Vendas durante a data devem crescer em relação ao ano passado. Expectativa é de que transações injetem, ao menos, R$ 150 milhões no DF. Especialistas alertam os consumidores sobre golpes
O setor produtivo do Distrito Federal está animado para a Black Friday, marcada para 26 de novembro. A expectativa com a data, originalmente estadunidense, se deve à esperança que comerciantes estão depositando no aumento das transações durante o período. A previsão do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista) é de que as vendas cresçam entre 12% e 15%, frente à amarga queda de 2% percebida pelo segmento em 2020. Pelo menos, R$ 150 milhões serão injetados na economia do DF. “Lojas de confecções, calçados e objetos para o lar devem ser os estabelecimentos mais movimentados. Os cartões de crédito e de débito podem responder por 52% do faturamento do comércio”, prevê o vice-presidente da entidade, Sebastião Abritta.
A gerente da loja Casa Decorações, em Taguatinga Norte, Raimunda Saraiva Dantas, conta que o local ainda não deu início à campanha para a Black Friday. “Estamos esperando para fazer (as promoções), porque as pessoas não começam a comprar muito antes. O certo é começar no dia, com descontos reais. A maioria das lojas aumenta o preço antes para, depois, fazer uma promoção de mentira”, observa a lojista. A expectativa da gerente para as vendas durante a data está boa. “Vamos ter descontos especiais, de até 50% para os tapetes e as capas de almofadas, e 20% para as cortinas. Pretendo vender, pelo menos, 30% a mais do que no ano passado. Com a inflação alta do jeito que está, a gente coloca o pé no chão. Muita gente está com restrições para gastar”, pondera.
Gerente de uma loja Havaianas, no shopping Conjunto Nacional, Daniel Cruz tem altas expectativas para a Black Friday deste ano. “Espero que seja melhor (do que a do ano passado) e que consiga suprir as perdas que tivemos em 2020”, espera o gerente. No estabelecimento, os descontos da data estão ativos desde 11 de novembro. Daniel aguarda o fim do mês para turbinar as promoções. “Estamos esperando os últimos dias de novembro para colocar todos os nossos produtos no foco”, adianta. A loja pretende faturar, pelo menos, 10% a mais do que em 2020. “Estamos com descontos de 30% a 70%. Temos kits montados com produtos que não são só chinelos, e trabalhamos com marketing forte e exposições na vitrine”, descreve Daniel, acrescentando que os clientes preferem pagar com cartões de crédito. “É muito difícil usarem dinheiro”, completa.
Cuidados
Economista e coordenador do curso de economia do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida destaca o limite que a natureza de alguns itens impõe a grandes descontos. “O consumidor precisa entender que muitos produtos não têm condições de estar em promoção, devido à pouca oferta e à muita demanda, o que faz com que não valha a pena o empresário abaixar o preço. Os descontos em passagens aéreas, por exemplo, costumam ser poucos, porque não cabem tantas pessoas em um avião”, observa o especialista.
A estudante Ana Carolina Lima Tunes, 22 anos, está de olho, justamente, nas passagens. A moradora da Asa Sul pretende comprar bilhetes aéreos para o réveillon. “Confesso que não sei (quanto), mas não quero gastar muito, tendo em vista que é Black Friday”, conta Ana Carolina. “Estou na expectativa de bons descontos, mas espero gastar R$ 300 em passagem aérea para o Ano-Novo”, confessa a estudante, que costuma comprar livros, maquiagens e outros produtos de beleza na data.
Marcelo de Souza do Nascimento, diretor-geral do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF), afirma que não é esperado aumento no número de reclamações durante a Black Friday de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado. “Parece ter havido um amadurecimento dos fornecedores na comercialização de bens e serviços. Ainda existem casos de desrespeito ao consumidor, casos de publicidade enganosa e, até mesmo, o aumento de fraudes no período. Mas, no geral, percebemos que o cenário está mais pacificado”, ressalta o diretor-geral.
O comerciante Igor Santos, 25 anos, fica atento para as compras durante a data para não se ver em uma cilada. “Nunca fui vítima de falsas promoções, mas precisamos analisar os preços. Se não formos críticos, podemos cair em falsas promoções, sim. Somos seduzidos pelo preço, mas muitas vezes tem armadilhas no valor”, argumenta o morador do Guará. O rapaz prefere guardar dinheiro para adquirir o que deseja na Black Friday. “Mas, até economizando está difícil de comprar, a realidade é essa. Infelizmente, está tudo muito caro. É preciso sambar para ter alguma coisa”, lamenta Igor.
