As instituições de ensino da rede particular do Distrito Federal estudam antecipar o recesso do meio do ano dos estudantes, assim como na rede pública, em função da pandemia de coronavírus.
A medida visa adequação ao mais recente decreto do governo local (GDF), publicado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) neste sábado (14/03), que antecipa as férias e suspende as aulas por 15 dias corridos.
Com a publicação do decreto neste sábado, o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF) divulgou vídeo para responder a questionamentos sobre a situação das unidades de ensino.
Segundo Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sinproep, embora a legislação deixe claro que cada escola tem autonomia para elaborar o próprio calendário, “provavelmente, na rede particular, o recesso também será antecipado”.
Ainda segundo o dirigente, haverá, na segunda-feira (16/03), reunião com os dois sindicatos patronais para discutir um aditivo à convenção coletiva para que possibilite a antecipação do recesso.
“A tendência é que a gente siga a orientação do decreto. Vamos tentar convencer o sindicato patronal a unificar o período de recesso para todas as escolas. Além da reunião de segunda, na próxima terça, o Conselho de Educação deve discutir como fica a questão do calendário das escolas”, acrescentou o dirigente.
O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) confirmou que se reunirá na segunda-feira (16/03) para determinar como será a orientação às unidades escolares da rede privada.
“Tão logo tenhamos a orientação, avisaremos aos pais e responsáveis e também divulgaremos em nossas redes”, disse o presidente da entidade, Álvaro Domingues, por meio de nota.
Novo decreto
Neste sábado, o GDF elaborou decreto antecipando o recesso das férias escolares do mês de julho na rede pública, que terá início a partir desta segunda-feira (16/03). A medida faz parte do enfrentamento ao novo coronavírus.
De acordo com o texto, o recesso terá duração máxima de 15 dias corridos, independente de dias de recesso constante no calendário escolar da unidade de ensino.
Os ajustes necessários para o cumprimento do calendário escolar serão estabelecidos pela Secretaria de Estado de Educação, após o retorno das aulas.
Ainda segundo o decreto, as unidades escolares da rede privada de ensino do DF poderão adotar a antecipação do recesso ou determinar a suspensão das aulas pelo período determinado, a critério de cada unidade.
O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro) comentou o decreto.
“Essa é uma decisão do governo e ele tem as informações precisas, que devem ser graves. Por outro lado, teremos que conversar sobre essa recomposição do calendário escolar, pois não foi uma situação criada pelos professores, e os mesmos não podem ser penalizados”, diz comunicado assinado por Samuel Fernandes, diretor da entidade.
Ainda segundo o dirigente, “o recesso no meio do ano é fundamental para evitar um adoecimento maior da categoria, que já trabalha muitas vezes em condições precárias com turmas superlotadas”.
Rio de Janeiro
O novo cronograma escolar seguirá os moldes do adotado pelo Governo do Rio de Janeiro. Nessa sexta (12/03), o governador Wilson Witzel (PSC) assinou decreto suspendendo por 15 dias todos os eventos públicos, incluindo cinema e teatro, e antecipando as férias escolares nas redes pública e privada do estado.
Witzel destacou que a suspensão de eventos públicos valerá, inclusive, para eventos já previamente autorizados. “A suspensão será para atividades que envolvam a aglomeração de pessoas, como eventos esportivos, shows, feiras, eventos científicos, comícios e passeatas em local aberto ou fechado”, disse.
Opiniões divididas
Nesta semana, o Metrópoles mostrou que a decisão do GDF em suspender as aulas, inicialmente por cinco dias, não agradou a todos os pais e estudantes. Na Faculdade Unip, na 914 Sul, o universitário do 6° semestre de educação física Marcos Barbosa, 23 anos, foi à faculdade para se certificar de que não haveria aula na quinta-feira.
“Eu até recebi informações nas redes sociais, mas vim para ter certeza e me deparei com o comunicado na grade. Acredito que seja uma medida necessária e preventiva contra o coronavírus. Por isso, estou de acordo.”
