domingo, 23/02/25
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Diocese faz críticas e ativistas jogam fezes em prefeitura da Itália que homenageará Bolsonaro

Grupo RiseUp4ClimateJustice jogou fezes na prefeitura de Anguillara Veneta em protesto contra homenagem a Bolsonaro
Grupo RiseUp4ClimateJustice jogou fezes na prefeitura de Anguillara Veneta em protesto contra homenagem a Bolsonaro. Reprodução Instagran

Ativistas do grupo climático Rise Up 4 Climate Justice picharam e jogaram fezes na prefeitura do pequeno vilarejo italiano de Anguillara Veneta depois que a prefeita da cidade decidiu conceder o título de cidadão honorário ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

“A figura de Bolsonaro representa perfeitamente o modelo capitalista, predatório, destrutivo e colonialista contra o qual lutamos. (…) Sempre apontamos o dedo para os responsáveis ​​pela crise climática e contra todas as grandes potências da terra que promovem um modelo de desenvolvimento que ameaça a vida em nosso planeta. Diante disso, Bolsonaro encarna o principal inimigo do clima, da vida e dos territórios”, afirmou o grupo em seus perfis em redes sociais, que divulgou um vídeo do momento da depredação.

A frase “Fora Bolsonaro” também foi pichada no edifício. A BBC News Brasil tentou entrar em contato com a prefeita da cidade, mas não conseguiu contato. A reportagem também não conseguiu contato com membros do grupo RiseUp4ClimateJustice (Levante pela Justiça Climática, em tradução livre).

A homenagem a Bolsonaro tem gerado fortes reações de grupos de esquerda e representantes da Igreja Católica desde que foi anunciada pela prefeita Alessandra Buoso e aprovada pela Câmara Municipal. Buoso integra o partido de direita Liga, o mesmo do senador Matteo Salvini, aliado de Bolsonaro. A sigla defende há décadas o direito de descendentes de italianos à cidadania do país por laços sanguíneos.

Buoso afirmou que a homenagem não tem motivação política e disse a jornalistas não estar informada sobre as acusações contra o presidente na CPI da Covid. “Pensei nas pessoas do meu país que migraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à Presidência, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo”, disse a prefeita em entrevista à agência de notícias italiana Ansa.

Membros do RiseUp4ClimateJustice também picharam "Fora Bolsonaro" em ato contra o presidente
Membros do RiseUp4ClimateJustice também picharam “Fora Bolsonaro” em ato contra o presidente. Reprodução/Instagran

A concessão do título, que opositores da região tentam revogar, está ligada a um bisavô de Bolsonaro que nasceu no município e à visita do presidente à Itália, em razão da reunião do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) que vai até domingo (31/10).

Há protestos marcados por grupos de esquerda para este sábado (30/10) em Roma e para o dia da cerimônia em Anguillara Veneta, prevista para a segunda-feira (1º/11). O maior grupo antifascista da Itália, Anpi (Associazione Nazionale Partigiani d’Italia), está convocando protestos contra Bolsonaro em Anguillara Veneta.

“Não é preciso analisar muito a fundo para dizer que sua presença nesta cidade é indesejável; basta lembrar a gestão criminosa da pandemia realizada pelas autoridades brasileiras, a qual uma comissão parlamentar de inquérito solicitou que julgamento por crimes contra a humanidade”, afirma o grupo Centro Social da Ocupação Pedro, que também organiza o protesto.

As acusações da CPI da Covid contra o presidente, divulgadas no mesmo dia em que a homenagem a Bolsonaro foi oficializada, repercutiram muito na imprensa italiana, principalmente a acusação de crime contra humanidade. Menções à investigação do Senado brasileiro estão em todas as convocatórias de protestos contra o presidente. Bolsonaro nega qualquer irregularidade em sua gestão e costuma dizer ter feito o melhor possível pelo país durante a pandemia.

A homenagem também irritou representantes da Igreja Católica na região. A Diocese de Pádua divulgou um comunicado em que expõe “constrangimento” com a homenagem e a previsão de visita do presidente à basílica de Santo Antonio, em Pádua, que fica a quase 40km do vilarejo de cerca de 4.000 habitantes.

Grupos italianos de esquerda convocam protestos no vilarejo que decidiu homenagear Bolsonaro
Grupos italianos de esquerda convocam protestos no vilarejo que decidiu homenagear Bolsonaro. Reprodução

Segundo a imprensa italiana, Bolsonaro não será recebido oficialmente pelos líderes da igreja, como costuma ocorrer durante visitas de autoridades à região.

“Não é segredo que a concessão da cidadania honorária criou um forte constrangimento, ligado ao respeito pelo principal cargo no querido país brasileiro e as tantas e fortes vozes de sofrimento que sempre nos chegam, e não podemos ignorar, pois são gritadas por amigos, irmãos e irmãs”, diz o comunicado oficial da Diocese de Pádua. A BBC News Brasil procurou representantes da instituição, sem sucesso.

Italianos e brasileiros que apoiam o presidente também organizam atos pró-Bolsonaro em Roma e em Anguillara Veneta. Recebido por apoiadores em sua chegada à embaixada brasileira em Roma, onde ficará hospedado durante o G20, Bolsonaro afirmou: “Estou muito feliz e se Deus quiser visitarei meus ancestrais em Pádua”.

Foi em Anguillara Veneta que nasceu um dos bisavôs de Bolsonaro, Vittorio Bolzonaro, que emigrou para o Brasil em abril de 1888, aos dez anos, na companhia do pai, da mãe e de outros dois irmãos.

Maior grupo antifascista da Itália acusa Bolsonaro de racismo e homofobia em convocação para protesto
Maior grupo antifascista da Itália acusa Bolsonaro de racismo e homofobia em convocação para protesto. Reprodução

Angelo, o filho de Vittorio nascido no Brasil anos mais tarde, casou-se com uma brasileira descendente de alemães, e em 1927 o casal teve Percy Geraldo. Vinte e oito anos depois, nascia o terceiro dos seis filhos de Percy, Jair Messias Bolsonaro.

A grafia do sobrenome em italiano, Bolzonaro foi abrasileirada conforme a pronúncia do dialeto do Vêneto, que pronuncia o som do S no lugar do Z.

Os Bolzonaro estão espalhados, em sua maioria, entre Rovigo, cidade de 60 mil habitantes, Anguillara e San Martino di Venezze, distantes da primeira cerca de 15 km. Com o ambiente predominantemente rural – ainda se veem burros nos seus pastos, animal que se tornou raro na Europa nos últimos anos -, os dois municípios têm quase a mesma população (cerca de 4 mil habitantes).

*Com Giovanni Bello, da BBC News Brasil em Londres

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