terça-feira, 23/09/25
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DIMENSTEIN, O AMIGO JUDEU NUMA REDAÇÃO ALUCINADA

 

*RENATO RIELLA

Gilberto Dimenstein morre – aos 63 anos.
Para alguns, é a perda precoce de um jornalista famoso, de São Paulo.

Para mim, é a perda de um grande profissional, que nasceu junto com a gente. Convivemos com ele, como irmãos, na década de 80, no Correio Braziliense, aqui em Brasília.

A princípio, Gilberto frequentava a nossa redação “emprestado”. Tímido, cumpridão, bem vestido. Bonitão!

Trabalhava numa revista do velho judeu Macksoud, riquíssimo, que de vez em quando mandava Gilberto a Brasília para entrevistar alguém. E o jovem jornalista nos pediu humildemente para usar uma máquina de escrever e depois um telex, para passar matérias.

O diretor de redação era Ronaldo Junqueira, recentemente falecido. Mas o comando estava, na verdade, nas mãos de Fernando Lemos (já falecido) e comigo.

Adotamos o meio estranho judeu, que parecia competente. Um dia, fizemos a ele uma proposta: “Largue tudo e venha trabalhar no Correio”.

Topou! A princípio, alojamos ele no Hotel St. Paul, onde tínhamos permuta, até que pudesse alugar apartamento.

Vivia solitário, quase sem conhecer ninguém no DF. Domingo de manhã, algumas vezes, comprava o Estadão e ia para minha casa, lendo calmamente a enorme edição à beira da piscina. Mas fugia antes do almoço, para não dar trabalho. Era muito educado.

Em pouco tempo, se tornou ótimo repórter de política e de Palácio do Planalto. Acabou casando-se em Brasília, onde montou uma ONG voltada para crianças.

Um dia, resolveu ir embora, de volta a São Paulo, mas nas vezes em que nos encontramos demonstrou verdadeiro amor. Grande amigo.

Lembro dele como o mais autêntico judeu com quem convivi: de usar aquele chapeu chamado de quipá.

Agora foi embora, levado por um câncer de pâncreas, que não escondeu de ninguém. Fica na história do jornalismo como um cara legal – o que é mais importante do que tudo.

Junto com outros colegas, sinto saudades de um ser humano muito discreto, que aceitou conviver na redação mais maluca e mais barulhenta do mundo. Ele apenas ria. Apenas curtia intimamente nossa alegria.

Que o Deus universal proteja Gilberto Dimenstein.
(Artigo encomendado por Magno Martins e publicado no Blog do Magno)

 

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