Maria José Rocha Lima
Ontem à noite, eu e Miguel recebemos para um café uma família para lá de especial. Alexandre Veríssimo é um amigo e parceiro. Durante o tempo que ele esteve como gerente da RyHappy, doou brinquedos ao Projeto Brincar da Casa da Educação Anísio Teixeira. Eram brinquedos lindos, solicitados pelas crianças em cartinhas dirigidas à loja. E na maioria das entregas contávamos com a presença do Solzinho. A esposa de Alexandre, Emília Salles Veríssimo, tem uma família originária em Santo Amaro, na Bahia. E a sua filha Sofia me presenteou com a obra de Teodoro Salles sobre o seu tio avô Heráclio Salles. Um presentão!
Parece que quem nasce em Santo Amaro bebe uma água que o faz diferente e genial: Heráclio Salles é um desses. Nasceu no dia 11 de março de 1921 e faleceu em 23 de novembro de 1995. Ele foi jornalista, escritor, crítico literário e professor da Universidade do Distrito Federal e ministro do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Passou pela redação do Correio da Manhã, Diário de Notícias e “Estado de São Paulo”. Também foi do Jornal do Brasil, assumindo, em 1960, função de editor político. Foi por duas vezes o redator da seção “Coisas da Política”. Em 1967, aceitou ser secretário de imprensa do Governo Costa e Silva, escolhido pel presidente, depois de acompanhá-lo como candidato por todo o país, mas demitiu-se após a edição do AI-5, voltando ao jornalismo. Heráclio Salles foi por 35 anos do Jornal do Brasil. Tudo isso nos conta o seu filho Teodoro Salles, músico da Orquestra Sinfônica da UFBA, onde exerce a função de Spalla, depois de passar por orquestras em São Paulo e na Bélgica.
Teodoro Salles reuniu as publicações de seu pai, numa obra intitulada de Heráclio Salles – Crônicas Literárias e Políticas. As crônicas literárias nos permitem conhecer o movimento literário da época: lançamentos de livros de grandes escritores nacionais e estrangeiros.
E numa olhada de soslaio me espantei com alguns títulos pela impressionante atualidade. Fui direto ao ponto: crônicas políticas que abordam a história do Brasil num dos períodos mais conturbados, e são imperdíveis. As “Coisas da Política” pareciam profecias dos acontecimentos bizarros da política internacional e nacional nas últimas décadas. Teodoro Salles muito apropriadamente destacou a frase lapidar de Heráclio Salles sobre a nossa triste e irrisória democracia: “Já que não queremos ou não podemos fazer a História, devemos contribuir à sua margem para escrevê-la e demonstrar – quando nada – a consciência de vivermos compulsoriamente afastados das decisões que mais rudemente afetam nosso destino.”
Foi uma noite deliciosa, para rememorar histórias e feitos que nos fazem atores, pelo menos, da nossa própria história.