Miguel Lucena*
Sempre que tomava o segundo uísque, Seu Juazeiro começava a cobrar os fregueses adiantado: “Dinheiro na frente!”, dizia ele, arfando. Para beber no Biritódromo, no bairro Santo Agostinho, perto do Centro Histórico de Salvador da Bahia, o freguês tinha de levar dinheiro trocado, para ir pagando as bebidas a cada pedido.
A imagem me vem à cabeça todas as vezes que alguém desdenha do dinheiro ou minimiza sua importância na vida do ser humano. A verdade é que ninguém vive sem ele, mesmo que seja pouco.
Criam-se discussões ideológicas sobre a vacina, mas, se for apurar direitinho, é capaz de alguém descobrir que existe uma guerra comercial por trás da pandemia e um monte de gente ganhando dinheiro com a morte alheia.
O amor é indispensável, mas ele se transforma em aborrecimento e raiva sem dinheiro para dar-lhe conforto: casa, comida, roupa, transporte, plano de saúde e educação.
Todas as iniciativas que visem ao bem-estar das pessoas mais necessitadas são bem-vindas e merecem o nosso apoio, mas sempre será o dinheiro à frente nas emendas parlamentares, nos salários dos colaboradores e nos contratos que sustentam a iniciativa.
Como dizia a mulher do letrado Ruy Barbosa, o qual não cobrava os honorários por achar vergonhoso falar de dinheiro e deixava a tarefa para a consorte: “O doutor também come”.
O fato é que ninguém me engabela mais com conversa de “tapioca mordeu beiju”, porque “quem cozinha com bafo é cuscuz”.