No último pregão de 2024, a moeda norte-americana caiu 0,22%, cotada a R$ 6,1797. O principal índice de ações da bolsa de valores avançou 0,01%, aos 120.283 pontos.
Dólar — Foto: Freepik
O dólar abriu o primeiro pregão de 2025 em alta e, nos primeiros minutos do dia, já era negociado a R$ 6,22. Investidores esperam novos dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos, mas com o cenário fiscal brasileiro, grande questão de 2024, ainda no centro das atenções no mercado interno.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em queda.
A agenda no primeiro dia útil do novo ano não conta com muitas divulgações econômicas. O destaque fica com os pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA. Além disso, o mercado repercute os últimos números divulgados pela China, que mostram que o país está crescendo em um ritmo menor que o esperado.
Na agenda do Brasil, investidores seguem repercutindo dados divulgados nos últimos dias, com destaque para os números do setor público.
Na última segunda-feira (30), o Banco Central do Brasil (BC) informou que o setor público consolidado (governos federal, estadual e municipais e estatais) teve um déficit primário — quando as despesas são maiores que as receitas — de R$ 6,6 bilhões em novembro. Apesar do saldo negativo, o resultado é muito melhor que o registrado em igual período de 2023: déficit de R$ 37,3 bilhões.
Ainda, o mercado segue de olho no cenário fiscal brasileiro, monitorando as ações do governo para equilibrar as contas públicas. Há muita desconfiança dos investidores de que o governo não será capaz de arcar com suas despesas.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.
Em termos simples, os receios do mercado financeiro em relação às contas públicas se refletem no dólar da seguinte forma:
- Sem cortar gastos, o país tem uma perspectiva menor de controle da dívida pública;
- Um país mais endividado tem uma probabilidade maior de não cumprir com seus compromissos financeiros, e se torna mais arriscado;
- Um país mais arriscado só se torna atrativo se pagar juros mais altos pelos títulos;
- Com países mais seguros pagando juros mais altos no exterior, o Brasil fica menos atrativo;
- Se o Brasil está pouco atrativo, os investidores tiram dólares do país, enfraquecendo o real.
O governo anunciou e conseguiu a aprovação de um pacote de cortes de gastos que previa uma redução de cerca de R$ 70 bilhões das despesas, mas o mercado tem receio de que isso não seja suficiente.
Por esses receios, sobretudo, a moeda brasileira teve uma forte desvalorização em 2024 e o dólar acumulou uma alta de 27,35% frente ao real, encerrando o ano cotado a R$ 6,1797. Essa foi a maior valorização anual do dólar desde 2020, quando subiu 29,36%, no contexto da pandemia de Covid-19.
Além das contas públicas brasileiras, também contribuíram para esse resultado outros fatores externos, como conflitos internacionais, a eleição de Donald Trumpnos EUA e nível de juros nos Estados Unidos.
O Ibovespa foi impactado pelo mesmo cenário e registrou perdas de 10,36% no acumulado do ano.
Dólar
Às 10h45, o dólar subia 0,45%, cotado a R$ 6,2077. Veja mais cotações.
Na última segunda-feira (30), a moeda norte-americana fechou em baixa de 0,22%, cotado a R$ 6,1797.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 2,99% no mês;
- avanço de 27,35% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,76%, aos 119.364 pontos.
Na sexta, o índice encerrou em alta de 0,01%, aos 120.283 pontos.
Com o resultado, acumulou:
recuo de 10,36% no ano.
perda de 4,28% no mês;
O que está mexendo com os mercados?
Os dados mais recentes dos Estados Unidos e da China mexem com os mercados globais.
No gigante asiático, destaque para os índices gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), indicadores que mostram o quão aquecido determinados setores da economia estão com base em decisões de gerentes de compras em empresas representativas de tais setores.
O PMI do setor industrial desacelerou para 50,5 em dezembro, contra expectativas de 51,6 e abaixo dos 51,5 de novembro. Isso indica que a indústria chinesa continua crescendo — pois qualquer valor acima de 50 mostra expansão —, mas menos que o esperado.
Para analistas da XP Investimentos, esses dados, juntos aos últimos divulgados no país, “ressaltam como será desafiador para Pequim montar uma recuperação econômica duradoura em 2025”.
No Brasil, em um dia de agenda mais esvaziada, o mercado segue repercutindo os dados divulgados na segunda-feira sobre o setor público.
A XP classifica o saldo de déficit de R$ 6,6 bilhões em novembro como uma “forte melhora”, principalmente devido ao desempenho do governo central, cujo déficit caiu de R$ 38,9 bilhões para R$ 5,7 bilhões.
“Isso se deve a uma combinação dos efeitos das medidas de aumento de receita, maior atividade econômica e inflação e taxa de câmbio depreciada (que favorece a arrecadação de impostos). Esperamos que o setor público consolidado tenha um déficit de R$ 49,7 bilhões (0,4% do PIB) em 2024, e que a dívida bruta do governo geral atinja 78,1% do PIB”, diz o corretora.
Cenário fiscal continua pesando
No fim de 2024, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.
A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.
Em café da manhã com jornalistas, no último dia 20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.
“Fala-se em ‘desidratação’, mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver ‘hidratação’ [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo”, afirmou Haddad.
O mercado, porém, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
“Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos para atingir a meta de zerar o déficit público. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico reforçaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.
Fonte: g1