Com taxa de reprodução do vírus em 1,3, boletim divulgado pela Codeplan aponta que total de infectados pelo novo coronavírus, na capital, pode chegar a 313,4 mil. Hoje, plano de vacinação distrital será apresentado
Em meio à indefinição quanto à estratégia de vacinação dos brasilienses contra a covid-19, o recrudescimento da pandemia do novo coronavírus se intensifica. Uma projeção da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), publicada ontem, aponta que, se o contágio continuar subindo no ritmo atual, na próxima semana, o DF deve testemunhar um aumento de 30% no número de infectados.
Desde meados de novembro, a taxa de reprodução do vírus R(t) na capital federal é 1,3. Assim, 100 infectados podem passar a doença para 130 pessoas em uma semana, o que elevará o número de ocorrências para 313,4 mil. Segundo o último boletim epidemiológico, divulgado ontem, pela Secretaria de Saúde, o DF resgistrou 899 casos e 16 mortes em 24 horas. A capital soma 242.299 infecções e 4.123 óbitos em decorrência da covid-19. Dos pacientes, 231.071 são considerados recuperados.
“A situação em Brasília está ruim desde sempre, mas, agora, está pior”, alerta o coordenador do observatório PrepEpidemia da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Ângelo Resende. Ele ressalta que a progressão da pandemia surpreendeu os pesquisadores. “Além de termos um alto número de óbitos, muita gente foi infectada, e já deveria ter uma imunidade de grupo, o R(t) deveria estar abaixo de 1. Esse aumento é muito alto”, avalia.
Resende pondera que não houve mudança significativa no contato entre as pessoas que justificasse essa aceleração, ainda que haja um afrouxamento no distanciamento social. No entanto, ele levanta duas hipóteses: “O que me preocupa é que podem ser casos de reinfecção por perda de imunidade ou uma mutação mais infecciosa do vírus”.
A analista de contratos Renata Franca, 34 anos, está entre os que tiveram o diagnóstico da doença. “Fiquei em isolamento em casa com meus filhos e meu marido, pois a família toda contraiu a covid-19. Não saímos para nada e pedíamos para deixarem comida na porta de casa”, lembra. Após a recuperação, ela e a família seguem cumprindo as medidas sanitárias. “Fico triste de ver as pessoas não se cuidando. Tenho muito medo de ter uma reinfecção. Acredito que, se todos fizessem a sua parte, estaríamos com a devida proteção. As pessoas só precisam se conscientizar”, protesta Renata.
O boletim da Codeplan mostra que o agravamento da pandemia era notado desde novembro: até o dia 13 do mês passado, 5,7 mil novos casos foram registrados. No mesmo intervalo em dezembro, foram 9,9 mil: 72,5% a mais, o que aumenta a pressão sobre o sistema de saúde. Nessa quinta-feira, 67,57% dos leitos públicos com equipamentos de ventilação mecânica para tratamento de pacientes com covid-19 estavam ocupados.
Segundo Paulo Resende, é possível vislumbrar o início de uma segunda onda da covid-19, que não deve ser tão intensa quanto a primeira, pois estima-se que quase 30% da população contraiu a doença, mas o estrago pode ser grande. “O que a gente defende é a inteligência epidemiológica. Hoje, as medidas não são intensas, são generalizadas e o controle é pequeno. Deveria ser mais intenso e focado, fazer busca ativa e detectar as pessoas infectadas e isolar os contatos”, argumenta.
Distanciamento
Apesar de o avanço da pandemia, as aglomerações e festas clandestinas são frequentes no DF, o que contribui para o aumento das transmissões. Segundo levantamento da InLoco, nesta quarta-feira, 36,9% dos moradores da capital respeitavam a recomendação de isolamento, ficando em casa. A empresa utiliza dados de localização de celulares para identificar os deslocamentos.
O índice aproxima-se da menor taxa registrada, no DF, desde o início da crise sanitária. Em 11 de março, quando foi decretada a suspensão das aulas presenciais nas escolas, 27,7% dos brasilienses cumpriam o distanciamento. À época, a capital tinha dois casos confirmados da covid-19. No último fim de semana, os fiscais do DF Legal interditaram 78 estabelecimentos comerciais que descumpriram as normas sanitárias.
Vacinação
Nas últimas semanas, as vacinas da Pfizer/Biontech começaram a ser aplicadas nos moradores do Reino Unido e dos Estados Unidos, gerando grande expectativa em todo o mundo. Enquanto isso, no Brasil, o governo federal apresentou, quarta-feira, o plano de vacinação de abrangência nacional, depois de uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Por aqui, a Secretaria de Saúde vinha alegando que seguiria a orientação da estratégia federal para planejar a campanha de vacinação, que não tem data para começar, uma vez que nenhuma vacina teve o registro aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Diante disso, na semana passada, a Câmara Legislativa (CLDF) aprovou um projeto de lei que estipula o período de 30 dias para a apresentação do plano de vacinação distrital. O prazo começou na segunda-feira, quando o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou o texto. Segundo a presidente do Conselho de Saúde do DF, Jeovânia Rodrigues, a previsão é de que o plano de vacinação da capital federal seja divulgado hoje.
Ontem, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) encaminhou um ofício à pasta cobrando detalhes sobre o planejamento: desde o cronograma até esquemas logísticos, como a compra de insumos para a imunização (seringa e agulhas). No mesmo dia, o Ministério Público de Contas (MPC-DF) enviou ao Tribunal de Contas (TCDF) uma representação recomendando ao órgão que fiscalize a elaboração do plano de vacinação do DF. Se a estratégia fracassar, o Ministério Público pede a reprovação das contas dos gestores públicos responsáveis pela medida e multa.
*Com CB