O servidor público Ismael Soares, 45, foi levar a filha Clarisse Cunha, 10, aluna do 5° ano, ao colégio La Salle da 906 Sul, na manhã de quinta-feira.
“Ficamos estudando ontem a noite para uma prova que ela iria fazer hoje e não olhei as redes sociais nem acessei meu e-mail, mas a escola mandou o comunicado. Acredito que paralisar as escolas seja válido pela gravidade e velocidade com que a doença se propaga. Apesar de deixar a gente mais apreensivo, é para o bem. Esperamos que seja efetivo.”
No Centro de Ensino Fundamental 1 do Riacho Fundo II, Sharon de Lima, aluna do 6° ano, disse que não foi avisada pelos professores do cancelamento e, por isso, chegou ao colégio. “Agora, vou voltar para casa e descansar de novo”, conta. Avisada de que o coronavírus era o motivo dos cancelamentos, ela discordou da decisão. “Não precisava disso, era melhor ter aula mesmo”, diz.
Na Escola Classe 102 do Recanto das Emas, alguns responsáveis fizeram questão de confirmar o cancelamento das aulas. O aposentado José Paulo dos Santos, 52, por exemplo, acompanhou os netos. “Há muita especulação, né? E esses meninos passam o dia todo vendo desenho, não consegui confirmar”, brinca.
Outro avô que acompanhou o neto para confirmar a suspensão das aulas foi José Ramos, 71, com Pietro, 9. Segundo ele, a família ficou sabendo da situação, mas achou melhor ir presencialmente até o colégio. “Vimos que não vai ter a escola de futebol do garoto, então, o jeito é ficar quieto”, diz.
O aposentado não vê necessidade de as aulas serem canceladas por causa do coronavírus, mas espera que a medida seja suficiente para evitar o contágio de outras pessoas. “No momento, acho que não seria preciso, mas não sou eu quem julgo”. Quem comemora é Pietro, que poderá voltar para cara e descansar. “Estou achando uma beleza”, diz.
Portas fechadas na quinta
Na 912 Sul, o colégio Santo Antônio amanheceu a quinta de portas fechadas. Ao lado, no Sigma, por volta das 6h40, também não havia movimentação de pais e alunos.
Dois funcionários que estavam na entrada da instituição disseram não ter sido avisados sobre a suspensão das atividades. “Como as aulas começam pontualmente às 7h, a essa hora já teríamos bastante movimento. Hoje, está praticamente zero”, explicou um deles.
Aluna do 2° ano do ensino médio do Sigma, Amanda Martins disse que não olhou as redes sociais antes de chegar ao local e não sabia sobre o decreto. “Quando liguei meu celular e entrei no grupo da turma, o pessoal estava comentando. Agora, só terça-feira. Estou voltando pra casa”, consolou-se.
O Olimpo também amanheceu vazio e sem alunos. Apenas um funcionário da unidade chegou para trabalhar na manhã desta quinta-feira (13/03) e disse que todos já estavam cientes sobre a determinação para as escolas.
Oito casos confirmados
O número de pessoas diagnosticadas com coronavírus na capital do país foi atualizado na tarde deste sábado (14/03). Há oito casos confirmados. A informação foi repassada à coluna Grande Angular pelo GDF.
Todos os infectados viajaram para o exterior antes de receber o diagnóstico. Ainda não se consolidou, na capital, a chamada transmissão comunitária, que é quando o vírus se espalha dentro do próprio ambiente.
Até a manhã deste sábado, o governo distrital havia confirmado cinco casos. Os dois primeiros infectados da capital do país são um casal que viajou para a Europa antes do diagnóstico. O terceiro é o vice-presidente de Embaixadas e Consulados do Flamengo, Maurício Gomes de Mattos.
Um homem de 51 anos, argentino, fez exames no Hospital Sírio Libanês e testou positivo para a doença. O outro paciente tem 46 anos e veio da França no início deste mês.
O DF é a unidade federativa que tem mais casos confirmados de coronavírus no Centro-Oeste, sendo oito no total. De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, até o momento, 53 casos foram descartados e 75 ainda estão em análise.