ele foi funcionário da Casa durante 20 anos e tinha ligações com o ex-distrital Aylton Gomes, réu na Operação Caixa de Pandora. Em 23 de agosto, o Metrópoles revelou que Alexandre Cerqueira tinha negócios curiosos. O então servidor foi exonerado em 2 de setembro.
O suposto emissário da propina investigado pela Drácon é sócio de uma lotérica e de uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), chamada Associação Escola da Família (AEF). Mas no endereço de registro, em Planaltina, funciona uma igreja evangélica e não há sinal algum da entidade.
Alexandre Cerqueira e a mulher ainda são os proprietários de uma casa lotérica no Jardim Botânico, segundo dados da Receita Federal. Ele também já foi dono de uma instituição religiosa, a Igreja Batista Vida, fechada em maio deste ano; e de um lava jato que operou até 2013. Na Câmara Legislativa, ele era conhecido como “Alexandre Dudalina”, por ser aficionado pela grife de roupas.