Miguezim de Princesa
I
O ministro Dias Tofolli,
Em tempo não muito antigo,
Telefonava pra mim,
Me chamava de amigo.
Depois que foi pro Supremo,
Nunca mais falou comigo.
II
Sei que durante uma semana,
Quando ele ia ser indicado,
Na imprensa nacional
Começou ser atacado,
Eu o defendi de graça
Em um bunker bem armado.
III
Depois que vira supremo,
Vicejam os bajuladores,
As hienas nas carcaças,
Sem se importar com os odores,
Qualquer mão o saco puxa,
Já diziam os cantadores.
IV
Os ministros, quando assumem,
Mudam o jeito de falar,
Ficam com o beiço virado,
Codificam o linguajar,
Mudam-se a outra galáxia
De outra estação lunar.
V
Viram os deuses do Olimpo,
Distantes do ser humano,
Esquecem que a morte iguala,
Não deixa nem o tutano.
Quando a indesejada vem,
De nada adianta o plano.
VI
Vejo agora Marco Aurélio,
De fala peculiar,
Que, em vez de dizer Mobral,
Pedante, ele diz “Mobrar”
E com a gente comum
Não aceita nem falar.
VII
Quando chegou o convite,
Que viu a assinatura
De um assessor de imprensa,
Ele sentiu uma tontura
E disse que era acinte
Do povo da “prefeithura!”.
VIII
– Onde é que já se viu
Uma pessoal normal,
Que faz cocô e se limpa,
Que ingere açúcar e sal,
Se dirigir a um ministro
Do Supremo Tribunal?
IX
– Devolverei o convite
Que a mim foi endereçado:
Como ministro supremo
Da estrutura do Estado,
Só aceito cumprimento
De barão assinalado.
X
Nesse dia tinham servido
Desses queijos com bolor
Que vêm lá do estrangeiro,
Um ministro sentiu dor,
Correu para um toalete
Que fica no corredor,
Só se ouviam os gemidos:
– Ai, meu Jisus, por favor!;
Irapuan ia passando
E ouviu aquele estertor:
– Pensei que ele não cagasse
Nem fosse tanto o fedor!