Atenção
O comércio eletrônico costuma ser atrativo para os consumidores e organiza promoções para a Black Friday. Riezo Almeida alerta para a segurança de portais e perfis de venda. “É preciso checar se o site é seguro. Não é recomendado que a pessoa clique em links enviados por mensagens, inclusive de texto, nem forneça dados digitais. É interessante também usar antivírus no celular e no computador, para evitar links maliciosos”, detalha o economista.
Vista por alguns usuários como facilitadora, a opção de deixar senhas gravadas em portais pode não ser uma boa escolha. “Não é recomendável. É preciso desabilitar o salvamento automático”, orienta Riezo. Outra dica dada diz respeito ao método de pagamento. Segundo o professor, é mais seguro realizar transações virtuais com cartões de crédito. “Há mais garantia. Se a pessoa pagar via boleto ou PIX, pode não conseguir estornar o valor posteriormente”, frisa.
Diego Armando Nunes, advogado membro da Comissão de Direito do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional do DF, orienta os clientes a buscar o endereço comercial válido do estabelecimento e checar se a loja possui CNPJ ativo. “Essa pesquisa pode ser feita no site da Receita Federal”, indica. Segundo o advogado, a principal reclamação dos consumidores na Black Friday é a falta de promoções reais. “As pesquisas demonstram que o consumidor se divide. Uma primeira corrente tem pouca confiança na data e acredita que o anúncio de preços mais atrativos não é real, enquanto outra parcela acredita, de fato, que existem melhores preços praticados”, descreve Diego.
Em caso de problemas, o especialista orienta os clientes a procurarem a operadora do cartão e realizar a contestação da compra. “Posteriormente, recomenda-se tentar resolver administrativamente e fazer uso da plataforma do consumidor.gov.br e tentar resolver amigavelmente. Em último caso, buscar auxílio no Judiciário”, completa o advogado. Para as compras fora do estabelecimento, ou seja, realizadas pela internet, o consumidor possui direito de arrependimento e pode devolver a mercadoria até sete dias após o recebimento. “Sem qualquer ônus, recebendo a devolução integral do dinheiro”, salienta Diego, citando o Código de Defesa do Consumidor.
Segundo Marcelo Nascimento, diretor-geral do Procon-DF, as queixas mais frequentes nas lojas físicas incluem o não cumprimento da oferta publicitária, problemas com trocas de produtos e em relação a valores. O diretor aponta que nos estabelecimentos virtuais, as reclamações são por atrasos na entrega e não entrega de produtos, além de fraudes e dificuldades no atendimento. De acordo com Marcelo, os segmentos que lideram as queixas de consumidores são as lojas de varejo, de produtos eletrônicos e de vestuário.
Três perguntas para
Dário Freitas, delegado de polícia da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC)
Dário Freitas, delegado de polícia da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC)
O número de golpes
aumenta em datas como a Black Friday?
Os crimes virtuais ocorrem durante o ano todo, mas, com certeza, se intensificam em datas comemorativas, utilizadas por cibercriminosos para obtenção de mais vítimas em golpes digitais, porque, nessas datas, há o aumento das vendas on-line. Normalmente, os golpistas utilizam de uma engenharia social em que se solicita às vítimas informações aparentemente simples, como dados pessoais ou até mesmo bancárias. Noutras, há o pedido de compartilhamento de link malicioso para um número mínimo de contatos do WhatsApp para garantir o recebimento do “brinde” da empresa.
O que fazer em caso de
golpe virtual?
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) está aberta à população e disponibiliza canais de denúncia no caso de ocorrência de crimes virtuais, que podem ser feitas pelo número 197 ou pela delegacia eletrônica. A corporação tem registrado, em média, 50 crimes praticados pela internet por dia.
É possível identificar
os responsáveis?
É uma investigação extremamente técnica. Mas, como é sabido, o crime digital também deixa rastros. Dessa forma, o meio digital possibilita a identificação de provas e, por intermédio de uma investigação, é possível se chegar ao verdadeiro autor do fato. Por meio de links maliciosos é possível obter arquivos, dados pessoais e financeiros dos usuários. Em alguns golpes, também é conseguimos verificar o direcionamento para páginas com publicidade excessiva.
Projeção
R$ 150 milhões
Expectativa de vendas no DF
De 12% a 15%
Estimativa de aumento nas vendas em comparação com 2020
52%
Transações feitas com cartão de créditoprevista
Fonte: CB*