Dados são do Monitor da Violência, projeto do g1 com dados oficiais de todas as unidades da federação. No ano passado, capital teve 325 assassinatos, contra 409 de 2020.
Marca de tiro por arma de fogo em janela — Foto: ABR
O Distrito Federal registrou queda de 20,5% nas mortes violentas em 2021, na comparação com 2020. É o que apontam os dados do Monitor da Violência, projeto do g1 com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que reúne informações oficiais de todas as unidades da federação.
Segundo o levantamento, em 2021, a capital federal teve 325 assassinatos, contra 409 no ano anterior. A redução no DF é a terceira maior no país, atrás apenas do Acre, que teve queda de 38%, e de Sergipe, com decréscimo de 26,1%.
As lesões corporais seguidas de morte foram o único tipo de crime com aumento, e passaram de 5 para 19, com alta de 280%.
A maioria dos casos no ano passado foi de homicídio doloso, com 302 e queda de 19% em relação a 2020. Os latrocínios também tiveram redução na capital. Veja no quadro abaixo:
Dados sobre mortes violentas no DF
Tipo de crime | 2020 | 2021 | Variação entre anos |
Homicídio | 373 | 302 | -19% |
Latrocínio | 31 | 19 | -38,7% |
Lesão corporal seguida de morte | 5 | 19 | 280% |
Fonte: Monitor da Violência
Entre casos de assassinatos marcantes registrados no ano passado, está a chacina de quatro pessoas da mesma família pelo criminoso Lázaro Barbosa, que deixou um rastro de medo em uma perseguição ao longo de 20 dias no DF e no Entorno.
Cláudio Vidal, Cleonice Marques, Gustavo Vidal e Carlos Eduardo Vidal foram mortos por Lázaro Barbosa — Foto: Arquivo pessoal
Outro caso de repercussão foi o assassinato do jovem Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, de 16 anos, morto por criminosos que queriam roubar o celular dele, em Ceilândia. O crime ocorreu no dia 22 de setembro de 2021.
Geoffrey Nascimento foi morto com um tiro no peito durante latrocínio em Ceilândia, no DF — Foto: Reprodução
Dados do país
Segundo os dados do Monitor da Violência, o número de assassinatos no Brasil caiu 7% em 2021 na comparação com o ano anterior.
Em todo o ano passado, foram registradas 41,1 mil mortes violentas intencionais no país – 3 mil a menos que em 2020. É o menor número de toda a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que coleta os dados desde 2007.
A única região que teve alta nas mortes violentas foi o Norte. Os estados de Amapá, Amazonas, Roraima e Rondônia estão entre os que tiveram os maiores aumentos em crimes desse tipo. O Amazonas lidera, com crescimento de 54,2% entre 2020 e 2021.
Motivos da queda
Especialistas do Núcleo de Estudos da Violência da USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública elencam alguns pontos para explicar os números no país:
- Profissionalização do mercado de drogas brasileiro: “Mercados criminosos equilibrados, com competidores que aprenderam a conviver entre si ou que descobriram formas de regulamentar a relação entre eles, tendem a reduzir o total de conflitos fatais. (…) A existência de regras e a criação de uma ampla rede de parceiros, que se expandiu com os contatos com criminosos de outros estados feitos nos presídios federais, ajudaram (o PCC) a se tornar um importante distribuidor de drogas e de armas para quadrilhas de outros estados, transformando o mercado de drogas brasileiro, que passou a replicar o modelo criminoso paulista, se organizando a partir dos presídios estaduais”, diz Bruno Paes Manso, do NEV-USP.
- Maior controle e influência dos governos sobre os criminosos: “O próprio modelo de negócio criado por esses grupos tornou as lideranças das diversas gangues prisionais mais vulneráveis e sujeitas a pressões dos governos. Como parte delas estava presa, suas ordens dadas de dentro do sistema penitenciário para os territórios estavam sendo mais vigiadas e acompanhadas pelas autoridades. Os governos e sistemas de justiça estaduais vinham acumulando e trocando informações que permitiram agir para reduzir os conflitos e punir as lideranças mais truculentas dentro das prisões, que foram levadas a exercer um comando mais diplomático, racional e lucrativo”, diz Bruno.
- Apaziguamento de conflitos entre facções: “Entre 2016 e 2017 vivemos uma guerra entre dois grupos criminosos, o PCC e o Comando Vermelho, e essa guerra se alastrou por todo o país, especialmente em estados do Norte e Nordeste. A gente tem um apaziguamento desse conflito em alguns territórios e, em outro, tem um certo monopólio de algum grupo. Quando um grupo único vai se consolidando no território, tende a reduzir o conflito”, diz Samira Bueno, do FBSP.
- Criação de programas de focalização e outras políticas públicas: “Várias unidades da federação adotaram, ao longo dos anos 2000 e 2010, programas de redução de homicídios pautados na focalização de ações nos territórios. O Pacto Pela Vida, em Pernambuco, o Estado Presente, no Espírito Santo, e o Ceará Pacífico, no Ceará, são exemplos de projetos que buscaram integrar ações policiais e medidas de caráter preventivo. Ao longo dos anos, muitos governadores titubearam na manutenção de tais iniciativas, mas houve um aprendizado organizacional das forças de segurança que mostra que, quando existe planejamento, integração e metas, os macros objetivos são mais rapidamente alcançados”, afirmam Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do FBSP. Os especialistas também citam outras políticas públicas que estão sendo desenvolvidas pelas unidades da federação, focadas na integração das forças policiais com o fortalecimento dos mecanismos de inteligência e investigação.
- Redução do número de jovens na população: “Tem a ver com as mudanças demográficas, algo que a gente já vem apontando há alguns anos no Atlas da Violência, que é a reduçao do número de jovens na populacão. É sabido que a maior parte da violência letal atinge jovens do sexo masculino. E o Brasil esta diante de uma grande mudança demográfica”, afirma Samira.
- Criação do SUSP e mudanças nas regras de repasses: “Em 2018, o governo federal conseguiu aprovar, depois de tramitar por 14 anos, a lei que criou o Sistema Único de Segurança Pública, responsável por regulamentar a Constituição de 1988 no que diz respeito à integração e eficiências das instituições de segurança pública. Ainda em 2018, (…) houve uma mudança nas regras de repasse de recursos arrecadados pelas Loterias da Caixa que, na prática, fez com que cerca de 80% de todo o dinheiro da segurança repassado para estados e Distrito Federal de 2019 a 2021 tenha as loterias como origem e, com isso, novos recursos puderam ser destinados à área”, dizem Samira e Renato.