
Por Miguel Lucena
Contam os mais antigos que, antes de a praia se tornar refúgio obrigatório a partir dos anos 1950, os domingos nas grandes cidades seguiam outro ritmo. Havia missa cedo, passeio na praça e conversa fiada na barbearia. Os homens, de paletó e chapéu, liam o jornal no banco da praça, enquanto as crianças corriam atrás de pombos. O bonde passava rangendo nos trilhos, levando famílias para visitar parentes. O almoço era sagrado, farto e demorado, sempre acompanhado de uma sobremesa especial – pudim ou goiabada com queijo.
À tarde, o footing tomava conta das avenidas, moças e rapazes trocando olhares tímidos, os mais ousados arriscando um cumprimento. Havia matinês nos cinemas, com longas filas para ver os galãs de Hollywood. Para os amantes do futebol, o destino era certo: estádio cheio, radinhos colados no ouvido, emoção no grito de gol.
Quando a noite caía, restava o sossego. Famílias reunidas na sala, conversando ou ouvindo rádio. O domingo encerrava-se sem pressa, diferente dos dias de hoje, onde tudo parece correr sem pausa.